No dia 26 de fevereiro, mesmo se não estiver numa das poltronas do Kodak Theatre, um brasileiro concorre ao Oscar de efeitos visuais. Dono de um currículo recheado de superproduções, de Sin City (2005) a Alice no País das Maravilhas (2010), Rodrigo Teixeira foi o supervisor 3D na equipe liderada por Ben Grossmann – um dos nomes que devem subir ao palco se A Invenção de Hugo Cabret for premiado na categoria.
Continua depois da publicidade
A presença de Rodrigo, 35 anos, ainda não foi confirmada porque, embora o estúdio tenha requerido lugares para os cinco supervisores, a Academia de Hollywood é econômica na distribuição de assentos para as categorias técnicas – maridos e mulheres dos indicados, por exemplo, não devem entrar na lista. Mas, diante das 11 indicações do filme, incluindo o resultado dos 14 meses de trabalho em efeitos visuais, que envolveu 483 pessoas em nove países, Rodrigo já tem o que comemorar:
– Para mim, basta que o Ben esteja lá para que nós sejamos bem representados.
Em entrevista concedida por telefone, Rodrigo relatou a Zero Hora a experiência de trabalhar com o diretor Martin Scorsese e como foi a comemoração da equipe depois do anúncio dos indicados ao Oscar.
Zero Hora – Como foi seu contato com Martin Scorsese ao longo do processo de pós-produção?
Continua depois da publicidade
Rodrigo Teixeira – Pela divisão do filme, Scorsese ficou a maior parte do tempo em Nova York. Nosso contato com ele era diário, por videoconferência, conversando, ou ele vendo nossa tela de computador: com seu mouse, Scorsese podia mover as câmeras do jeito que queria, mover prédios de lugar… Depois o contato passou a ser de uma ou duas vezes por semana e, no fim, voltou a ser diário.
ZH – Que impressão ele lhe deixou como diretor?
Teixeira – Ele é um cara fantástico, tem um timing inacreditável para contar histórias. Nessas reuniões, também estava o pessoal da montagem, e ele fazia alguns comentários inacreditáveis. Você ficava: “Puxa, como eu não pensei nisso antes?”. Scorsese fazia dois ou três cortes rápidos que equivaliam a 10 minutos da história. Só de estar perto, presenciando isso, já era surreal. Todo mundo me pergunta: “Você não ficou tiete?”, “Não fica deslumbrado?”. Mas é tão sério o trabalho que você se acostuma. Foi da mesma forma com o Tim Burton, com o Rolland Emmerich, com o Robert Rodriguez. Ali está o diretor, que bom que você está ali, e tem que fazer o trabalho, simples assim.
ZH – Vocês estavam na expectativa de tantas indicações?
Teixeira – Não, nem um pouco. Nós esperávamos a de melhor diretor e, quem sabe, a de melhor filme, mas nunca todas as 11 indicações que o filme acabou recebendo.
ZH – Como foi a comemoração?
Teixeira – A comemoração não foi. Nenhum de nós tem salto alto ou vive de glória. Em todos os filmes que acabei, nós olhamos para trás, agradecemos à equipe, e bola para a frente. Obviamente, todos acabamos tendo uma procura da imprensa, o que é bacana. Mas para por aí. Essa é a nossa vitória.
Continua depois da publicidade