Com toalhas nos ombros, garrafas vazias e escovas de dentes em mãos, sob sol forte e gritos de protesto como “Fora Casan”, a comunidade do Carianos, Sul da Ilha, fechou no final da tarde deste domingo, 27, a Avenida Diomício Freitas por cerca de 15 minutos. O motivo da reclamação é a falta de água há quase seis dias, e que teria ocorrido por conta do rompimento de uma adutora no trecho da pista que está em obras, ainda no começo da semana. Para tentar sanar o problema, foi colocada uma tubulação provisória, que não aguentou a pressão e rompeu novamente.

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Desde sábado, a Casan envia caminhões pipa para abastecer as residências, mas não tem sido suficiente. O presidente da associação de moradores do bairro, Maicon Costa, coordena a distribuição, dando prioridade para casas com crianças, idosos e deficientes físicos.

Já a presidente do Conselho de Segurança do bairro, Jaqueline Bittencourt, explica que algumas pessoas têm ponteiras em casa ou já compraram água, e que estas estão cedendo a vez para os outros. Ainda assim, os vizinhos já chegaram a brigar quando avistaram o caminhão pelo direito de ter sua caixa cheia.

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Famílias sem Páscoa

A dona de casa Terezinha Pereira estava na sede da associação, no domingo, pouco antes do protesto começar, pedindo encarecidamente para que tentassem ajudá-la.

_ São quatro pessoas na minha casa, estava com visitas no feriado e elas não puderam ficar. Para tomar banho, estamos indo na casa da minha filha, no Campeche _ contou.

O Carianos tem cerca de 7 mil moradores e, como Dona Terezinha, existem muitas outras famílias na mesma situação. A aposentada Mônica Quimelli, 73 anos, é cadeirante e também sofre com o problema da falta de água. Por não conseguir varrer, ela lava o caminho da entrada de casa até o portão. Agora, a sujeira e as folhas se acumularam e dificultando a passagem de sua cadeira de rodas. Na casa ao lado da sua mora a filha, com um bebê recém-nascido.

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Renato Teles, morador do bairro e que estava trabalhando no abastecimento das casas com o caminhão pipa, também sofre as consequências da falta de água. A esposa tem um salão na região e não conseguiu trabalhar por dois dias.

E as torneiras secas atrapalharam até o almoço de Páscoa. Não foi difícil encontrar quem tenha optado por não cozinhar no feriado para não ter louça suja acumulada na pia.

— Meu bacalhau está congelado, porque não arrisquei fazer nada na cozinha, já que estamos sem água pra cozinhar e nem pra lavar louça — disse a empresária Louise B. Cardoso, que mora com o marido, a filha e o avô, de 90 anos. Eles estão indo tomar banho na casa de parentes para contornar a situação.

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A jornalista Grayce Rodrigues foi outra que optou por lasanha congelada no almoço de domingo e precisa sair de casa para fazer sua higiene pessoal.

— Estamos calculando a quantidade de água até para escovar os dentes. Se a água separada para os dentes sobrar, aí podemos lavar o rosto — disse ela, que está indo até o trabalho para tomar banho.

O que diz a Casan

Procurada pela reportagem, a assessoria de imprensa da Casan explicou que eles precisaram fazer uma obra emergencial na segunda-feira, dia 21, por causa do rompimento da adutora. Na quarta-feira, 23, a tubulação provisória havia sido instalada e o abastecimento normalizado.

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Na quinta-feira, 24, apesar de não haver registro de problemas no bairro, a empresa negociou com o presidente da associação o envio de caminhões pipa para abastecer as residências onde a água ainda não havia chegado até descobrirem a origem do problema.

No sábado, 26, foram alertados para o rompimento da tubulação provisória pelos próprios moradores, por uma das máquinas após a limpeza do valão, já que a tubulação está exposta. Ainda no sábado o conserto foi realizado, garante a Casan.

Às 3h de domingo houve um novo rompimento, mas, segundo a empresa, desde às 10h30min que o abastecimento estava normalizado. Porém, devido aos problemas já conhecidos da região, provavelmente só no final do dia todas as casas estariam com fluxo normal de água.

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A empresa explicou ainda que a tubulação provisória será trocada por uma definitiva, instalada sob o calçamento.