Aos 20 anos, a vendedora Josiane Sanambaia daria o primeiro neto aos pais. Pietro era bastante aguardado pela família, mas não chegou a ser levado para a casa. O menino morreu um dia após o nascimento no Hospital Ruth Cardoso, em Balneário Camboriú. A morte, segundo a família, foi causada por negligência no atendimento da unidade de saúde.
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Semana passada, com 40 semanas completas de gestação, a jovem teria sido levada ao hospital mais de uma vez, mas foi orientada a voltar para casa pois não estaria na hora de o bebê nascer. O pai de Josiane, Jacir Sanambaia, acompanhou o drama da filha e conta que, na manhã da quarta-feira, o médico que a atendeu pediu que caminhasse para induzir o parto normal e a mandou para casa. À noite, por volta das 22h, ela foi levada ao local com contrações de quatro em quatro minutos. Foi novamente mandada para casa, mas acabou internada após os familiares discutirem com profissionais do hospital.
Segundo Jacir, a filha é moradora de Itapema e havia sido orientada pelo médico que acompanhou a gestação a não fazer parto normal. O ideal seria uma cesariana, mas os médicos que a atenderam no Ruth Cardoso se negavam a fazer, segundo o pai. A reportagem não conseguiu localizar o profissional que a acompanhou no pré-natal.
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– Ela estava fazendo tratamento para uma infecção, além disso é muito pequena e o bebê muito grande. O médico chegou a fazer uma carta que levamos ao hospital informando a necessidade de cesariana – conta.
Na madrugada de quinta-feira, conforme Jacir, a bolsa da gestante foi rompida (como?) e ela começou a ter um sangramento. A jovem teria passado a madrugada sofrendo com dores até que um pediatra a atendeu.
– Já eram 11h do dia 27 (quinta-feira) e duas enfermeiras já tinham cortado minha filha, quando um pediatra chegou e tirou a criança, que foi direto para a UTI. O médico (obstetra) só apareceu depois para dar os pontos- detalha.
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Pietro passou o dia na incubadora, e morreu às 10h de sexta-feira. O laudo da morte, segundo Jacir, indica asfixia pré-natal grave e aspiração de mecônio, secreções expelidas pelo próprio feto, seguida de parada múltipla dos órgãos.
Josiane teve alta médica em seguida, e está na casa dos pais. Abalados, ela e o marido choram ao lembrar de Pietro e evitam falar falar sobre o assunto. Tudo que havia sido comprado para o menino será doado, uma tentativa de amenizar a dor.
O pai da jovem registrou segunda-feira um boletim de ocorrência contra o hospital e protocolou denúncia na 6ª Promotoria de Justiça de Balneário Camboriú, que trata de assuntos relacionados ao direito do consumidor, cidadania, direitos humanos e terceiro setor. Ontem, o promotor Rosan da Rocha ainda não tinha analisado a denúncia, mas informou que avaliaria o caso e, se entender que a morte foi causada por problemas no atendimento, encaminhará o caso à promotoria da Criança e do Adolescente.
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Secretaria de Saúde vai investigar caso
O secretário de Saúde de Balneário Camboriú, Marco Otilio Duarte Rodrigues, afirmou que a morte do bebê no hospital Ruth Cardoso, semana passada, vai ser investigada pela pasta. Ele explica que ainda não tem detalhes do que aconteceu na instituição, pois não conversou com os responsáveis.
– Soube que a mãe entrou em trabalho de parto, a criança nasceu e depois evoluiu para óbito. As circunstâncias em que tudo isso aconteceu terão que ser averiguadas – salientou.
De acordo com Rodrigues, a mortalidade de bebês no hospital é baixa, mas ainda não há um levantamento oficial dos números.
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– Acho que não morria bebê no hospital há cinco ou seis meses, inclusive já pedi esse levantamento. Mas a gente está abaixo do que é preconizado pelo Ministério da Saúde – completou.
Quanto às reclamações sobre a qualidade do atendimento no Hospital Ruth Cardoso, o secretário informa que o índice de reclamações diminuiu.
– É óbvio que num hospital as pessoas vão reclamar do atendimento e não porque foram agredidas, por exemplo. Mas em termos de quantidade de reclamação houve uma queda significativa, que mostra a positividade do serviço – disse.
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Intervenção
Em abril de 2012, quando o Ruth Cardoso era administrado pela organização Cruz Vermelha, o município decretou intervenção na unidade. Entre os principais motivos estavam o não pagamento de impostos e o aumento na mortalidade de recém-nascidos ao longo dos meses de janeiro, fevereiro e março daquele ano. Depois disso, o município assumiu a gestão a unidade de saúde, e desde então não veio à tona qualquer aumento no número de bebês mortos na unidade.
A gestão da unidade está em discussão e o secretário Rodrigues diz que não tem uma resposta do Judiciário sobre como isso ficará, mas adianta que, sozinho, o município precisará de ajuda do Estado para tocar o hospital.
– O município banca um hospital que atende cinco municípios, e o investimento destas cidades é irrisório. Então o hospital absorver tudo isso, só se tiver alguma ajuda do Estado – conclui.
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