Juliano Azeredo, 36 anos, ainda não sabe se conseguirá voltar a trabalhar na profissão que escolheu há duas décadas. O pescador de Itajaí era o único catarinense a bordo do barco Nossa Senhora do Carmo I, que naufragou em Angra dos Reis, a 70 quilômetros da Ilha Grande, na costa sul do Rio de Janeiro, no dia 8 de novembro. Dos 23 tripulantes, cinco continuam desaparecidos e as lembranças ainda são fortes. Juliano passou cerca de duas horas à deriva, enfrentando ondas de até três metros de altura no mar gelado. Já em casa, ele diz que teve medo de não sobreviver:
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— Se o resgate tivesse demorado mais 20 minutos, eu não aguentaria — afirma.
O barco Nossa Senhora do Carmo I partiu de Itajaí 18 dias antes do naufrágio. A maioria dos pescadores era do Rio de Janeiro, e veio de ônibus a Santa Catarina para o embarque. Era a primeira viagem do barco, que havia sido reformado.
Desde o início do trajeto, Juliano, piloto da embarcação, percebeu que havia algo errado. Segundo ele, a casaria do barco era alta e ele ficou pesado, o que vinha refletindo nos equipamentos que o direcionavam. Segundo o pescador, o barco chegou a ser multado pela Capitania dos Portos na Baía de Guanabara, porque não era seguro.
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O problema que levou ao naufrágio ocorreu com o piloto eletrônico, que teve uma suposta pane quando o barco encontrou uma condição ruim, com mar alto e vento forte. A embarcação tombou e, em dois minutos, estava completamente submersa.
—Vi que tinha alguma coisa errada quando começou a entrar água na casa de máquinas. Comecei a gritar para acordar todo mundo, um foi acordando o outro. Mas tem gente que não conseguiu sair — diz Juliano.
Não houve tempo sequer para que todos os tripulantes conseguissem buscar o equipamento salva-vidas. Os sobreviventes acreditam que pelo menos dois colegas não tenham saído do barco. Um terceiro chegou a se aproximar de Juliano, nadando e aparentemente muito cansado, mas desapareceu antes da chegada do resgate.
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Sinalizador
Os pescadores foram encontrados graças a um sinalizador. Um dos tripulantes conseguiu acessar o bote salva-vidas e acionar o dispositivo, que alertou um navio e um outro barco de pesca que navegava próximo.
— O navio chegou antes, mas não tinha como encostar. Ele acendeu as luzes e clareou a água para o barco de pesca. Eu já não aguentava mais, nadava para me esquentar, porque estava muito frio, mas já começava a ter cãibras — conta Juliano.
Pai de um bebê de dois meses, ele pensava na mulher, Cristina, e no filho. A volta a Itajaí teve direito a comemoração no fim de semana.
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Dono do barco diz que vistorias não apontaram problemas
Dono do Nossa Senhora do Carmo I, Ricardo de Souza afirmou que o barco passou por uma vistoria seca e outra flutuante e nenhuma delas constatou problemas. A reforma, diz ele, foi paga pelo grupo Gomes da Costa. Em relação à suposta multa, citada por Azeredo, Souza afirma que nada chegou até o momento para ele:
— Toda a documentação está em dia. Foi feita uma vistoria seca e outra flutuante. Estava tudo certinho com o barco.
A Gomes da Costa enviou nota sobre o caso: “Esclarecemos que a embarcação Nossa Senhora do Carmo, que naufragou no Rio de Janeiro não é da Gomes da Costa. A empresa não possui barcos próprios, apenas compra o pescado entregue pelo armador responsável pelo atuneiro. A Gomes da Costa lamenta o ocorrido e se solidariza com as famílias”.
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