Pela primeira vez, o secretário da Segurança Pública (SSP), César Grubba, admitiu que há irregularidades no desvio de peças do complexo da própria SSP. A admissão de quarta-feira contraria uma impressão inicial do secretário manifestada na última segunda-feira, e se dá em meio a uma crise eclodida com o caso do delegado Cláudio Monteiro, afastado da chefia da Deic, e que respinga no caso do ferro-velho.
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O episódio tem constrangido o secretário adjunto, coronel Fernando de Menezes, e o presidente da comissão de leilões do Detran, tenente-coronel José Theodósio de Souza Júnior.
A possibilidade de afastamento dos dois dos cargos não está descartada e será decidida hoje pelo secretário Grubba, conforme informaram assessores de imprensa da SSP e do governo do Estado. Antes, o secretário deverá prestar depoimento no inquérito que investiga as suspeitas contra Menezes e Theodósio.
Para os delegados Rodrigo Green, Alexandre Carvalho de Oliveira e Renato Hendges, da Diretoria Estadual de Investigações Criminais (Deic), as autoridades teriam dado aval para a saída irregular de motores do pátio da SSP, em São José, na Grande Florianópolis, em dezembro de 2011. Os policiais acreditam que eles seriam comercializados pelo ferro-velho de Joinville onde foram localizados pela polícia.
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Pela sua assessoria, o secretário Grubba reconheceu nesta quarta-feira que há irregularidades no processo que previa a destinação pela SSP do material ferroso, procedimento que foi comandado por Menezes e Theodósio no ano passado. Mas não apontou quais seriam elas.
A decisão de Grubba levará em conta uma análise mais minuciosa, que terminaria de fazer ontem à noite, da sindicância feita em razão das denúncias. Os documentos têm cinco volumes e o relatório final é constituído por cerca de 40 páginas. Na sindicância, há pareceres de um procurador do Estado e de uma delegada de polícia.
Numa primeira análise feita ao longo da quarta-feira, conforme assessores, Grubba não teria constatado nenhum indício de irregularidade contra o seu secretário-adjunto. Apesar disso, a permanência de Menezes poderia prolongar o racha entre delegados da Deic e a cúpula da SSP. Por isso, o secretário deverá consultar o governador Raimundo Colombo sobre o desdobramento do impasse.
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A investigação do desvio das peças ganhou intensidade na Deic depois da exoneração do ex-diretor, o delegado Cláudio Monteiro. Liderados pelos delegados Renato Hendges, Alexandre Carvalho e Rodrigo Green, colegas da Deic entendem que há tratamento diferenciado pela SSP no caso de Monteiro e das peças. O secretário discorda:
– Não estou tratando os casos como dois pesos e duas medidas. No caso do delegado Cláudio Monteiro, houve uma denúncia, que foi checada e se decidiu pela exoneração do delegado, que foi chamado e não negou que errou. No caso do material ferroso, têm irregularidades? Têm – disse Grubba pela assessoria.
Monteiro foi exonerado da direção da Deic pelo secretário após denúncia de desvio de diárias, na semana passada. Foi depois da exoneração de Monteiro que os delegados colegas da Deic vazaram informações do inquérito do ferro-velho, o que pode ter apressado o anúncio que será feito nesta quinta-feira.
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O que disseram
O SECRETÁRIO-ADJUNTO DA SSP, CORONEL FERNANDO DE MENEZES
Afirmou pela assessoria de imprensa ter recebido um documento do gerente do complexo, que foi chamado à secretaria. Segundo o coronel, naquele momento não foi constatado nenhum tipo de irregularidade, muito menos denúncia. O que o gerente tinha era uma dúvida, sanada após a conversa, se poderia haver reaproveitamento das peças.
De acordo com o coronel, as peças poderiam ser reaproveitadas, como está no edital de licitação. Disse que, inclusive, está previsto em edital e há um parecer favorável da Procuradoria Geral do Estado (PGE). O secretário-adjunto reafirmou que só autorizou a retirada de material que estava previsto no edital.
O PRESIDENTE DA COMISSÃO DE LEILÕES DO DETRAN, TENENTE-CORONEL JOSÉ THEODÓSIO DE SOUSA JUNIOR
Ele foi procurado pelo DC por telefone. Um e-mail com as perguntas foi enviado a secretária dele para que ela fizesse chegar às mãos dele, mas não houve resposta até o fechamento desta edição. A assessoria de imprensa da SSP afirmou que quem vai falar sobre o caso é o secretário adjunto, coronel Fernando de Menezes.
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A GERDAU
Por meio de sua assessoria, a Gerdau informou que suspendeu o contrato com a SSP até que a investigação da Deic seja concluída. A empresa disse que não contratou formalmente a GTruck, que teria prestado serviços apenas por alguns dias até a suspensão do contrato. A Gerdau também frisa que cumpriu todos os requisitos do edital de licitação e que não vendeu motores à GTruck, apenas sucata, conforme previsto no edital.
A G-TRUCK
Sidnei Martins, disse que devolverá à Deic os seis motores de veículos que estavam na empresa na sexta-feira. As peças não foram mexidas desde que a polícia abriu inquérito para investigar possível irregularidade em uma licitação da SSP com a empresa Gerdau.
Sidnei explicou que o seu contrato era com a Gerdau, para transportar peças, desmontá-las e descontaminá-las. As peças aproveitáveis poderiam ser colocadas à venda. A sucata voltaria para a Gerdau. Martins lamentou por ter sido contratado para ajudar e, agora, ter o nome da empresa exposto na mídia, e que o contrato estava legalizado.
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ENTREVISTA: Aldo Pinheiro D´Ávila, delegado-geral da Polícia Civil.
O delegado-geral da Polícia Civil, Aldo Pinheiro D´Ávila, convocou na quarta-feira de manhã os delegados da Deic para uma reunião, em Florianópolis, na qual tratou do inquérito das peças. À tarde, por telefone, ele conversou com o DC:
Diário Catarinense – Os delegados da Deic afirmam que estariam proibidos de dar entrevista. Isso procede?
Aldo Pinheiro D´Ávila – Isso não existe, é insano. Eles vão poder falar. Eu apenas reavivei a eles uma questão ética: “fala com a imprensa o presidente do inquérito”. O jornalista tem a sua ética, nós também temos. Senão um vai falar sobre o inquérito do outro e vira uma anarquia.
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DC – O que o senhor falou a eles sobre o inquérito do ferro-velho (do desvio de peças)? Aldo – Eu disse ainda que, com relação ao inquérito do ferro-velho, eu exijo rigidez na apuração e celeridade. Porque precisamos que isso seja submetido o mais breve tempo ao poder Judiciário, doa a quem doer.
DC – O que está faltando para a conclusão desse inquérito?
Aldo – Isso aí tem que ver com os delegados lá. Eu falei, “não fica com isso dentro da Deic para ficar ali passando de mão em mão”. Eu não quero que esse inquérito passe de mão em mão na Deic. Eu quero que passe para as mãos do Judiciário.
DC – Alguma chance de o senhor avocar este inquérito?
Aldo – De maneira nenhuma, confio plenamente nos delegados que presidem o inquérito. Mas ele (inquérito) já está na hora de acabar.
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