Um programa que mire aprimorar a alfabetização de crianças nos anos iniciais do ensino básico tem ao menos três desafios que se sobressaem na visão de dirigentes e especialistas da área ouvidos pela reportagem. São eles: a formação de professores, as condições físicas e de recursos, como material didático, e a recomposição de aprendizagem prejudicada como reflexo da pandemia.
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A definição das políticas locais de alfabetização e o novo programa federal são vistos como importantes para garantir o financiamento e as ações para corrigir estas questões.
A analista de Políticas Educacionais do Todos Pela Educação, Natália Fregonesi, explica que o compromisso nacional surgiu após a pesquisa Alfabetiza Brasil, contratada pelo Inep, órgão ligado ao MEC, que apontou que 56% das crianças no 2º ano do Ensino Fundamental foram consideradas não alfabetizadas.
Na visão dela, a situação exigia uma política bem estruturada voltada à alfabetização no país.
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— Outro acerto do programa é que ele traz uma visão sistêmica. Não são ações pontuais, como apenas a formação de professores alfabetizadores, mas um plano com vários eixos de trabalho que envolvem formação de professores, mas também material didático, infraestrutura, sistemas de avaliação — analisa.
O professor da Udesc e diretor de Formação e Valorização dos Profissionais da Educação do Ministério da Educação, Lourival José Martins Filho, lembra que crianças alfabetizadas com qualidade têm trajetórias escolares bem-sucedidas e que por isso estados e municípios precisam elaborar suas políticas locais, com metas e estratégias.
Na avaliação dele, o principal desafio continua sendo o de atingir as metas do Plano Nacional, de alfabetizar todas as crianças com qualidade.
— No caso de Santa Catarina, a política local precisa explicitar aquilo que já se faz tão bem no território estadual, pois a qualidade do ensino catarinense, pelo trabalho de seus profissionais da educação, é inquestionável e notória — avalia.
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Veja abaixo 3 desafios da alfabetização em SC apontados por especialistas ouvidos pela reportagem.
Formação de professores
Um dos desafios citados por entrevistados é a formação dos professores. O tema envolve tanto a formação inicial, nas graduações de pedagogia e áreas voltadas à atuação em sala de aula, quanto a chamada formação continuada, com cursos e capacitações permanentes aos educadores.
Os novos formatos de graduação que preparam os educadores e também a necessidade de novas habilidades para lecionar no atual contexto de recursos digitais e maior concorrência de atenção dos alunos com as novas mídias são vistos como pontos que carecem de ações e que precisam ser contemplados.
Recursos e condições físicas
A disponibilidade de recursos para a construção de bibliotecas e salas temáticas de leitura, ambientadas para a alfabetização, com material didático complementar e capaz de engajar os alunos nesta fase de ensino são outros desafios apontados por quem acompanha a área.
Essas estratégias poderiam ajudar a evitar outro problema apontado, que é a evasão de estudantes em razão das questões sociais do país.
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— Não é porque o Sul talvez demonstre um pouco mais de organização que não tenha suas carências — frisa o presidente da Undime-SC, Alex Tardetti.
Reflexos da pandemia
Por fim, outra política pública apontada como necessária e que faz parte do Compromisso Nacional Criança Alfabetizada é a recomposição da aprendizagem, em especial em turmas do 3º, 4º e 5º ano, que tiveram o processo de alfabetização prejudicado pela necessidade de aulas exclusivamente remotas quando os alunos estavam nos dois primeiros anos do ensino fundamental.
Essa recuperação de conteúdos está prevista no pacto nacional e também é apontada como importante por dirigentes educacionais de SC.
— Saímos de uma pandemia em que os nossos alunos, no formato on-line, não tiveram condições de se apropriar do processo de alfabetização, que não é só a compreensão da letra, mas também a socialização, a construção da cidadania. Então, isso tudo (políticas locais) vem para oportunizar a todos uma educação de qualidade e social — avalia o coordenador estadual do UNCME-SC, Claudio Luiz Orço.
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