Quando caminha pela casa, o engenheiro Miguel Fiod Neto, 64 anos, precisa desviar da coleção de baldes que ocupa a cozinha.

Continua depois da publicidade

Cheios de água, são eles que garantem a louça lavada, o banho tomado e as necessidades básicas dele, da mulher e da filha. A casa da família, na Trindade, não tem água há pelo menos dez dias. Próximo dali, o Colégio Militar suspendeu as aulas desta quinta-feira por causa das torneiras vazias. E neste mesmo dia, o prefeito Cesar Souza Júnior declarou em uma entrevista à CBN Diário que não conseguiu tomar banho ao sair de casa porque o chuveiro estava seco.

Problemas assim, relacionados à falta de água, surgem a todo momento. Ontem, pelo menos seis bairros de Florianópolis _ João Paulo, Sambaqui, Saco Grande, Itacorubi, Trindade e Córrego Grande, além do Morro da Lagoa, seguiam sem água. No início da semana, o problema foi ainda mais grave: consumidores de Florianópolis, São José e Biguaçu também sentiram nas torneiras os efeitos da forte chuva que caiu na região. Segundo a Casan, o mau tempo dificultou o processo de tratamento da água _ que sofreu problemas na cor e na turbidez _ e acabou por atrapalhar a distribuição. Todo o sistema deve ser normalizado até sábado.

Porém, na casa de Miguel, apenas um, dos últimos dez dias, foi de água na torneira. A família chegou a comemorar, mas, no início da tarde, a situação já estava precária novamente.

Continua depois da publicidade

– Estamos vivendo na apreensão e na incerteza. Se vamos ao banheiro e puxamos a descarga, corremos o risco de não poder tomar banho.

No Colégio Militar, a água já estava em falta desde a segunda-feira, primeiro dia de aula. A escola chegou a distribuir copos de água filtrada e instalou duas bombonas nos bebedouros, mas não foi o suficiente. Sem alternativa, a direção decidiu liberar os alunos pela manhã, logo após o recreio. À tarde, o site da escola estampava um comunicado de alerta: as atividades normais só serão retomadas na próxima segunda.

No João Paulo, o loteamento onde mora o prefeito de Florianópolis e outras cerca de 400 famílias, o Pôr-do-Sol, está sem água desde domingo. No início do mês, os moradores entregaram um abaixo-assinado à Casan pedindo a regularidade no fornecimento. Cansado da situação, o presidente da Associação dos Moradores do local, Celso Guerini, também apelou para o Ministério Público: está agendando uma audiência com a Promotoria de Defesa do Consumidor para ver se resolve o caso.

Continua depois da publicidade

– É inadmissível que estejamos passando por algo assim.

“Estamos prestes a ter um colapso de água na Grande Florianópolis”

Quando o assunto é a falta de água, o diretor de fiscalização e regulação da Agência Reguladora de Serviços de Saneamento Básico do Estado (Agesan), engenheiro Sílvio Rosa, é enfático: a população está prestes a vivenciar um colapso de água na Grande Florianópolis.

– Desde que começamos a fiscalizar a Casan, passamos a ter consciência da real situação. O sistema de captação da água está limitado e o crescimento da região está acima da média nacional. Deste jeito, não há como dar conta.

Por isso, em dezembro de 2011, a Agesan convocou a Casan para uma reunião: era preciso buscar, com urgência, uma nova alternativa de água bruta para ser captada e para dar conta de atender a população nos próximos 15 ou 20 anos. Pressionada, a Casan propôs fazer a captação da água na Bacia do Rio Tijucas, que tem um volume grande e poderia abastecer não apenas a Grande Florianópolis, como também toda a região de Porto Belo e Bombinhas.

Continua depois da publicidade

– É imprescindível termos uma nova fonte de captação aqui. Embora a obra de ampliação da estação de tratamento, que está em execução, vá resolver o problema de abastecimento, ela não vai conseguir dar conta de imprevistos, como as estiagens. Para impedi-los, só mesmo uma nova fonte.

A proposta do Rio Tijucas depende, agora, da busca por financiamento para que a Casan possa dar a largada na produção do projeto e na obra. O prazo dado pela Agesan é emergencial. A agência também está fiscalizando de perto o cronograma da obra da estação de tratamento. Segundo Rosa, qualquer atraso implicará em advertência e multa à Casan.

CONTRAPONTO

O que diz a Casan

Segundo o superintendente regional da Casan na Grande Florianópolis, Carlos Alberto Coutinho, desde agosto de 2012 está em execução uma obra que amplia a Estação de Tratamento de Água que fica em Palhoça e abastece toda a Grande Florianópolis.

Continua depois da publicidade

Quando esse empreendimento for concluído, até agosto do ano que vem, haverá dois problemas resolvidos: a produção de água (que vai aumentar em 50%, passando de dois para três mil litros por segundo) e a regularização no tratamento (um equipamento chamado floco decantor vai permitir uma qualidade melhor na água captada, mesmo em dias de fortes chuvas).

Além disso, outras duas adutoras também serão ampliadas na região a partir desse ano para aumentar a capacidade de transporte da água. A primeira vai do trevo de Forquilhinhas, em São José, até o Angeloni, de Capoeiras; e a segunda, da Ponte Pedro Ivo até o Itacorubi, na Capital. Junto com a estação de tratamento, essas duas obras devem suprir a necessidade da região.

Até lá, porém, os problemas de falta de água se resolvem com ações operacionais. “Estamos disponibilizando nossos três caminhões-pipa diariamente, com prioridade para creches e unidades de saúde”, disse Coutinho.

Continua depois da publicidade