O ministro da Economia, Paulo Guedes, indicou nesta quarta-feira (27) que deixará o governo caso a reforma da Previdência não seja aprovada. Em sessão da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, Guedes disse que não tem apego ao cargo e que aceitou o convite de comandar a economia por acreditar que o presidente Jair Bolsonaro apoiará suas ideias e que os Poderes irão "fazer o seu trabalho".
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— Se o presidente apoiar as coisas que eu acho que podem resolver o Brasil, eu estarei aqui. Agora, se o presidente ou a Câmara, ou ninguém quer aquilo? Eu vou obstaculizar a vida dos senhores? De forma alguma, eu voltarei para onde sempre estive — afirmou.
A resposta veio após questionamentos dos senadores sobre o projeto de reforma da Previdência e de outras medidas na área econômica.
Em sua explanação, Guedes argumentou, como já vinha fazendo em outros discursos, que as mudanças no sistema previdenciário são imprescindíveis para o equilíbrio econômico do país. O ministro ponderou que não deixaria o governo "na primeira derrota", mas que não quer ficar a qualquer custo.
— Suponhamos que os poderes aprovam que a União deve R$ 800 bilhões, que não tenha reforma previdenciária, não tenha nada disso, vou ficar fazendo o que aqui? Só se for para apagar incêndio — frisou.
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O ministro disse ainda que o Congresso tem autonomia para avaliar o texto da Previdência, mas que é importante manter um impacto econômico suficiente para aliviar o rombo na contas.
Nos últimos dias, parlamentares apresentaram propostas de mudanças no projeto como condição para apoiara reforma. Entre os pontos, está a retirada do texto de trabalhadores rurais e aposentados de baixa renda, que recebem o Beneficio de Prestação Continuada (BPC). O próprio presidente Bolsonaro também defendeu a redução da idade minima de mulheres para aposentadorias.
Guedes compareceu à CAE nesta quarta para falar sobre a reforma da Previdência, do projeto que estuda para mudanças no pacto federativo, de Lei Kandir e outros assuntos na área. A participação ocorre um dia depois do ministro desistir de comparecer à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, onde tramita a reforma.
Senador do PSL reclama da articulação do governo
Ao questionar Guedes sobre detalhes da reforma, o senador Major Olímpio (PSL-SP), uma das principais vozes do governo no Congresso, reclamou da articulação da equipe de Bolsonaro em torno do tema.
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— Estamos com 90 dias de governo, nós nunca tivemos uma reunião, uma nota técnica e a gente carece de informações aqui para fazer esta sustentação — disse.
Guedes concordou que há problemas na articulação política.
— Acho que tem havido uma falha dramática. É um governo que está trabalhando, que está tentando acertar, mas quando parte para o Congresso o principal opositor é ele mesmo?
O ministro também justificou a desistência de ir à CCJ da Câmara, na terça (26), onde a reforma está parada diante de divergências entre parlamentares da base governista.
— Ontem (terça-feira) eu tomei um susto porque o aviso que eu tinha era: olha, você foi convocado para ir em um lugar onde não tem nem relator (para a reforma) e já tá todo mundo preparado para atirar pedra, e o seu partido (PSL) vai atirar pedra também porque eles estão contra — relatou.
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Guedes admitiu que imaginava que a esta altura o PSL, partido de Bolsonaro, e o DEM, que possui ministérios no governo, já teriam fechado questão com apoio unânime ao texto.
*Por Matheus Schuch