A chuva que atingiu Santa Catarina entre terça-feira (17) e quarta-feira (18) voltou a deixar rastro de destruição e mortes. É a terceira vez em menos de dois meses que cidades do Estado registram estragos e vítimas por conta de temporais e grandes volumes de precipitação em curto espaço de tempo. 

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Deslizamentos, enchentes, enxurradas, desaparecidos, mobilização de resgate e mortos foram algumas das situações que se repetiram desde o fim do ano passado. Desta vez, a cidade mais atingida foi Rodeio, no Médio Vale do Itajaí. No pequeno município com pouco mais de 11 mil habitantes, quatro mortes já foram confirmadas e os bombeiros ainda buscam por uma bebê de 1 ano que foi arrastada pela água.

Em novembro de 2022, Santa Catarina já havia sofrido com fortes chuvas em todas as regiões por mais de uma semana. Foram oito dias de tensão em 30 municípios que decretaram situação de emergência. À época, São João Batista, na Grande Florianópolis, chegou a ficar embaixo d’água. A cidade se referiu ao fenômeno com “uma das piores tragédias”. Moradores chegaram a ter de nadar até helicópteros para conseguirem resgate.

A chuva forte provocou também um grande deslizamento de terra na BR-376, entre o Paraná e Santa Catarina. Dezenas de carros e caminhões foram arrastados e duas mortes foram confirmadas no local. A liberação da rodovia federal demorou quase 10 dias para ocorrer, o que provocou longos congestionamentos na BR-101 e em atalhos ao Paraná, como pela BR-470.

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O último levantamento da Defesa Civil na época, em 3 de dezembro, contabilizou três mortes relacionadas às chuvas. Um homem eletrocutado ao atravessar uma região alagada em Palhoça, na Grande Florianópolis, e um soterrado em Brusque, no Vale do Itajaí. A terceira vítima estava em um abrigo e morreu de causas naturais.

Na ocasião, 15 rodovias precisaram ser interditadas devido aos deslizamentos causados pela chuva. Apesar de todo o Estado ter entrado em alerta, o Sul, planaltos Norte e Sul, Alto Vale do Itajaí e Grande Florianópolis foram as regiões mais atingidas. 

São João Batista ficou embaixo d’água (Foto: Reprodução)

As enchentes no Médio Vale do Itajaí

Poucos dias depois, ainda no início de dezembro, a forte chuva voltou a causar estragos no Médio Vale do Itajaí. Cidades margeadas pelo Rio Benedito sofreram com enchente e Benedito Novo, município com cerca de 12 mil habitantes, foi o mais castigado. A cidade amanheceu quase completamente alagada no perímetro urbano. O rio encheu rapidamente e moradores mal tiveram tempo de erguer os móveis antes de sair de casa. Alguns chegaram e se referir ao contexto como um “cenário de guerra”.

À época, Rodeio, cidade mais afetada nesta semana, também lidou com uma enchente.

Estragos em Benedito Novo causados pela enchente de dezembro (Foto: Divulgação)

A chuva que castigou o Litoral Norte e Grande Florianópolis

Cerca de 15 dias depois, em 20 de dezembro, novamente a chuva intensa causou estragos e fez com que ao menos seis cidades decretassem emergência. Trechos da BR-376 e da BR-101 ficaram completamente interditados. A primeira, principal ligação entre o Paraná e Santa Catarina, foi novamente fechada devido ao acúmulo de água na pista — o que causou grande congestionamento de carros no pré-feriado de Natal. 

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Na Grande Florianópolis, a BR-101 no Morro dos Cavalos foi totalmente interditada. Santo Amaro da Imperatriz, que já havia decretado situação de emergência em 30 de novembro, voltou a ser afetada. Na Capital, ao menos 40 ruas foram alagadas, houve interdições nas SCs 401 e 406 e ao menos 40 imóveis tiveram de ser parcialmente ou totalmente interditados para vistorias.L

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A tragédia de Rodeio

Nesta semana, menos de um mês dos últimos registros de estragos, o Estado voltou a viver situações de horror em diversas cidades, principalmente no Médio Vale do Itajaí. Quatro pessoas morreram, entre eles pai e filha que tiveram a casa arrastada por 700 metros. Eles foram identificados como Geovani Tabaldi, de 30 anos, e Melyssa do Prado de Oliveira, de 4 anos. Ainda na quarta-feira (18), o corpo de Reinaldo Lamim, 41 anos, também foi achado próximo ao Rio Nova Brasília.

Na manhã desta sexta-feira (20), Alaerte Borba de Paula, 50, foi encontrado a cerca de 100 metros de onde havia desaparecido na noite de terça-feira (17).

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Rodeio, no Médio Vale, foi a cidade mais atingida pelo temporal de 17 de janeiro deste ano (Foto: Patrick Rodrigues, Santa)

O que explica a frequência de tragédias em SC?

Conforme a professora de Oceanografia e Clima na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Regina Rodrigues, as fortes tempestades devem ser cada vez mais comuns nos próximos anos devido às mudanças climáticas e a localização de Santa Catarina no mapa.

— Santa Catarina está em uma zona de transição entre o clima tropical e temperado, o que faz com que as fortes chuvas aconteçam com mais frequência devido às grandes diferenças de temperatura cada vez mais visíveis. Quanto maior for essa diferença, mais forte serão os temporais — explica. 

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Segundo ela, os estragos são causados por falta de estrutura e preparo com os lugares que sofrem com a situação. Conforme explica, não há como prever temporais com muita antecedência, ainda mais porque as previsões são baseadas em dados anteriores e, atualmente, a situação tem fugido do comum.

— O ser humano está modificando o uso do solo e desmatando lugares que têm capacidade maior de absorção de água. Quando isso acontece, a água acumula e provoca o aumento das enxurradas, por exemplo.

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Para que sejam vistos menos estragos no Estado, de acordo com a especialista, as cidades precisam ser construídas com um sistema de drenagem suficiente para dar conta do volume de água, assim como as casas serem construídas com materiais mais resistentes.

“Nos abraçamos e oramos para não morrer”

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