O número de atingidos pela estiagem ainda não foi contabilizado pela Defesa Civil, mas milhares de torneiras estão secas em Santa Catarina. Há pelo menos três meses sem chuvas significativas, municípios do Oeste e Meio-Oeste do Estado tentam driblar as dificuldades. Garantir água para o consumo animal e também para a agricultura é o grande desafio.

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Só que em alguns locais também falta água nas áreas urbanas e para a subsistência humana. Em Seara, no Oeste, o problema é antigo e rio que abastece a cidade está seco. Enquanto os homens não tomam providências para combater a estiagem, resta à aposentada Terezinha Martini pedir a Deus que mande chuva para não passar mais um final de ano com a torneira seca, como no ano passado.

– Espero que venha água para o Natal – disse, ao lado da caixa de água reserva no fundo da casa, onde restam apenas 500 litros.

A caixa que fica em cima da casa está vazia há três dias, tempo que não recebe água da Casan. E Terezinha tem apenas 500 litros para tomar banho, beber, lavar a roupa, fazer a comida, lavar a louça e utilizar no banheiro. O banho, é de bacia. A água é jogada no vaso. Na máquina de lavar, a mesma água é utilizada durante três dias.

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– É a coisa mais triste do mundo – diz Terezinha.

A vizinha, Malvina Rodrigues, não vê água saindo da torneira há 15 dias. A única água que chegou nesse período veio de um caminhão dos bombeiros, mas que serve só para tomar banho e limpeza.

Para beber e lavar a louça ela depende das duas viagens diárias que o marido faz a pé, com uma bombona de 20 litros nas costas, para buscar água numa fonte que fica a mil metros de distância.

– Dá uma canseira – desabafa o pedreiro Jandir Rodrigues, mostrando o declive que ele precisa percorrer e que as pessoas que conhecem Seara podem imaginar como é.

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Por isso, Malvina economiza ao máximo a água. Ela coloca a louça suja dentro de uma bacia e vai lavando com um caneco.

– Nós ligamos para a Casan, mas ninguém atende – diz.

Seara é um dos 15 municípios catarinenses que decretaram situação de emergência até agora. Mas poderia estar fora da lista. É que o Governo do Estado investiu mais de R$ 3 milhões num poço profundo, com 588 metros, e que passa mais tempo parado do que funcionando.

Ele foi inaugurado em 2009 e, na estiagem passada, não ajudou porque a bomba estragou e, na retirada, caiu e ficou entalada. Depois que passou o forte da estiagem ele foi arrumado. Mas, há cerca de 15 dias, a bomba novamente teve problemas mecânicos e elétricos. Uma nova bomba, vinda de Maravilha, foi instalada no final de semana. Mas ela não consegue operar continuamente, pois causa sobrecarga no sistema elétrico.

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Enquanto isso, foram contratados três caminhões de uma empresa particular, que transportam um milhão de litros por dia, até o reservatório. De acordo com o diretor de urbanismo e membro da Defesa Civil de Seara, Fábio Stocco, cerca de 50 famílias que moram nas partes mais altas, que não estão sendo abastecidas, estão recebendo água com um caminhão pipa.

De acordo com o assessor de Relações com os Municípios da Superintendência da Casan no Oeste, Nilso Macieski, informou que, apesar de alguns reservatórios terem baixado, Seara é o único município com problemas no abastecimento urbano.

O prejuízo da seca também foi sentido na conta de água da família de João Atílio Parizi, que mora em linha Serra Alta, no interior de Herval d’Oeste, no Meio-Oeste do Estado. No último mês, o consumo na propriedade, onde a água é oriunda de um poço artesiano comunitário, custou R$ 500.

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Além de desembolsar a alta quantia na hora de pagar a fatura, o milho que serviria para alimentar cerca de 130 cabeças de gado leiteiro também precisará ser substituído por alimentos mais caros. Com a falta de chuva, os pés do grão estão secos e impedidos de virar comida para as vacas.

– Gastamos muito porque temos que dar água do poço artesiano para o gado, por conta da estiagem. E vai precisar comprar ração também, porque parte do milho está seca e outros pés nem nasceram – lamenta.

Cisterna garante água para as aves

Após enfrentar pelo menos oito fortes estiagens na última década, o avicultor Adenilso Zampieri, de Herval d’Oeste, resolveu investir em uma cisterna para captar e armazenar 500 mil litros de águas de nascentes da propriedade, na linha Sede Sarandi.

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Ele financiou cerca de R$ 16 mil reais para construir o local de armazenagem e também comprar a bomba que leva a água até os três aviários, onde são criadas 35 mil aves de corte. A medida evitou que os animais ficassem sem água, mesmo após um período de 90 dias sem chuvas significativas.

– A cisterna garante água suficiente para os animais durante quatro meses, mesmo que todas as nascentes sequem. É uma alternativa viável, o sistema é simples e evita maiores complicações nos períodos de estiagem – analisa.

Desde que instalou a cisterna, em maio deste ano, Zampieri enfrenta a falta de água de forma tranquila, diferente de outros vizinhos que precisam contar com o abastecimento de caminhões-pipa para matar a sede dos animais.

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A Defesa Civil Estadual deve contabilizar nesta semana o número de catarinenses atingidos pela seca. Por enquanto, os maiores prejuízos se concentram na agricultura, onde as medidas de resposta são mais difíceis.

No que diz respeito à solicitação de água para o consumo humano, o órgão ainda não teve nenhuma solicitação. E não há outras medidas emergenciais previstas por enquanto. Segundo o diretor de resposta aos desastres, Aldo Baptista Neto, “os kits disponibilizados anteriormente poderão ser reutilizados nas novas ações de assistência, visto que todos os equipamentos adquiridos permaneceram nas regiões para atendimento das comunidades atingidas, o que dá agilidade nas ações de resposta”.

Decretaram emergência

Abdon Batista, Correia Pinto, Erval Velho, Lacerdópolis, Presidente Castello Branco,Seara, Peritiba, Piratuba, Ipira, Jaborá, Joaçaba, Irani, Herval d’Oeste,Lindóia do Sul e Caxambu do Sul

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