O que a Mônica, o Pato Donald e o Superman têm em comum? Os três viveram suas primeiras aventuras nas páginas de histórias em quadrinhos. Buscando valorizar os quadrinhos brasileiros, a Associação dos Cartunistas de São Paulo (AQC) criou o Dia dos Quadrinhos Nacionais, que é comemorado no dia 30 de janeiro. A data foi escolhida para homenagear a primeira revista em quadrinhos já publicada no Brasil, chamada “As Aventuras de Nhô Quim”, de 1869, desenhada por Ângelo Agostini.

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Para Bira Dantas, quadrinista de 48 anos e membro da AQC, Agostini foi o criador dos quadrinhos no Brasil. Ele foi o desbravador. Em São Paulo e no Rio de Janeiro Agostini lançou e colaborou com inúmeras publicações como Diabo Coxo, O Cabrião, Revista Illustrada, Vida Fluminense, O Mosquito e O Tico-Tico. Criou Quadrinhos que encantaram varias gerações. Apesar de não ter sido o primeiro a fazer Quadrinhos no mundo (anos antes, Wilhelm Busch publicou Max e Moritz na Alemanha), Agostini criou centenas de páginas onde cenas da vida real misturavam-se a loucuras surreais.

Com essa mistura do real e do fantástico, Bira acredita que Agostini fez a cabeça dos cartunistas que viriam depois, passando por Mauricio de Sousa, Ziraldo, Henfil e até por ele mesmo.

Quando se fala nos quadrinhos nacionais, a Turma da Mônica é o grande destaque. Há 50 anos, a turminha da garota dentuça e mandona que não larga seu coelho de pelúcia, encanta gerações. Mauricio de Sousa, pai da turminha, já ouviu em todos os cantos do país a mesma afirmação:

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– “Aprendi a ler com a Turma da Mônica” virou um mantra. Já ouvi isso de pessoas de todos os cantos do país – diz Mauricio.

Turma da Mônica, de Maurício de Sousa, diverte a criançada há 50 anos

Ele considera que, mantendo a produção dos historinhas por mais de meio século, fez com que a história dos quadrinhos brasileiros permanecesse viva.

– Mantivemos a história em quadrinhos atuante e atraente. Foi bom para nossos estúdios e também para novos artistas, que sentem que tudo é possível – analisa Mauricio.

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Além disso, ele acredita que ajudou a manter o hábito da leitura dos quadrinhos.

Mercado Aquecido

Enquanto há quem insista em dizer que as novas tecnologias um dia destruirão formas de arte como os quadrinhos e o teatro, vender histórias em quadrinhos é um negócio cada vez melhor no Brasil. Bira encontrou espaço para seu trabalho nas páginas de jornais como a Folha da Tarde (SP), o Diário do Povo (Campinas) e atualmente desenha para o Correio Popular.

Mas o espaço para os quadrinistas cresceu muito nas últimas décadas, seja fazendo a adaptação de livros clássicos, seja fazendo versões dos novos sucessos de venda do mercado editorial, como a Saga Crepúsculo e Harry Potter, ou mesmo nas graphic novels, grandes histórias em quadrinhos, em formato de livro, que vendem cada vez mais no mundo todo.

Bira que começou sua carreira como desenhista dos gibis “Os Trapalhões”, na década de 80, trabalhou na adaptação de Memórias de um Sargento de Mílicias, Dom Quixote e O Ateneu. Em 2011, ele foi até a Coreia do Sul representar o Brasil no Bucheon Festival Internacional de Quadrinhos, participando da tendência dos profissionais brasileiros da área serem cada vez mais respeitados e requisitados no exterior.

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Eles são muitos, como brasileiro Eduardo Ferigato, por exemplo, que é o responsável atualmente pelos desenhos de “O Fantasma”, tirinha clássica, criada em 1936 nos Estados Unidos. Rafael Grampá é outro brasileiro que se deu bem desenhando “Hellblazer”, para a DC Comics, assim como o também Márcio Takara, que foi a fera responsável por adaptar “Os Incríveis”, do desenho da Pixar, para as tirinhas.

Não é à toa que Mauricio de Sousa fala com orgulho dos quadrinistas brasileiros.

– Vejo brasileiros criando e desenhando melhor do que os melhores do mundo. Começando pelo Mike Deodato, passando pelos gêmeos Fábio Moon e Gabriel Bá e desaguando na penca de super-artistas que colaboraram nos nossos álbuns – analisa Mauricio.

Mesmo assim, Bira acredita que ainda falta espaço para os brasileiros mostrarem seu trabalho.

– Quadrinhos sempre estiveram ligados aos jornais. Muitos personagens (inclusive de Mauricio de Sousa) foram publicados primeiro nos jornais e depois de fazerem sucesso, apareceram nas bancas em formato de gibis. Salvo alguns casos, a maioria dos jornais foi cortando as tiras em Quadrinhos ou acabaram optando por publicar tiras internacionais. Isso fecha muitas portas e acaba deixando de fora as produções regionais de Quadrinhos.

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Para fugir dessa limitação, os quadrinistas criam grupos como o “Quarto Mundo”, que produz e distribui edições independentes no Brasil inteiro.

– A internet tem sido um belo campo de produção e divulgação de Quadrinhos no Brasil, infelizmente ainda não remunerado, salvo no caso de experiências como a Quadrinhopole de Curitiba, que disponibiliza Quadrinhos pagos pela web – cita Bira.

Os catarinenses também buscaram seu espaço e criaram uma revista coletiva, a Catacomics, atualmente na segunda edição.

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Já que o propósito do Dia Nacional dos Quadrinhos é divulgar a produção nacional, que tal conhecer novos personagens, aventuras e charges? Clique nos links abaixo: