O esforço frente às adversidades da vida demonstram a resiliência de Cleiton Pezzini, de 38 anos. Em uma conversa com ele, é possível ter a certeza de que os desafios o tornam mais fortalecido e, se possível, transformado.
Continua depois da publicidade
> Receba as principais notícias de Santa Catarina pelo WhatsApp
> De volta pra casa: confira as reportagens da série em página especial
Nascido em São Bento do Sul, ao norte do Estado, e há 11 anos morando em São Jose, na Grande Florianópolis, ele é um Micro Empreendedor Individual (MEI) do ramo de estética, higienização e estofados automotivos. A empresa funciona na própria casa, no bairro Ponta de Baixo, onde mora com a esposa, dona de uma oficina de roupas, e os filhos de seis, oito e 11 anos.
Hoje, a dedicação à família e o esforço para ver o negócio funcionar são marcantes em Cleiton. Tanto quanto duas características que moldam seu comportamento de sobrevivente – crise e superação.
Continua depois da publicidade
– Em São Bento do Sul, eu vivia embaixo de um viaduto que corta a cidade. Dormia embaixo das marquises, sobre papelão, colchão velho. Mas tinha dias que ficava num canto qualquer, ia até onde o álcool permitia – diz.
> “Eu perdi a noção do que era ser gente”, conta ex-morador de rua de SC
A história de Cleiton se conecta com a realidade de cerca de 5 mil catarinenses que vivem – ou viveram – nas ruas de acordo com levantamento do Tribunal de Contas do Estado e divulgado em agosto do ano passado. No Brasil, conforme nota técnica recente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) são 222 mil pessoas nesta condição. Não há como quantificar, mas é possível que a pandemia tenha se encarregado de aumentar esta população que, apesar de se dizer invisível, é cada vez mais notória.
Nos próximos textos o leitor vai conhecer outros casos. Personagens da ‘rualogia’, uma espécie de neologismo não presente no dicionário e que se aplica ao experimentado por quem vive – ou viveu – nas ruas.
– Morador de rua não é lixo, nem bicho – disseram repetidas vezes nos dias de prospecção e seleção das personagens.
Continua depois da publicidade
Enquanto produzia este material multimídia, assisti ao filme Somos Todos Iguais (Netflix) – drama inspirado em fatos reais sobre a amizade entre um milionário negociante de arte e um homem em situação de rua. Crente em Deus, o personagem pedinte utiliza uma metáfora:
“Somos todos sem-teto e cada um de nós está tentando voltar para a casa”.
> “É preciso querer mudar”, conta ex-morador de rua que virou empresário
Nesta reportagem vamos falar de pessoas que estavam na rua e que pareciam seguir na direção de uma reta sem fim, mas que conseguiram dobrar a esquina.
Os números
- Não existe censo sobre população de rua no Brasil;
- Nota técnica do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada aponta para 222 mil pessoas;
- O Tribunal de Contas do Estado (TCE) fez um diagnóstico com base em registros da rede socioassistencial e chegou a 5 mil pessoas. O número equivale a populações de municípios como Guarujá do Sul, José Boiteux e Nova Erechim;
- Em 2020, a prefeitura de Florianópolis calculou que havia 460 pessoas vivendo nas ruas da Capital, mas o desemprego gerado também pela pandemia do coronavírus empurrou muita gente para a miséria;
- Não existem números sobre quantas pessoas conseguem deixar as ruas. A reportagem alcançou os personagens com ajuda de funcionários de instituições e movimento social.
Continua depois da publicidade
> Emprego, reinserção e tratamento: como ajudar um morador de rua?
O perfil
- 77,8% são homens
- 65% têm entre 30 a 49 anos
- 70% está há menos de cinco anos em situação de rua
- 50% vive na Grande Florianópolis há menos de um ano
- 20% são nascidos na Grande Florianópolis
- 92% sabem ler e escrever
- 22% concluíram o ensino médio
Fonte: Icom
Leia também:
Escolas de SC recebem máscara transparente imprópria contra Covid
Déa Lúcia, mãe de Paulo Gustavo: “Conheço várias pessoas que não querem se vacinar ou usar máscara”
“Vamos ser vacinados e vamos continuar tendo que usar máscaras”, diz pesquisadora da Fiocruz
Continua depois da publicidade