Santa Catarina acompanhou a decisão conjunta dos estados brasileiros e vai congelar o ICMS sobre o preço de combustíveis pelos próximos 90 dias. A decisão foi tomada nesta sexta-feira (29) em reunião do Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz), que reúne os secretários estaduais de Fazenda.

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Preço médio da gasolina passa de R$ 6 em pelo menos 13 cidades de SC; veja lista

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O anúncio ocorre em meio a uma crescente alta no preço do diesel e da gasolina, que em alguns estados já passa de R$ 7. Em SC, o preço já supera R$ 6,50 em grande parte das cidades. Desde janeiro, a alta no país já chega a 73%.

O ICMS é um imposto estadual que é aplicado sobre um valor médio do combustível cobrado em cada estado (chamado pela expressão de “preço médio ponderado ao consumidor final”). Em Santa Catarina, essa média é calculada com pesquisas de preço e atualizada em média uma vez por mês.

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Atualmente, por exemplo, empresas do ramo de combustíveis pagam ICMS sobre o valor de R$ 5,77 no litro da gasolina, base de cálculo atualizada em 16 de outubro, segundo a assessoria da Secretaria de Estado da Fazenda. O pagamento é feito antecipadamente para a Petrobras, que é quem repassa o tributo para o Estado.

Com o congelamento, mesmo que o valor da gasolina suba nos próximos 90 dias, a cobrança do imposto estadual será apenas sobre o valor fixo. O Estado ainda não confirmou se o congelamento entra em vigor a partir de agora, mas o Ministério da Economia informou que o congelamento deve valer de 1º de novembro de 2021 a 31 de janeiro de 2022.

Medida pode não refletir no valor do combustível

Em entrevista ao apresentador Renato Igor, da CBN Diário, o vice-presidente Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis Minerais de Florianópolis (Sindópolis), Joel Fernandes, questionou o efeito prático que a medida possa ter sobre o valor do combustível nas bombas.

Isso porque além do ICMS pago antecipadamente na compra do combustível, que hoje tem como base o valor de R$ 5,77 e que deve ser “congelado”, os postos também pagam após a venda a diferença entre essa quantia e o valor efetivmente pago pelo consumidor nas bombas – atualmente, o preço média da gasolina em Florianópolis é de R$ 6,31, segundo a ANP.

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A Secretaria da Fazenda de SC confirmou que essa diferença precisará continuar a ser paga pelos estabelecimentos. Com isso, em caso de novos aumentos por parte da Petrobras, mesmo com o congelamento da base do ICMS essa “diferença” continuará a incidir sobre o preço final.

Na prática, os postos vão pagar “um pouco menos” de ICMS antecipado na compra, que seguirá calculado sobre R$ 5,77, mas terão uma diferença maior a compensar na venda do produto, caso haja novos aumentos. Para o motorista, na prática, isso deve fazer com que o congelamento não resulte em preços menores nas bombas.

O questionamento do representante dos postos aumenta a compreensão de que o congelamento possa ser um gesto político, para livrar os governos estaduais de qualquer associação a novos aumentos dos combustíveis, já que os impostos estaduais estarão “congelados”.

Ouça a entrevista

SC não cogitava congelar ICMS

Inicialmente, Santa Catarina não cogitava congelar por conta própria o ICMS, embora a medida tenha sido anunciada por estados como Minas Gerais. O Estado defendia a tese de que tem uma das menores alíquotas do tributo no país. Enquanto em SC são cobrados 25% sobre a gasolina e 12% sobre o diesel, em outros locais o imposto pode chegar a 25% sobre o diesel e 34% na gasolina – caso do Rio de Janeiro.

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Apesar disso, na reunião desta sexta o Estado apoiou a proposta de congelamento, que foi acatada por unanimidade entre os estados. SC chegou a “segurar” o aumento no valor de cálculo do ICMS no primeiro semestre, aguardando uma possível queda nos preços. No entanto, o preço do combustível seguiu em alta, e em junho o Estado acabou repassando o valor que havia sido represado.

Apesar de ser um gesto para indicar colaboração dos estados na tentativa de conter o preço da gasolina, a medida sozinha deve ter dificuldades para impedir a alta dos valores. Isso porque a maior parte da escalada nos preços ocorre por conta da política de preço da Petrobras, de paridade internacional do combustível com as variações do dólar e do barril de petróleo no mercado mundial.

O ICMS é alvo de polêmica porque o presidente Jair Bolsonaro critica governadores por conta do preço alto dos combustíveis argumentando que o imposto estadual seria uma das causas dos aumentos. Os percentuais de ICMS nos estados, no entanto, não aumentaram. O que tem ocasionado os sucessivos reajustes na gasolina e no diesel são justamente as altas no dólar e no petróleo no mercado internacional, que baseiam a atual política de preços da Petrobras.

Moisés rebate pedido de Bolsonaro sobre retirada do ICMS dos combustíveis

Em entrevista à Globonews, o secretário da Fazenda de Pernambuco, Décio Padilha, afirmou que somente o congelamento do ICMS não será suficiente para equilibrar o preço dos combustíveis no país. Ele defendeu medidas como a criação de um fundo de equalização, para conter variações, e concorrência à Petrobras.

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– Se não colocar a Petrobras na mesa e avançar com uma proposta dessa (como a do fundo), só vai postergar o problema, porque daqui a 90 dias, que é quando vai encerrar o congelamento… Bem antes disso já vai ter vários aumentos. Acho que a Petrobras poderia sentar na mesa e procurar uma solução – cobrou, na entrevista à emissora.

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Estado analisa mudança tributária para combustíveis

O governador Carlos Moisés solicitou nos últimos dias um estudo à Secretaria da Fazenda para avaliar os possíveis efeitos de outra medida que poderia envolver o setor de combustíveis. Seria a saída da chamada Substituição Tributária das empresas desse setor.

Na prática, em vez de pagar o ICMS na compra do produto junto ao fornecedor, antes de vender aos clientes, as empresas poderiam pagar somente após a venda, o que poderia tornar a tributação mais fiel ao preço final. O estudo, no entanto, ainda deve levar de dois a três meses para ser concluído.

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