Está cada vez mais difícil encontrar mão de obra qualificada para atuar nas empresas. É o que aponta uma pesquisa inédita do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV/IBRE), obtida com exclusividade pelo O Globo. Seis em cada dez empresas relataram dificuldades em contratar ou reter funcionários.
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Dessas empresas, 77,2% afirmam que a contratação é o principal desafio na gestão de mão de obra. O levantamento ouviu 3.707 empresas dos setores de indústria, comércio, serviços e construção civil.
O Instituto explica que a ideia para o estudo surgiu após um apontamento do economista Rodolpho Tobler, coordenador das sondagens empresariais do órgão. Ele observou um aumento nos relatos de empresas de construção e serviços que afirmavam que a escassez de mão de obra estaria travando o crescimento do setor.
O levantamento mostra que 58,7% das empresas brasileiras têm dificuldades para absorver ou reter profissionais, índice que sobe para 60,4% no setor da construção civil.
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— As empresas têm dificuldade para encontrar a mão de obra e, quando encontram, muitas vezes precisam contratar a um valor mais alto. Isso pode levar ao repasse de custos para o produto final, gerando inflação em um segundo momento. E esse fenômeno está espalhado entre os setores — explica Tobler.
A contratação de trabalhadores é apontada por 77,2% como o principal desafio relacionado à mão de obra. No setor da construção, oito em cada dez empresas não encontram pessoas para trabalhar.
O economista afirma que o setor é mais afetado que os demais, e que começou a se recuperar no último ano depois de um ciclo negativo. Ainda que medidas do governo, como a expansão do programa Minha Casa Minha Vida, impulsionem o setor, a mão de obra não cresce na mesma proporção.
Dificuldades enfrentadas
Para os setores econômicos, a maior dificuldade é conseguir mão de obra qualificada, como um engenheiro, responsável por projetos na construção, ou um técnico na indústria que tem conhecimento para operar determinado maquinário, por exemplo.
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Depois, aparece o desafio de encontrar mão de obra não qualificada, especialmente nos setores de indústria e serviços. Pagar salários mais altos aparece na sequência, em especial no setor de serviços.
A área de tecnologia da informação possui uma demanda por salários mais altos, que são pressionados pela competição por talentos e possibilidade de trabalho remoto.
Com o aumento de salários, o custo é repassado ao consumidor, o que reflete no aumento da inflação de serviços, que é considerada mais difícil de controlar pelo Banco Central, afirma o economista.
Capacitação e benefícios viram alternativas
A pesquisa questionou como os participantes estão buscando alternativas para resolver o problema de escassez de mão de obra. Foram apontadas como soluções a capacitação interna (44%) e oferecer mais benefícios (32%). Na indústria, a prática de qualificação representou mais da metade (56,2%) das respostas.
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Até o momento, 47,7% das empresas disseram que não tem registrado impactos nas entregas por conta da dificuldade de contratação de profissionais. Porém, 17% tiveram atrasos nas entregas. Ainda, 21,5% ampliaram a carga horária dos funcionários.
Impactos nas entregas e custos de empresas
Enquanto isso, no segmento da construção 21,1% das empresas estão atrasando entregas e 18% estão rejeitando novos contratos e atuando abaixo da capacidade devido a dificuldade em contratar. O índice fica bastante acima da média dos outros setores, que é de 8,4%.
O economista Rodolpho Tobler explica que o levantamento acende o alerta sobre como a baixa qualificação traz impactos para a produtividade da economia brasileira.
— O crescimento potencial do Brasil poderia ser maior se tivéssemos mão de obra qualificada que conseguisse atender toda essa demanda. Enquanto não temos, isso reforça nossos problemas estruturais. Apesar do aumento da escolaridade, muitas vezes essa qualificação não é direcionada para as demandas do mercado, o que compromete os ganhos de produtividade — finaliza.
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*Com informações de O Globo
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