Há dois anos, o empresário João Colombo, o Kiko, decidiu avisar alguns conhecidos que compraria fogos de artifício e os soltaria de bateiras na Baía da Babitonga na noite de 31 de dezembro. Também chamaria dois músicos para tocarem perto do Parque Porta do Mar. Era uma forma de animar uma área do bairro Espinheiros que ficava quase às escuras na hora da virada do ano — a exceção era a festa do Barco Príncipe, que promove um show pirotécnico para seus passageiros.
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Apesar de ter uma petisqueira perto da Baía da Babitonga, Kiko não tinha intenção de abrir o restaurante e lucrar com a festa. A expectativa era que 300 pessoas aparecessem, no máximo. Mas, às 23h59 de 31 de janeiro de 2015, cerca de 3 mil pessoas aguardavam, ansiosas, para gritar “feliz Ano-novo”.
— Eu fiquei com o coração na mão. Não tinha me preparado para tanta gente e, se acontecesse alguma coisa, era minha a responsabilidade — conta Kiko.
No ano passado, diante do sucesso da primeira edição do Réveillon promovido “sem compromisso” no bairro Espinheiros, ele decidiu se prevenir. Fez um ofício para solicitar colaboração da Polícia Militar, que enviou duas viaturas para ficarem à beira da Baía da Babitonga e garantir a segurança daquelas 3 mil pessoas que poderiam retornar à rua Antônio Gonçalves para assistir aos fogos de artifício de Kiko e às atrações musicais que ele convidou. Então, quase 30 mil pessoas apareceram.
— Muita gente passou a virada do ano dentro do carro, tentando chegar na festa. O engarrafamento seguia por todo o bairro e ia quase até a Tupy — lembra o empresário, referindo-se à fila de carros de 3,5 quilômetros que o evento provocou.
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Para 2017, a vontade de Kiko era promover tudo de novo: show pirotécnico, apresentações musicais e ver os joinvilenses celebrando o Ano-novo à beira da baía da Babitonga. Ele chegou a procurar a Prefeitura de Joinville em agosto para pedir apoio ao evento, mas, após três reuniões, não chegou a um acordo. Segundo o secretário de comunicação da Prefeitura, Marco Aurélio Braga, a repercussão da festa foi apresentada e gerou interesse, mas, após análise das possibilidades que o bairro oferece atualmente, foi detectado um sério problema de segurança para um evento deste porte, que exigiria logística a ser planejada com muito mais tempo, para garantir mais acessos e policiamento, além de equipamento para oferecer conforto aos participantes. Com isso, até Kiko ficou receoso de promovê-la.
— O Espinheiros só tem uma rua para entrada e saída. Se tranca tudo, como no ano passado, e acontece um acidente, não tem o que fazer. Se eu soltar fogos e eles atingirem alguém, a responsabilidade é minha. Mas, se eu colocar música e chamar as pessoas, vira um evento e qualquer coisa errada que acontecer cai em cima de mim — reflete o empresário.
Por isso, para este ano, os fogos não foram comprados e nada foi programado. Ele nem chegou a fazer divulgação do evento.
Mesmo assim, nas redes sociais, há a certeza de que o Réveillon no bairro Espinheiros está garantido. Em uma página do Facebook, “Espinheiros Beach Joinville”, uma postagem foi feita em 19 de dezembro questionando, em forma de enquete, quantas pessoas iriam à festa se ela acontecesse novamente.
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Na publicação, há a incerteza da fonte e da programação: “Dizem que esse ano vai ser melhor ainda, com banda tocando para o público e queima de fogos patrocinados por alguns empresários do bairro”. Até as 20 horas de quinta-feira, 28 de dezembro, 790 pessoas já haviam comentado no post, a maioria afirmando que compareceria e fazendo marcações para convidar outras pessoas, e 2,5 mil pessoas haviam reagido positivamente à publicação.
— Eu não sei quem fez essa página, só ouvi falar que haviam colocado essa pergunta lá. Não sei quem mais faria essa festa além de mim — conta ele.
“AN” tentou contato com o administrador da página, mas não obteve resposta até o fechamento desta edição.
Uma festa para Joinville
Historicamente, Joinville não tem grandes festas de Ano-novo e há um consenso geral de que os moradores que querem comemorar fora de casa vão às praias da região. Nos últimos dois anos, empresários começaram a sentir que, na realidade, há uma grande demanda de público para eventos em 31 de dezembro, e a oferecer opções em restaurantes e bares. Além de moradores de Joinville — a cidade tem cerca de 577 mil habitantes —, os empresários afirmam que há um número considerável de turistas que visitam a região e buscam lugares para a virada de ano em Joinville.
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Kiko concorda. Nos últimos anos, ele recebeu ligações de pessoas de cidades vizinhas, como São Bento do Sul e Jaraguá do Sul, e até de Curitiba (PR) perguntando sobre o Réveillon do Espinheiros. E espera que, em 2018, consiga programar o evento com tempo para que ele ofereça a estrutura e a segurança necessária. Em 2015 e 2016, por exemplo, os restaurantes do bairro não abriram e não havia opções de banheiro a não ser os três que ele disponibilizou em seu próprio restaurante.
O secretário de cultura e turismo de Joinville, Raulino Ebiteskoski, assume que Joinville tem uma carência na promoção de um grande evento de Ano-novo, apesar do público em potencial. Mas, segundo ele, a Prefeitura avaliou o pedido de apoio de Kiko e respondeu que não participaria do evento.
— Não há estrutura suficiente para um evento deste porte no Espinheiros. No futuro, com a proposta de transformar o local em uma Via Gastronômica e ela concluída, até podemos participar, mas, por enquanto, não há chances — afirma.
Segundo Raulino, a empresa que administra a Expoville em uma parceria público-privada também demonstrou interesse em promover uma festa de Ano-novo e já teria começado a buscar parcerias para que ela ocorra em 2018. Neste caso, afirma o secretário, a Prefeitura deve participar como apoiadora.
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