Moriel, do Dazaranha, comemora 5 anos do personagem Darci
Manezinho do bairro João Paulo, há cinco anos Moriel Adriano da Costa era “apenas” o guitarrista e principal compositor de uma das bandas mais queridas de Santa Catarina, o Dazaranha. Depois de um convite da Rádio Atlântida para fazer um programete de humor, viu a vida mudar com a criação do Mané Darci, que tira sarro do jeito característico de falar e dos causos do povo ilhéu.
Continua depois da publicidade
Caetano Veloso, sobre Anitta: “É a nova cantora brasileira mais dotada tecnicamente”
8 baladas para curtir o feriado em Santa Catarina
Continua depois da publicidade
Casado há mais de duas décadas, pai de três filhos, dono de dois cachorros e um gato, Moriel é um apaixonado pelo Leste da Ilha, onde costuma surfar e pescar. Prestes a comemorar o aniversário do personagem no show Darci 5 Anos – o evento, neste domingo, terá uma sessão extra às 17h30 pois a das 21h já está quase esgotada – no Teatro do CIC, ele recebeu a equipe do DC em sua casa na Praia Mole para um papo sério sobre música e humor.
Quando nasceu o Darci?
O Darci nasceu quando eu era criança, observando a comunidade. Já percebia que a galera fazia um monte de loucura e que o humor, a alegria e a zoeira já faziam parte do cotidiano da Ilha. Meu avô morava na Costa da Lagoa e aos fins de semana eu dormia lá, e foi muito legal porque ali é um laboratório humano. A Costa é muito interessante. Conviver com aquela comunicação, aquele jeito de falar e ver a mistura de indígena com pescador. Eu a considero a mais saborosa e deliciosa comunidade da Ilha.
E o personagem, quando você teve a ideia de se caracterizar?
Sempre brinquei de imitar. Até que um amigo, o George Fortunato, que trabalhava no comercial das rádios da RBS, deu a ideia de fazer um personagem para a rádio Atlântida. Fiz uns dez programetes e ele mostrou para a galera. O pessoal foi gostando e hoje temos aproximadamente 500 historinhas do Darci. São quatro programetes na rádio por dia. Foi muito legal a história de brincar e ficar atento ao valor das bobagens.
Continua depois da publicidade
Foi a partir desse convite que você percebeu que a brincadeira estava ficando séria e decidiu profissionalizar o personagem?
Sim, e tem uma pessoa muito importante nesse processo que se chama Luciana Coppio (esposa), que foi quem falou: “bota o chapeú e vai ali na pizzaria”. Perguntei o porquê, se ela achava que eu tinha potencial. “Não, a nossa conta tá 5 mil negativo”. Aí pronto. Eu ia com um papelzinho na mão contando piadinha por piadinha, porque nunca tinha feito aquilo ali. Esse tipo de comunicação, se tu tiveres pudor, vergonha de falar aquilo pras pessoas, tu estás perdido, arrasado.
Como você cria as piadas?
Eu gosto da piada. Primeira coisa, eu gosto e acredito na piada. Eu tenho que aprovar e ela tem que estar fora de vários critérios. Tem que tomar cuidado, transitar no limite. Acho que o impacto da piada é levar as pessoas a acreditarem em uma coisa e de repente tu vais pra outro lado. Essa ação de surpreender é o que gera a mecânica do humor. “Putz, o cara me pegou”. É engraçado por isso. Interpretar as coisas sérias da vida. Muita gente tem que perceber que curtir a vida é uma coisa que tem ser feita todo dia.
Continua depois da publicidade
A sua família opina?
Eu tenho duas famílias. A com quem eu vivo, que é minha mulher e meus filhos, está toda hora ajudando, cortando, trazendo coisas boas. Tenho meu filho de 21 anos, o Ícaro, que faz Arquitetura. Ele anda no meio de um monte de galerinha e de vez em quando traz um medalhão pro papai. Meu pai também é muito engraçado. E tem o Dazaranha, que é um laboratório gigante. Conviver 23 anos com uma banda de rock é estar na estrada muito tempo ocioso, e sai umas coisas muito engraçadas.
Isso ajuda a manter teu repertório atualizado?
Sem dúvida. Só de ficar do lado do Adauto, do Gazu ou do Chico por cinco minutos tu já tens uma piada do Darci pra contar.
Moriel da Costa em sua casa na Praia Mole
Hoje você se dedica mais ao Daza ou ao Darci?
Antes de vocês chegarem, eu estava fazendo fazendo um som. Mas o Darci, hoje, acaba demandando mais tempo. Com a rádio, a gente faz promoções, comerciais para alguns produtos e empresas, então, tem esse outro lado que a gente atende.
Continua depois da publicidade
O Darci ficou maior que o Dazaranha?
Não. Não tem como. Primeiro que são áreas de arte diferentes, música e humor. Ser mais ativo não significa ser maior. Porque o impacto do Daza é muito forte. É uma coisa que já faz parte até do DNA da galera, entendeu? E o Darci é uma coisa que está começando. Em alguns momentos, eu acabei tendo que atender o crescimento do personagem. Mas o Daza, em nenhum momento, me disse “ou lá ou aqui”. Até adorou saber que esse produto de humor nasceu da banda, ela sabe que é a responsável por fornecer bobagens de qualidade.
Mas em relação ao faturamento, você ganha mais com o Darci do que com o Daza?
Sim. Se dá mais trabalho, dá mais resultado. Só que é um personagem em que tens que investir em uma assessoria de imprensa, fazer desenhos pra fazer tirinhas, fazer vídeos, gravar em estúdios, então tem todo um trabalho. Pra manter essa estrutura para o personagem continuar vivo e atualizado, a gente tem que se dedicar muito, tem que pagar para isso acontecer todos os dias.
Você imaginou que o personagem ia se tornar tão grande?
Não. Eu nunca imaginei que ia fazer um personagem. Tanto que o chapéu e óculos é pra se esconder. As pessoas pensam: “é um doidão”. Ali atrás tem um cara que tu não sabes nem o que ele vai dizer. Quando chega um cara muito louco, ele pode dizer qualquer coisa. Acho que esse é o fator surpresa do Darci. Eu tento encontrar um humor com qualidade, e para isso não precisa sempre fazer todo mundo rir muito.
Continua depois da publicidade
O Darci começou em Floripa mas hoje se apresenta em outras regiões do Estado. Como você trabalha ele fora da Ilha?
Eu desacelero um pouco. Tento conhecer o espírito do evento, saber do que se trata, enaltecer as pessoas presentes. Tento fazer uma relação da pessoa com o que há de mais importante naquele encontro. Se é um evento agrícola, eu tento contar umas piadas de animais, porcos, fazenda. Se é no litoral, já falo mais de peixe.
Hoje tem uma discussão sobre como fazer humor inteligente e provocador sem cair em ofensas gratuitas. Você comentou que tem um cuidado na hora de criar as piadas. Você acha que o humor deve ter limites? Coloca limites nas suas piadas?
Continua depois da publicidade
Existem algumas áreas que estão fora. Racismo, sem chance. Pegar no pé dos gaúchos, fora. Brincar com deficiência, fora. Já áreas relacionadas às relações humanas, dentro. Conflitos que existem entre homem e mulher, dentro. Outra coisa que entra é o quanto o manezinho desconhece, o quanto o inglês, a tecnologia e o novo mundo tão invadindo o mundo deles. Mas assim, no humor tem que assumir o que brincou. Se as pessoas riram e foi bom, parabéns. Se vaiaram, tu erraste. Eu não tive ainda essa vivência de ser vaiado, desrespeitado ou desqualificado da função de fazer os outros rirem.
Depois do show do Expresso e do Dazaranha (no CIC, em setembro) foi criada uma petição que pedia para você parar de fazer piadas machistas. Como foi sua reação a isso?
Eu não sei quem é a pessoa que criou e é a primeira vez que tô falando sobre isso. Acho que quando tu vais em um espetáculo de humor, as pessoas têm o direito de concordar ou discordar. E eu tenho o direito de interpretar um manezinho de 1960 que é machista. Quando uma mulher se sente ofendida com alguma piada minha que ela acha que é machismo, esse machismo tá muito caracterizado. Agora, se tu queres livrar um personagem dos caracteres dele, tens que criar outro personagem. E outro personagem eu não sei fazer. Quando ela diz que sou violento e agressivo é uma interpretação dela, eu não consigo ver violência realmente porque não existe uma intenção de diminuir. Eu tenho mulheres na minha vida também, eu convivo com meu mundo feminino.
Continua depois da publicidade
Agende-se
O quê: show de stand-up comedy Darci 5 anos
Quando: domingo, às 17h30min (sessão extra) e às 21h
Onde: Teatro Ademir Rosa, no CIC (Av. Gov. Irineu Bornhausen, 5.600, Agronômica, Florianópolis)
Quanto: R$ 50 e R$ 25 (meia), à venda no Blueticket ou na bilheteria do Teatro
Classificação: 16 anos