Eu sei o que você fez no verão passado. E o que está fazendo nesse também. Tá tudo no Facebook. Ninguém mais finca um guarda-sol sem registrar com toda pompa que a ocasião merece: um check-in e uma fotinho com a legenda “de boa”.

Continua depois da publicidade

Nenhuma cerveja vai pro copo antes de ir pro Face informando que “estamos abrindo os trabalhos”. Nenhum brinde, beijo ou foto de biquinho segurando caipirinha fica de fora. Nem mesmo a informação de que todos os seus orgasmos são múltiplos, esplendorosos, com cascata de fogos, revoada de pássaros e a Orquestra Filarmônica de Berlim. Tá, não é pra tanto. Ou é? Olha…

Verão é sinônimo de relax. Era. Agora você precisa compartilhar esse “relaxamento”. Caso contrário não há a menor graça. Ficou estressante, penoso, uma tortura relaxar sem likes. Bia, ainda com areia no corpo, adicionou 73 fotos ao álbum “Ah, o verão”. Gu adicionou outras tantas ao álbum “Bebo mesmo”. Hoje em dia, um amor de verão pode até não subir a serra, mas sobe à rede com uploads dos melhores momentos.

A “espetacularização” do cotidiano é uma febre, alta, sintomática. Essas redes, que surgiram como um agente para a integração social, criam um ambiente propício para o exibicionismo e o voyerismo. Uma multidão em busca dos seus 15 minutos de fama – previstos por Andy Warhol em 1960.

Continua depois da publicidade

É evidente que existe a opção de se compartilhar ou não da intimidade na internet, existe até mesmo a opção de não participar de redes sociais, mas esta já parece ser uma escolha que limita o trânsito em diversos espaços. A superexposição online tem seus reflexos na vida offline, assim como a ausência.

Isso não é uma campanha antiredes sociais. Eu (literalmente) curto muito o Facebook. É mesmo uma delícia compartilhar um bom momento aqui, uma fotinho ali. O problema é a angústia de quem mal vive o momento pensando na cobertura online. Falo do excesso, da escravidão virtual, da falta de naturalidade, da maquiagem na praia, dos sorrisos fakes pra ex ver, do cabelo intocável, sempre igual.

E se nesse verão você esquecesse a plateia e mergulhasse mesmo? De cabelo desgrenhado. Até onde eu sei, ser feliz despenteia. Se você se permitir se jogar no mar e tomar aquele caldo que leva de rolo, faz pagar peitinho, cofrinho e repensar a existência em nove segundos, sem que nenhum dos seus contatos sequer sonhe com isso? Aquelas felicidades offlines, lembra?

Continua depois da publicidade

Os verões em que a gente passava o final de semana todo na praia. Relaxando de verdade. Sabiam do nosso paradeiro apenas os amigos que haviam ligado antes no telefone fixo. Os outros só descobririam na segundafeira, quando todo mundo chegava na escola com o nariz descascando.

O que aconteceu na Praia do Matadeiro, no verão de 1991, quando eu e a Dani fugimos a tarde inteira dos nossos pais, eles jamais saberiam pela internet. A gente era feliz e não sabia. A gente era muito cool e não sabia. Aquilo hoje renderia muitos likes. Aquilo era curtir o verão.

Se você também quer escrever um texto para a cobertura de verão, envie um e-mail para veraosc@gruporbs.com.br

Continua depois da publicidade