O governo argentino vê na onda de concórdia mundial, exemplificada pelo iminente acordo de paz colombiano e pela aproximação entre Cuba e Estados Unidos, sinal de que há possibilidades de diálogo com a Grã-Bretanha sobre as ilhas Malvinas. Mais: a presidente Cristina Kirchner ficou empolgada com a eleição do esquerdista Jeremy Corbyn como o novo líder do Partido Trabalhista britânico. Chegou a enviar carta parabenizando-o pela vitória. Corbyn é um tradicional defensor do diálogo para resolver esse problema. As Malvinas foram palco de uma guerra entre os dois países que deixou 907 mortos, no primeiro semestre de 1982.
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– Corbyn rejeita a resolução armada dos conflitos em geral e nas Malvinas em particular – resumiu o secretário especial argentino para as Malvinas, Daniel Filmus, sociólogo de formação, ex-senador e ex-ministro da Educação.
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Filmus, que conversou nesta sexta-feira com ZH logo após audiência com o governador José Ivo Sartori, no Palácio Piratini, manifestou a esperança que sente em razão de outros diálogos abertos no mundo.
– Há avanços substantivos no enterramento definitivo da Guerra Fria e dos conflitos que se seguiram a ela, para a imposição do diálogo e da superação dos problemas mais importantes, como a pobreza, a segregação, o drama migratório e o fundamentalismo – disse, enaltecendo o que vê como uma nova mentalidade mundial.
No plano interno, Filmus aposta na vitória do governista Daniel Scioli, atual governador da província de Buenos Aires, para ser o sucessor da presidente Cristina Kirchner. Não descarta a eleição em primeiro turno, na votação que ocorre em 25 de outubro. Para tanto, o vencedor necessita ter mais que 45% dos votos ou mais que 40% caso tenha vantagem de 10 pontos percentuais sobre o segundo colocado.
– As primárias abertas obrigatórias mostraram que a possibilidade existe – afirmou ele, rejeitando as análises segundo as quais Scioli estaria evitando participar de debates para não correr riscos de perder a vantagem.
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Entrevista com Daniel Filmus, secretário argentino para as Malvinas
Jeremy Corbyn é uma esperança sobre as Malvinas?
Sim. É um homem de diálogo. Corbyn rejeita a resolução armada dos conflitos e integrou a comissão de diálogo sobre as Malvinas, no Reino Unido. É uma boa notícia. Também temos acompanhado que fatia importante da opinião pública britânica tem visão positiva a respeito da resolução pelo diálogo para nossas diferenças nas Malvinas. Vários jornais mostraram que os britânicos defendem o diálogo.
A presidente enviou uma carta para Corbyn?
Sim, a presidente enviou uma carta para Corbyn, por sua contribuição para a paz. Hoje, vemos as conversas entre Barack Obama e o papa Francisco, a reaproximação entre Cuba e EUA, negociações pela paz na Colômbia. Há mais clima para o diálogo. Num mundo multipolar, os povos se manifestam livremente, e a paz é denominador comum. Quanto às Malvinas, é incompreensível que, em pleno século 21, haja colônias e que o Reino Unido as mantenha.
O diálogo seria um avanço?
Para a Argentina, um avanço enorme. É possível retomá-lo.
O senhor acredita que o candidato governista, Daniel Scioli, pode ganhar as eleições argentinas já no primeiro turno?
As primárias mostraram vantagem de Scioli. Há clara possibilidade de vitória no primeiro turno. Acredito que a polarização e a rejeição a Mauricio Macri (principal adversário) vá favorecer Scioli.
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Para apoiar Scioli, a presidente incluiu o “kirchnerista” Carlos Zannini como vice na chapa. Não há risco de ruptura?
Mais que uma aliança, há um programa comum. Zannini e Scioli têm perfis e histórias diferentes, mas há um programa concreto. No primeiro governo de Cristina houve as nacionalizações de empresas. Hoje, o desafio é aumentar a competitividade melhorando a educação, a ciência e a tecnologia, com visão industrialista e produtiva, lembrando os “três Ts” do papa Francisco, teto, terra e trabalho.