Após uma peça de ferro se soltar sobre a ponte Pedro Ivo Campos, que liga o continente à Ilha de Santa Catarina, em Florianópolis, o medo de que um colapso impeça o entra e sai da Ilha de Santa Catarina veio à tona. Esta calamidade, que ninguém quer que aconteça, é muito improvável.

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– Ela não vai cair de repente. As pontes aqui de Florianópolis são de um tipo de construção que dá muitos sinais antes de uma queda – disse em entrevista o engenheiro Roberto de Oliveira durante a semana.

Estes sinais estão aí, gritando para a necessidade de manutenção. Oliveira acompanhou a reportagem em uma visita às pontes e mostrou que o descuido de anos é visível. Ele explicou como funciona as etapas para a reforma das estruturas – são três procedimentos que não foram realizados.

Os problemas das pontes são, atualmente, reversíveis. Mas essa reversibilidade vai diminuindo com o passar do tempo. Aí ao invés de fazer a manutenção corretiva, será necessária uma reconstrução, como aconteceu com a Hercílio Luz. Mas tem uma coisa: a Ponte Hercílio Luz tinha uma estrutura muito boa e aguentou todos os desaforos possíveis, estas duas pontes aqui (Pedro Ivo e Colombo Salles), não aguentam. Se passarem uns 20 anos sem manutenção, elas podem sim cair." Roberto de Oliveira, engenheiro especialista em pontes

Na esteira dos acontecimentos da última semana, o secretário de Estado da Infraestrutura, Carlos Hassler, garantiu que a estrutura das pontes estão bem e garantiu que esta semana será assinada a ordem de serviço para o início das obras de manutenção.

A empresa que fará a reforma está definida há três anos, o que ainda está pendente é a definição de quem vai fiscalizar. Com a demora, as pontes foram se deteriorando.

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Confira seis problemas que existem por causa da falta de manutenção nas pontes de Florianópolis:

Estacas com pontos de ferrugem

Quando ficam a mostra, é possível ver que as estacas que sustentam as pontes estão cheias de pontos de ferrugem. De acordo com o engenheiro Roberto de Oliveira, esta ferrugem é perigosa, pois indica que estes pontos devem estar por toda a estrutura.

A resolução deste problema deve ser feita com a raspagem do que está enferrujado, com posterior aplicação de um convertedor de ferrugem, que revitaliza a estrutura metálica.

– Se estiver muito comido, é preciso dar um ponto de solda, raspar para ficar liso e poder pintar – explica o engenheiro. – A pintura serve como um revestimento e evita que a ferrugem volte.

É preciso fazer uma avaliação também das condições da parte que fica debaixo d’água, que Oliveira afirma não se saber em que estado se encontra.

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Placas nas juntas de dilatação

A placa de ferro que se soltou na quarta-feira foi o exemplo cabal do que pode ocorrer sem a manutenção constante da estrutura das pontes. As chapas dentadas servem para proteger e unificar o asfalto nos vãos existentes para a natural dilatação das estruturas da ponte Pedro Ivo. Os parafusos que as prendem nunca haviam sido trocados. Na vistoria realizada por engenheiros do Deinfra, da Secretaria de Infraestrutura e da Associação Catarinense de Engenheiros (ACE), foi constatado, inclusive, que outras placas estão com parafusos faltando.

A solução provisória para o incidente de quarta-feira teve efetividade, mas o procedimento não foi o correto, segundo engenheiro. Em vez de trocar as peças, os parafusos danificados foram soldados pela empresa que faz a reforma da Ponte Hercílio Luz.

Vãos sem proteção

Os vão que são cobertos pelas placas de ferro na Pedro Ivo servem para o movimento normal dos blocos que constroem a ponte. No caso da Colombo Salles, as juntas das estruturas de concreto também precisam ser protegidas. Estas pequenas lacunas prejudicam o tráfego, pois mesmo um pequeno desnível é sentido pelos motoristas e passageiros. E, mais grave, o atrito dos veículos nas bordas dos blocos causa desgaste e a deposição de detritos nos vãos é prejudicial para as pontes.

Falta a limpeza entre os blocos em ambas as pontes e, na Colombo Salles, os perfis emborrachados que protegiam os locais já não existem mais.

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Placas de concreto

As chamadas saias são placas de concreto que recobrem as estacas de sustentação das pontes. Têm função estética, mas também servem como proteção da parte superficial das bases.

Ao observar os “pés” da Pedro Ivo e da Colombo Salles, é possível ver que muitas destas saias estão quebradas.

Segundo o engenheiro Roberto de Oliveira, elas se deterioraram com o tempo e nunca foram repostas.

– Várias das colunas estão totalmente sem as saias, ou com elas banguelas. São evidências da falta de manutenção – explica o engenheiro.

A ausência das placas facilita que pescadores se arrisquem para coletar mariscos incrustados nas estacas que seguram as pontes.

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Passarelas

Atualmente, apenas uma passarela sob a ponte Pedro Ivo é aberta para a população. Nela, um corrimão de ferro foi instalado para aumentar a altura do parapeito, em 2012 após requerimento do Ministério Público. À época a iluminação foi trocada, mas a exigência de instalação de pisos guia para cegos nunca foi cumprida.

Há ainda uma passarela interditada abaixo da Colombo Salles. As condições do local são precárias, com partes em que muitos metros do parapeito já não existem mais. Caíram, causando riscos para embarcações que passam embaixo. É possível ver infiltrações vindas da pista e estruturas elétricas arrebentadas. A entrada está fechada no lado da ilha, mas na parte continental o bloqueio foi desfeito. Pescadores e moradores de rua frequentam o lugar.

Ferrugem

A Pedro Ivo é a mais nova das ligações entre a Ilha de SC e o Continente. Foi feita em ferro sobre base de concreto, diferentemente da Colombo Salles, que é toda de concreto armado. Foi inaugurada em 1991, após nove anos de obras e diversos problemas (estruturais e financeiros) na construção.

O engenheiro Roberto de Oliveira aponta que em todas as partes de metal da Pedro Ivo existem pontos de ferrugem. E isso não deveria existir.

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Ele, que participou de uma vistoria com o Deinfra em 2011, lembra que há oito anos as estruturas já indicavam que o cuidado era necessário.

– Quando foi construída, a promessa era que este ferro não iria enferrujar. Agora, para a manutenção é necessário além da recuperação, o revestimento com uma tinta anticorrosiva.