Figura mais influente – e polêmica – da política paraguaia, o ex-general Lino Cesar Oviedo quer ser mediador entre o governo de Federico Franco e Dilma Rousseff. Acredita que pode convencer o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma de que o impeachment de Fernando Lugo ocorreu dentro da lei. Confira abaixo a síntese de duas horas de entrevista.
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Zero Hora – Por que Lugo sofreu o impeachment?
Lino César Oviedo – Para ganhar votos, Lugo mentiu aos agricultores, dizendo: “os brasileiros invadiram essas terras. Se eu for presidente, eu vou dar isso a vocês”. E as pessoas acreditam que um bispo não seria corrupto. Mas ele não cumpriu as promessas. Gerou uma xenofobia de agricultores contra brasiguaios, ocupando terras, enfrentamentos. Assaltaram quartéis, sedes policiais.
ZH – Lugo fomentou violência?
Oviedo – A bandeira brasileira foi queimada diante de todos por um governador amigo de Lugo. As pessoas estão dizendo que foi um golpe parlamentar. Federico Franco é mais legítimo do que Lugo, que conseguiu governar porque fez uma aliança com os liberais, e, depois, afastou-se. Ao final, tinha apenas três senadores e um deputado.
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ZH – Em 30 horas, parece que não houve tempo suficiente para que o impeachment fosse discutido?
Oviedo – A regra é essa. É um processo sumaríssimo porque é um juízo político. Se demorasse mais, Lugo usaria armas do exército pelas mãos de agricultores e haveria matança. Lugo reuniu os comandantes das forças militares no palácio, pediu apoio, e os generais disseram: “Não, vamos respeitar a Constituição”.
ZH – A posição do Brasil de não reconhecer o governo Franco o preocupa?
Oviedo – Os brasiguaios são os maiores e melhores produtores de grãos. Toda a soja, 7 milhões de toneladas, é comprada pelo Brasil. O que irão dizer Perdigão? Sadia? Vão deixar que a soja vá para a China? O que acontecerá ao porto de Paranaguá? Outra razão é geopolítica: nem mil, nem cem mil Dilmas podem levar o Paraguai para a Suíça e trazer a Suíça para cá. Nascemos vizinhos, crescemos vizinhos e acho que vamos morrer como vizinhos. E Itaipu? Estamos unidos. Se Brasil fechar a fronteira, tráfico de drogas, de armas, de maconha, de alguma coisa os paraguaios vão viver. Vão colocar polícia estadual, federal, alfândega a cada cem metros? Compram todos. O dólar fecha o olho de qualquer um.
ZH – O senhor disse a um jornal paraguaio que quer se oferecer para mediar a crise com o Brasil. O que o senhor faria?
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Oviedo – Ligaria para o presidente Lula.
ZH – Vocês falam com frequência?
Oviedo – Posso visitar Lula a hora que quiser, só preciso ligar e agendar. E ele vai abrir a porta de Dilma, com certeza. Conhece melhor do que todos o problema do Paraguai. Mais de um ano atrás, Lula veio alertar Lugo: “você tem que fazer acordos políticos, não pode governar com três senadores e um deputado”.
ZH – O senhor acredita que, nessa situação, Lula teria mais poder do que Dilma?
Oviedo – Não. Dilma é uma mulher capaz, dura, firme. Ela tem total liberdade na administração do Brasil, mas quem a respalda politicamente chama-se Luiz Inácio Lula da Silva.
Uma ligação no celular de Oviedo interrompe a entrevista. O toque é uma canção que diz: “Se sente, se sente, Oviedo presidente”. Após falar com o interlocutor, Oviedo retoma a conversa.
ZH – A música do seu celular… Ser presidente é um sonho?
Oviedo – Se Deus e o povo me permitirem, sim. Primeiro que já ganhei (ele foi nomeado candidato presidencial do Partido Colorado, em 1997, mas foi condenado por um tribunal militar a 10 anos de prisão pela tentativa de golpe de 1996), e a oligarquia corrupta não me permitiu assumir. Aqui é comum: quem ganha, perde; quem perde, ganha.
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