Na última quarta-feira o Brasil chorou a morte de cinco estudantes e duas funcionárias da escola estadual Raul Brasil, em Suzano (SP). Os dois jovens responsáveis pelo massacre eram ex-alunos da unidade e teriam, segundo a polícia, planejado o ataque com um ano e meio de antecedência. Vídeos das câmeras de monitoramento mostram que a dupla chegou de carro na escola e conseguiu entrar pelo portão da frente.

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A tragédia foi estopim para questionamentos da população sobre a segurança nas unidades de ensino estaduais. Em Santa Catarina não há registro de nenhum incidente como o de Suzano, mas na sexta-feira (15), um arma calibre 22, que estava sem munição, foi encontrada com um adolescente de 15 anos dentro de uma escola em São Bonifácio, na Grande Florianópolis. Aos policiais, o jovem disse que queria mostrar a arma aos amigos.

Hoje, as mais de mil escolas da rede estadual de ensino contam, segundo a Secretaria de Estado da Educação, com segurança feita por meio de vigilância humana desarmada, sensores e câmeras de monitoramento. No entanto, ocorrências como a de sexta-feira (15) provam que há falhas no sistema.

As próprias escolas reconhecem que o foco desse serviço é muito mais a segurança patrimonial, que a dos docentes e alunos em si. Por conta disso, unidades como o maior colégio de Santa Catarina, o Instituto Estadual de Educação (IEE), localizado no Centro de Florianópolis, aprimorou por conta própria esse sistema para preservar a integridade dos mais de 6,3 mil estudantes.

— Cada portão tem um vigilante que opera o dia todo e temos um vigilante diurno no pátio. Mas, além disso, temos coordenadores de pátio, que circulam pelos corredores a todo o momento. Nos intervalos restringimos a entrada de estranhos e todos os coordenadores de ala ficam no pátio com os alunos. Isso tudo faz parte de um plano de segurança que a escola elaborou — detalha o coordenador geral da unidade, Vendelin Borguezon.

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Situação é diferente fora da Capital

Enquanto o IEE conta com vigilância 24 horas nos principais portões de acesso à unidade, a coordenação de escolas em Blumenau, no Vale do Itajaí, e em Joinville, no Norte do Estado, demonstra preocupação por ter períodos do dia totalmente desguarnecidos.

Como ocorre no colégio Pedro II, localizado na região central de Blumenau, que desde o começo do ano está sem vigilância noturna, sendo que o horário de funcionamento na unidade se estende até as 22h, por conta das aulas noturnas. A unidade atende cerca de 950 alunos no ensino fundamental, médio e também na formação de magistério.

— Contamos com dois vigias, que trabalham em turnos de seis horas cada um, entre 6h e 18h. Mas depois é um servente da escola que controla a entrada de carro e pessoas. Nem aos fins de semana temos mais o serviço. Já até registramos boletim de ocorrência pelo furto de toda a fiação elétrica do complexo esportivo e pela quebra dos vidros da coordenação — relata o assessor do colégio, Eduardo Fortunato Machado.

Em Joinville, funcionários da escola estadual Governador Celso Ramos, uma das unidades referência no ensino médio da cidade, classificam como precária a segurança da unidade. Cerca de 1,4 mil estudantes frequentam, diariamente, a instituição.

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— Temos um vigia de dois turnos, mas a escola funciona em três turnos, entre 10h e 22h. Na parte da manhã a escola fica desatendida nesse sentido, apesar de termos câmeras em toda a unidade — conta a secretária da escola, Cristiano Maria Borba.

O que diz a Secretaria da Educação

Por nota, a Secretaria de Estado da Educação, esclareceu que as câmeras de monitoramento, sensores e vigilância humana são distribuídas de acordo com as necessidades da escola e que “os portões ficam fechados durante o período de aula para melhor controle da circulação de pessoas”. Atualmente a rede estadual atende cerca de 100 mil alunos.

A secretaria ainda destaca que “o apoio da Polícia Militar, da Guarda Municipal e dos Conselhos Comunitários de Segurança existentes em diferentes bairros realizam rondas periódicas nas escolas”.

Na quinta-feira, o secretário da pasta, Natalino Uggioni, em entrevista à Rádio CBN, lamentou o ocorrido em Suzano (SP) e reforçou que a segurança é uma preocupação permanente da secretaria. Uggioni disse ainda que o ocorrido em São Paulo é “mais um motivo para que se reforce o cuidado com a educação para que Santa Catarina nunca passe por isso”.

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— É um ponto de atenção que requer, como vários outros aspectos da educação, o nosso olhar atento e cuidado. Independentemente dos profissionais ou de qualquer sistema de segurança que a gente tenha, precisamos trabalhar com os profissionais da educação para estarem atentos e vigilantes para que, a qualquer sinal suspeito, agir imediatamente — destacou.

Já sobre o sistema de segurança nas unidades de ensino, Uggioni reforçou que há, de acordo com as necessidades de cada colégio, vigias presenciais e o monitoramento por imagem. Disse que “se sentirmos necessidade de colocar vigilância presencial nas que não tem, a gente vai providenciar”, mas que, do que vem acompanhando, percebe contento.

Deputados defendem gestão compartilhada nas escolas

O assunto da segurança nas escolas também foi pauta na Assembléia Legislativa (Alesc) na semana que passou. Uma indicação dos deputados Ana Caroline Campagnolo (PSL) e Onir Mocellin (PSL) pediu que a gestão das escolas estaduais de Santa Catarina passe a ser compartilhada, entre a Secretaria de Educação e a Secretaria de Estado de Segurança Pública. A justificativa da proposta é garantir “educação de qualidade na rede pública” e “enfrentamento da violência”.

Enviado ao governador e às duas secretarias, o documento afirma que a inspiração é o modelo adotado este ano no Distrito Federal, onde algumas escolas passaram a ter a gestão compartilhada. Nesse modelo, a Secretaria de Educação fica a parte pedagógica, e a Polícia Militar, com administração e disciplina. O modelo permite que a Secretaria de Segurança invista verbas nas escolas – na estreia, foram repassados R$ 200 mil.

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As escolas escolhidas para o projeto piloto, no Distrito Federal, estão em áreas vulneráveis. Reportagem exibida pelo Fantástico, na Rede Globo, em fevereiro deste ano, mostra que os alunos estão se sentindo mais seguros. Mas o modelo também gera críticas de especialistas em educação – especialmente quanto à militarização, como a adoção de uniforme militar e ao padrão para o cabelo: meninos têm que manter bem curto, e meninas têm que prender o cabelo em um coque.