O período de seca, com exposição de pedras no Rio Itajaí-Açu, chama a atenção em Blumenau. Em pontos importantes do Centro, como próximo à prefeitura, a imagem da Ponte de Ferro se contrasta com rochas que os mais novos provavelmente nunca viram. Em outros lugares, como na Ponte do Salto, trechos da calha do rio já formaram piscinas de água barrenta. Esse cenário, porém, não é consequência apenas de falta de chuvas em 2020.
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Um levantamento feito pelo Santa com base nos dados do Centro de Operação do Sistema de Alerta da Bacia Hidrográfica do Rio Itajaí-Açu (Ceops), órgão ligado à Universidade Regional de Blumenau (Furb), mostra que 16 meses dos últimos dois anos tiveram chuva abaixo da média na cidade. De abril de 2018 a abril de 2020 (recorte de 25 meses), apenas nove períodos tiveram precipitação acima do esperado no município. Veja no gráfico:
A situação se agravou nos últimos seis meses, principalmente de março em diante no Vale do Itajaí. Isso porque o período com chuvas historicamente mais intensas do verão não se confirmou. Fevereiro, por exemplo, único mês deste ano com índice acima da expectativa, não ficou com números tão altos assim — dos 187,3 milímetros esperados, choveu pouco mais, 195 milímetros (entenda abaixo esse critério de análise de chuvas que leva em conta os ‘milímetros’).
Difícil encontrar um porquê, diz especialista
Essa seca dos últimos meses intriga especialistas. De acordo com Dirceu Luís Severo, doutor em Meteorologia e professor do curso de Física da Furb, a previsão para este ano era de que as chuvas fossem consideráveis e bem distribuídas, o que não se confirmou. Em 2020, vale destacar, não há influência nem do El Niño e nem da La Niña, fenômenos que trazem muita precipitação e tempo seco, respectivamente.
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Severo diz que ainda não há nenhum estudo que aponte o porquê desse período de seca no Vale do Itajaí e, principalmente, no Sul do Brasil. Fato, explica o professor, é que o os sistemas que trazem chuvas para a região não estão se confirmando por questões específicas.

— Aparentemente as ondas que trazem frentes frias estão mais ao Sul das áreas que normalmente passam. Elas estão fracas e a umidade que vem da Região Amazônica é pouca. Então quando a frente fria chega, ela não encontra umidade suficiente para ganhar força — aponta Severo, que também é coordenador do curso de pós-graduação em Engenharia Ambiental.
É preciso chuva constante, e bem distribuída
Para que o problema seja amenizado, não é preciso apenas que chova, diz Severo. É necessário, ainda, que essa precipitação seja constante, bem distribuída, e que compense esse período de seca dos últimos seis meses — pelo menos.
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— Na bacia [do Itajaí], temos um problema sério. Onde temos equipamentos de medição do rio, a maioria está fora da água, de tão baixo que está. Soma-se isso a Taió, Itouporanga, com barragens vazias, secas, e a gente tem essa situação problemática. Para aliviar isso precisamos de um período chuvoso, com solo absorvendo bastante água, indo para o lençol freático. Não adianta vir tudo de uma vez — explicar Dirceu Luís Severo.
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O que é ‘milímetro de chuva’
Órgãos oficiais e veículos de imprensa sempre usam o "milímetro" para se referir à chuva. Mas, afinal de contas, quanto isso corresponde na prática?
A gente explica: conforme o Sistema Internacional de Unidades, 1 milímetro equivale a 1 litro de água que se acumulou sobre uma superfície de 1 metro quadrado.
Ou seja, se choveu 20 milímetros durante uma hora, significa que o equivalente a uma bombona grande água foi despejada em um metro quadrado (100cm x 100cm) nesse período de tempo.