Sem o alarde de uma Copa do Mundo, a América Latina vive intenso ano eleitoral. São sete pleitos presidenciais definindo o destino de 275 milhões de pessoas, do menor (El Salvador) ao maior país (Brasil) da região. E tal pasmaceira é vista, em um aparente paradoxo, como prova eloquente de maturidade democrática neste naco do planeta de histórica instabilidade institucional.
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Costa Rica e El Salvador foram às urnas em 2 de fevereiro. Luis Guillermo Solís (centro-direita) se elegeu na Costa Rica. O esquerdista Salvador Sánchez Cerén, em El Salvador. No Panamá, neste domingo, o governista José Domingo Arias lidera as pesquisas, seguido de Juan Carlos Navarro. A Colômbia terá eleições no próximo dia 25. Brasil, Bolívia e Uruguai, em outubro. Os sete representam um terço dos países que integram a América Latina.
– Haverá eleições sem qualquer perspectiva de ruptura, o que é muito interessante para quem conhece o histórico da nossa região. Toda eleição leva naturalmente à mudança, mas as estruturas serão mantidas – diz Antônio Jorge Ramalho, professor de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB).
A tendência predominante se mantém como de centro-esquerda, diz Ramalho.

Da colômbia, a maior novidade
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Na Colômbia, o presidente e candidato à reeleição Juan Manuel Santos, tido como conservador, deve dar a notícia mais importante para a esquerda na região: a paz com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), que passarão a participar da vida partidária. Com o maior exército e a terceira maior economia sul-americana, é o país mais alinhado aos Estados Unidos. A pacificação deve aproximá-lo dos vizinhos, inclusive a Venezuela chavista.
Santos tem a popularidade de um governo que empunha a bandeira da paz, e no Uruguai ocorre algo semelhante. Em 26 de outubro, o presidente José Mujica, reconhecido pelos avanços em direitos individuais, deve fazer o sucessor – a reeleição é vetada. Da mesma Frente Ampla (esquerda), Tabaré Vázquez é favorito para a presidência, que ocupou de 2005 a 2010.
Além de Brasil, Colômbia e Uruguai, a Bolívia é outro país sul-americano com eleições neste ano. A tendência é de que, em 12 de outubro, o presidente Evo Morales, do Movimento ao Socialismo e primeiro indígena a ocupar o Palácio Quemado, seja reeleito. Morales chegou ao poder em 2006, na esteira dos protestos que derrubaram dois presidentes: Gonzalo Sánchez de Losada e depois Carlos Mesa.
Ao ser eleito, tornou o Estado boliviano “plurinacional”, nacionalizou gás e petróleo, triplicou a riqueza (pulou de US$ 9,547 bilhões para US$ 28,704 bilhões), passou o “bastão” de país mais pobre da América do Sul para o Paraguai e subiu ao topo da popularidade.
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– Pode haver surpresas quando o povo for às urnas. Mas o provável é que os pleitos de 2014 levem à continuidade – analisa Carlos Malamud, especialista em América Latina do Real Instituto Elcano, de Madri, que vê na estabilidade institucional “causa e consequência”.
Canal é missão para presidente panamenho
As eleições panamenhas deste domingo deixarão ao sucessor do presidente Ricardo Martinelli o importante desafio de garantir a conclusão do projeto de expansão do Canal do Panamá, obra avaliada em cerca de US$ 5,25 bilhões.
O eleito terá também de dar continuidade ao forte crescimento econômico que tornou a Cidade do Panamá (capital do país) uma “nova Miami”, reduzir a inflação que começa a preocupar (a previsão oficial é de 4% em 2014), e, ao mesmo tempo, manter os elevados níveis de investimentos públicos.
A respeito do canal, trata-se de um dos maiores projetos de engenharia do mundo e tem forte apelo estratégico, com a possibilidade de trânsito para navios de maior porte. O canal corta a área estreita do Panamá, ligando os oceanos Atlântico e Pacífico. China e Estados Unidos são seus principais usuários.
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O canal e o seu entorno foram administrados pelos EUA até 31 de dezembro 1999. Era, até então, uma situação que dava margem à polêmica, algo visto como resquício colonial. A solenidade de entrega foi um momento histórico, possível em razão dos Tratados Torrijos-Carter, assinados em 7 de setembro de 1977, em que o presidente americano Jimmy Carter cedeu aos pedidos de controle dos panamenhos. Desde então, expandir a construção é projeto caro ao país centro-americano.