Santa Catarina tem 20 pacientes com o novo coronavírus identificados como indígenas na base de dados do governo do Estado. Desse número, oito morreram por conta da covid-19. A proporção representa uma taxa de letalidade de 40%, a maior entre os indivíduos que tiveram o campo “raça” informado nos registros de casos do Estado.
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As mortes dos indígenas ocorreram entre 12 de junho e 20 de agosto e envolvem pacientes de Ipuaçu, Campos Novos, José Boiteux, Major Gercino, Entre Rios e Biguaçu. Dessas sete cidades, pelo menos seis possuem territórios indígenas.
Entre os classificados como indígenas na relação de casos do Estado, há ainda outros 10 casos já considerados curados e dois ainda em tratamento.
No total, cerca de 5% de todos os pacientes diagnosticados com o novo coronavírus no Estado têm o campo “raça” preenchido.
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Apesar dos números revelados pela base do Estado, o número de contaminações por covid-19 nos povos indígenas é bastante superior, segundo lideranças indígenas. No início do mês reportagem do Diário Catarinense mostrou que SC já tinha mais de 600 indígenas contaminados pelo novo coronavírus, de acordo com o Conselho Estadual dos Povos Indígenas de SC (CEPIn/SC). Já o número de oito óbitos é confirmado pelo painel da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), que acompanha de perto a situação da pandemia nos povos indígenas do país.
A situação levou lideranças a elaborarem um plano regional de combate à pandemia entre povos indígenas da Região Sul.
Avanço de casos em territórios indígenas pede reforço na testagem
Em Santa Catarina, a contaminação de covid-19 em territórios indígenas se iniciou em comunidades do Oeste, como a Condá, primeira a registrar caso da doença, e mais recentemente avançou para povos como os Laklaño Xokleng, no Alto Vale do Itajaí, e Guarani, na Grande Florianópolis.
A antropóloga e professora Kaingang Joziléia Daniza Jagso Inácio Shild explica que, com o avanço de casos confirmados, o desafio passa a ser a testagem e o isolamento dos pacientes positivos, que ate por questões culturais costumam conviver de forma próxima com familiares de todas as idades nas residências e comunidades.
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No Oeste e Alto Vale, as comunidades já organizam espaços em escolas para isolar pacientes positivos e tentar evitar o avanço do novo coronavírus nas comunidades. Na comunidade Guarani, que em alguns casos sequer possui unidade de saúde próxima, há mais dificuldade para encontrar esses espaços, o que gera maior preocupação sobre o avanço da covid-19 nessas comunidades da Grande Florianópolis.
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Para promover esse isolamento, no entanto, a testagem em maior escala é uma reivindicação dos povos para identificar os casos e poder isolá-los antes de uma contaminação maior nas comunidades.
– Os territórios indígenas foram invisibilizados no início da pandemia. Agora, a gente vê que os Estados estão em processo de retorno, mas nos territórios indígenas estamos vendo avanço e aumento de casos. Nesse momento de retorno das atividades, não podemos cometer o mesmo erro de não cobrar o Estado para que dê um olhar mais aprimorado para os indígenas onde há grande avanço da covid-19 – alerta a professora Jozileia.