As eleições gerais de 2022 tomaram a sua rotina nos últimos meses. Você já ouviu propostas, assistiu a algum debate e até achou graça de alguma propaganda eleitoral. Se desiludiu ou se interessou por algum nome. Recebeu santinhos e viu bandeiras tremulando pelas ruas. Foi inundado de notícias e pedidos de votos nas redes sociais, mesmo que tenha evitado o assunto. E talvez até entrou em alguma discussão no WhatsApp. Mas, ainda assim, pode ter ficado a dúvida: por que ir votar?
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Porque cada voto faz a diferença, segundo defende a catarinense Valquíria Schwarz, 43 anos, que diz ser a prova viva disso. Candidata à prefeitura de Santa Terezinha, pequeno município no Alto Vale do Itajaí, em 2020, ela perdeu a disputa para o concorrente eleito por um voto de diferença.
– Jamais imaginei passar por essa situação. Ainda hoje encontro pessoas que vêm me falar dos motivos de não terem ido votar, porque atrasaram em uma viagem ou tiveram um problema no carro. Cada motivo é de um cidadão que poderia ter mudado a história da cidade – afirma a comerciante, que teve 2.545 votos naquele ano.
No primeiro turno deste domingo, dia 2 de outubro, o número de eleitores será bem maior: 5.489.658 só em Santa Catarina, que vão escolher o presidente da República, o governador do Estado, um senador e 56 deputados, entre os federais e os estaduais. Com tantos envolvidos, há ainda razão para votar? O município de Ermo, no Sul do Estado, tem parte da resposta.
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A pequena cidade soma hoje 2.210 pessoas aptas a votar. Há quatro anos, o número também era pequeno, equivalente a apenas 0,03% do volume total de eleitores catarinenses – por si só, o eleitorado local não seria grande o bastante para eleger nem sequer um deputado estadual. Ainda assim, o município foi o que teve a maior taxa de comparecimento no Estado, com a ida de 93,68% dos votantes às urnas.
Segundo o morador Jiovani Simon, 64 anos, a ideia é simples: quem participa é lembrado. Nascido em Ermo, quando a cidade ainda era apenas uma vila da vizinha Turvo, ele relata já ser cultural a circulação de cabos eleitorais em cada casa durante as campanhas, para estimular a participação e angariar votos. Ele próprio se engaja nos trabalhos, mas não apenas para impulsionar os próprios candidatos, e mais por ver na política um caminho inevitável para melhorar a comunidade.
– Gosto de participar pelo município, para ele poder crescer, porque sempre quis que meus filhos se criassem perto de mim – diz Simon, que vive perto das duas filhas, moradoras da cidade, e de um neto de quatro anos.
Em Calmon, município do Meio-Oeste, Odirlei Santos, 33 anos, diz fazer defesa parecida das eleições em conversas com os clientes que frequentam o bar. Apesar de política ser tema comum no balcão do estabelecimento, ela aparece, em muitos relatos, com desalentado, de eleitores que já abriram mão de votar. A cidade é justamente a que teve maior abstenção nas últimas eleições gerais no Estado: 27,92% não votaram.
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– Tento explicar que um político pode trazer emendas lá de Brasília, trazer melhorias para a cidade. É difícil alguém ter tempo para explicar isso, mas, se uma pessoa entende, ela também vai falar disso em casa para a família e assim vai – afirma.
“Por que não votar?”, questiona especialista
O cientista político Julian Borba reforça os argumentos e é definitivo ao ressaltar que, no fim das contas, alguém precisa ser eleito. Ou seja, a questão é por que não votar?
– Mandatos continuarão acontecendo, representantes continuarão sendo eleitos. E se você não comparecer à votação, alguém terá feito a escolha por você – afirma Borba, que é professor da UFSC.
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O acadêmico ainda aponta que as eleições legitimam a democracia, sistema de poder baseado na ideia de soberania do povo, no consenso das vontades de cada pessoa:
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– O processo eleitoral é o principal momento dos regimes democráticos contemporâneos, é quando o eleitor tem condições de fazer escolhas. As democracias se definem, entre outras coisas, por esse momento, quando a população adulta escolhe seus mandatários, autoriza aqueles que serão seus futuros representantes, julga os que estão em seus mandatos. Então é um momento, por excelência, que caracteriza as democracias representativas – explica.
Exercício da cidadania
O presidente do Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina (TRE-SC), o desembargador Leopoldo Augusto Brüggemann, lista argumentos parecidos e faz coro à defesa do voto:
– O voto é o exercício maior da cidadania. O eleitor tem que ter a consciência de que, ao votar, está elegendo representantes para exercerem toda a sua vontade. É uma procuração que é dada com prazo de validade. Então, é preciso pensar e escolher o candidato que efetivamente responda aos seus anseios.
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Em SC, 16,31% dos eleitores (826.904) não foram às urnas no primeiro turno de 2018 – no país, a taxa foi de 20,32%. O índice foi mais preocupante no Estado entre os grupos menos escolarizados. No caso dos eleitores analfabetos, mais da metade (53,10%) se absteve. Entre quem tem ensino superior, a abstenção foi de 8,92%.
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O cientista político Emerson Cervi, que estudou o fenômeno das abstenções, diz que isso é comum a outras eleições. Segundo ele, homens e moradores dos grandes centros também compõem o perfil dos eleitores que deixam de votar.
– Isso tem a ver, entre outras coisas, com a percepção de utilidade do voto. Quem percebe a participação menos relevante para si, tende a participar menos – afirma Cervi, que atua ainda como professor da UFPR.
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Já Borba, da UFSC, diz que a subparticipação de alguns grupos também é parte de um ciclo vicioso. Ela surge das desigualdades sociais e resulta em menor diversidade entre os eleitos. Grupos subrepresentados têm maiores dificuldades de verem as demandas serem contempladas por políticas públicas, reforçando ciclo de desigualdades.
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