*Por Gretchen Reynolds

Ficar muitas horas sentado todos os dias pode aumentar o risco de morte por câncer, de acordo com um novo estudo sobre a relação entre falta de atividade física e mortalidade por câncer. Trata-se de um estudo epidemiológico baseado em um recorte da vida das pessoas e, portanto, não prova causa e efeito. Mas as descobertas sugerem que pessoas extremamente sedentárias têm até 80 por cento mais chances de morrer de câncer do que as pessoas que passam menos tempo sentadas.

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Ainda assim, existe esperança. O estudo também indica que se levantar e caminhar um pouco, ainda que a passo lento e por poucos minutos a cada dia, pode diminuir o risco de morrer de câncer, além de ser um bom incentivo para que as pessoas se movimentem mais.

Já temos muitas evidências de que ficar o dia todo na cadeira não é saudável. Estudos anteriores relacionaram quem fica sentado por períodos prolongados com o risco de doenças cardíacas, diabetes tipo 2, obesidade e morte prematura. Alguns estudos também associaram a inatividade ao risco de morte por câncer. Mas a maioria desses estudos se baseou em memórias pouco confiáveis. Além disso, os estudos raramente examinavam se e como exercícios ocasionais e breves podem alterar o risco.

Para o novo estudo, publicado em junho na revista médica “JAMA Oncology”, os pesquisadores da Centro Oncológico MD Anderson, da Universidade do Texas, em Austin, e de outras instituições norte-americanas decidiram reexaminar os dados que já haviam sido coletados como parte de um amplo estudo nacional sobre os fatores de risco de AVC.

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O estudo anterior havia reunido um grupo multirracial de mais de 30 mil homens e mulheres de meia-idade, com início em 2002, e coletou detalhes sobre saúde, estilo de vida e condições médicas. Alguns voluntários também concordaram em usar um monitor de atividade por cerca de uma semana, para registrar objetivamente a frequência e o vigor de sua movimentação, além de quanto tempo ficavam sentados por dia.

Agora, os pesquisadores reuniram os registros dos cerca de oito mil voluntários que haviam usado o monitor durante o estudo. Esses homens e mulheres tinham ao menos 45 anos quando começaram a participar do estudo, e condições de saúde entre boas e duvidosas. Alguns tinham sobrepeso, eram fumantes, diabéticos, tinham pressão sanguínea elevada ou outros problemas de saúde. Outros eram relativamente magros, e alguns afirmaram se exercitar com regularidade.

Os pesquisadores conferiram os dados do monitor de atividade desses voluntários, destacando quantas horas por dia, em média, passavam objetivamente em repouso. Muitas pessoas eram bastante sedentárias e passavam cerca de 13 das 16 horas em vigília sentadas ou inativas.

Havia, porém, diferenças. Algumas pessoas se moviam bastante, quer realizando atividades de baixa intensidade, como caminhar, limpar a casa e cuidar do jardim, quer se exercitando ativamente, de acordo com os registros dos monitores de atividade (que medem o número de passos dados a cada minuto).

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Os pesquisadores dividiram os voluntários em três grupos mais ou menos iguais, baseados em quanto tempo ficavam sentados todos os dias. Em seguida, conferiram os registros de morte de cada voluntário, em busca de pessoas que tivessem morrido de câncer recentemente.

Por fim, eles examinaram se, do ponto de vista estatístico, ficar sentado aumenta a chance de morrer de câncer. Os homens e mulheres que faziam parte do grupo que passava mais horas sentado tinham 82 por cento mais chances de morrer de câncer durante o período de follow-up do estudo, em comparação com os que passavam menos horas sentados. Essa associação se manteve mesmo quanto os pesquisadores levaram em conta a idade, o peso, o gênero, a saúde, o consumo de tabaco, o nível de formação, a localização geográfica e outros fatores.

No entanto, os cientistas destacaram uma descoberta mais encorajadora quando criaram modelos estatísticos que levavam em conta como os riscos podem mudar se, teoricamente, uma pessoa começar a se movimentar mais. Nesses modelos, se a pessoa se exercitava por pelo menos 30 minutos, em vez de continuar sentada, o risco de morte por câncer caía 31 por cento. Mesmo que a pessoa não se exercitasse formalmente, mas substituísse ao menos dez minutos de inatividade por caminhadas tranquilas, trabalhos domésticos, jardinagem ou outras atividades de baixo impacto, o risco de morte por câncer caía cerca de oito por cento.

Como um todo, esses dados sugerem que “mesmo um pequeno aumento nas atividades físicas, por mais leve que seja, pode ampliar as chances de sobreviver ao câncer”, explicou a dra. Susan Gilchrist, cardiologista do Centro Oncológico MD Anderson, que trabalha com pacientes oncológicos e liderou o novo estudo.

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Entretanto, este tem muitas limitações, pois observou a mortalidade, não o risco de desenvolver a doença, e tratou todos os tipos de câncer da mesma maneira. Talvez o mais importante seja que esse tipo de estudo prospectivo não é um experimento randomizado e não pode nos dizer se passar mais tempo sem atividade aumenta a mortalidade por câncer, mas apenas demonstrar uma correlação. O estudo também não traz indícios de como o sedentarismo aumenta os riscos, nem se a falta de atividade altera diretamente nosso corpo, ou mesmo se outros fatores – incluindo o que comemos e bebemos quando estamos sentados – podem ter influência em nossas chances de morrer de câncer.

Gilchrist comentou que ela e os colegas esperam examinar alguns desses problemas em pesquisas futuras. Porém, mesmo com essas limitações, a pesquisadora acredita que os dados do estudo devem ser levados em consideração.

“O resultado tangível é que podemos dizer que as pessoas não precisam sair e correr uma maratona para diminuir o risco de morrer de câncer. Parece que basta se levantar e caminhar pela casa por alguns minutos a cada hora para ter um enorme impacto”, concluiu.

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