O último relatório da Diretoria de Vigilância de Epidemiológica (Dive/SC) divulgado neste mês, aponta a presença do Aedes aegypti em 182 municípios catarinenses. São 21.467 focos identificados entre 30 de dezembro de 2018 a 13 de julho de 2019. Comparando ao mesmo período do ano passado, quando foram mapeados 11.928 focos em 152 municípios, houve um aumento de 80% no total de notificações.

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O gerente de zoonoses da Dive/SC, João Fuck, explica que neste ano as temperaturas demoraram a cair e houve um forte período com calor e chuva nos meses de abril e maio, o que favoreceu a proliferação do mosquito.

– Nosso cenário é de risco, o número de focos é o maior desde que foram identificados os primeiros em Santa Catarina no ano de 2006 e esse número vem aumentando ano a ano – comenta Fuck.

São 94 municípios de SC considerados infestados pelo Aedes, a maioria concentrados na região Oeste. O número cresceu 28,8% em relação ao mesmo período de 2018, quando eram 73 localidades.

Casos da doença

Atualmente o Estado possui três cidades condição de epidemia, todas no Litoral Norte: Itapema com 606 casos autóctones (contraídos no local), uma taxa de incidência de 958,1 casos por 100 mil habitantes, seguida por Camboriú com 341 confirmações e 421,9 casos por 100 mil habitantes e Porto Belo que conta com 84 ocorrências e 403,2 casos por 100 mil habitantes.

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A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera o nível de transmissão epidêmico quando a taxa de incidência é maior que 300 casos por 100 mil habitantes.

Em 2019, ao todo, foram registrados 1.371 casos da doença contraída em Santa Catarina e 113 importados. Apesar de ser um indicativo expressivo, Fuck comenta que o Estado já viveu situação pior, em 2016, quando os casos da doença passaram de quatro mil e oito municípios estavam em situação de epidemia. Na época, foram registrados os dois únicos casos fatais de SC, em Chapecó e Pinhalzinho.

Desta vez, destaca-se uma migração das ocorrências do Oeste para o Litoral.

– O Brasil teve um aumento expressivo nos casos de dengue e o Litoral se torna suscetível por que há uma grande circulação de pessoas que podem trazer a doença consigo e iniciar um ciclo de contágio. Outro fator é o deslocamento dessa população entre estas cidades. Por exemplo, alguém que trabalha em Itapema e mora em Porto Belo contrai a doença. A movimentação diária desse indivíduo favorece a propagação do vírus.

A DIVE/SC afirma que esta é uma movimentação natural da doença, há períodos de retração, como ocorreu em 2017/ 2018, e outros de avanço.

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Novos subtipos

Fuck explica que a expansão dos casos também está ligada ao avanço de um novo sorotipo de dengue no Estado, a DEN-2. Segundo ele, este subtipo foi observado pela primeira vez aqui em 2017, mas só agora está tendo um maior número de vítimas.

– De modo geral, notamos que o sorotipo DEN-2 está circulando mais em todo o Brasil. Acredita-se que a expansão dele aqui ocorreu provavelmente durante a temporada, quando alguém com infectado este subtipo passou em SC e iniciou o processo de transmissão.

A dengue possui quatro sorotipos DEN-1, DEN-2, DEN-3 e DEN-4. O indivíduo só pode ser contaminado uma vez com cada subtipo, adquirindo imunidade após a infecção. Estima-se que neste ano a prevalência seja do tipo 1. A Dive/SC realizou o procedimento para determinar os subtipos em 253 amostras, destas, 185 deram positivo para o tipo 1 e 58 para o tipo 2

Concentração de Focos em SC

Mapa indicativo de locais com a presença do Aedes Aegypti
Mapa indicativo de locais com a presença do Aedes Aegypti (Foto: Dive/SC )

POR ONDE O AEDES AVANÇA

Fatores cruciais para o aumento do número de focos

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Prazo de notificação

Boa parte dos casos confirmados e divulgados neste mês foram notificados em

abril ou maio, isso por que para notificar a suspeita os médicos têm um prazo de até sete dias, após o exame de será realizado pelo Laboratório Central de Saúde de Pública (Lacen) que recebe mais sete dias, após esse processo ainda há um período de 60 para inclusão no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan).

— Isso faz parte do processo para garantir a confiabilidade dos dados. Muitos casos que aparecem nas estatísticas agora, durante o período mais frio do ano, foram diagnosticados e tratados semanas atrás. Inclusive, a gente vem observando que há uma queda gradativa em número de notificações — conclui João

Falta de inseticida

Desde junho Santa Catarina já não tem estoque do inseticida Malathion EW, enviado pelo Ministério da Saúde para o combate à dengue. O produto mata o mosquito aedes aegypti e é usado em locais próximos àqueles onde moram ou trabalham pessoas que estão contaminadas com o intuito de controlar a proliferação da doença. Sobre a falta do inseticida Fuck confirma que este fato pode ter sim contribuído negativamente para a proliferação da doença, porém não aponta este fato como um fator decisivo para a situação atual.

— Nós conseguimos manter as ações previstas até o produto acabar. O uso desse inseticida é para eliminar o mosquito adulto e não é só isso que vai resolver o problema. Não adianta eliminar ele adulto e manter os criadouros —

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fala o gerente

O produto permanece em falta no Ministério e não há previsão de envio para o Estado que também não tem a intenção de fazer a compra do inseticida. De acordo com o Ministério da Saúde, esta é a última estratégia de enfrentamento da dengue. O órgão enfatiza que a prevenção só ocorre com a eliminação dos focos de multiplicação do Aedes aegypti.

Política de enfrentamento

É responsabilidade de cada município re

alizar as atividades de mobilização contra a Dengue. De acordo com o gerente de zoonoses da DIVE/SC, João Fuck, nota-se que a maioria das prefeituras agem apenas após o início do processo de transmissão, o que torna muito mais complexo o processo, facilitando a proliferação da doença.

Fuck explicou ainda que órgão têm regionais de saúde com a responsabilidade de prestar apoio técnico às administrações municipais, no auxílio para aplicação de inseticida e indicação de ações, por exemplo. Existem biólogos da Dive/SC nas 17 regionais de saúde. Há também técnicos agrícolas alocados em cidades com altos níveis de transmissão como Florianópolis, Itajaí, Joinville, Xanxerê, Chapecó e São Miguel do Oeste. Esses profissionais seriam responsáveis por prestar auxílio caso a caso.

Maus hábitos

A Dive/SC pontua que embora hajam campanhas de conscientização nota-se que a população na prática não mantém os cuidados básicos para evitar a proliferação do inseto.

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Segundo o primeiro Levantamento Rápido de Índices de Infestação pelo Aedes aegypti (Liraa) feito pelo Ministério da Saúde 60% dos criadouros estão nos quintais e dentro das residências, em recipientes que acumulam água parada.

— Não adianta de nada o Estado fazer a sua parte e as pessoas não agirem. É preciso controlar a presença do Aedes Aegypti, não podemos pensar apenas na dengue temos também chikungunya e zika. Ainda não temos casos destas duas últimas, mas se temos o vetor temos a chance de isso ocorrer — alerta Fuck

De acordo com a Diretoria, com a entrada do frio o mosquito adulto acaba sendo eliminado, porém os ovos podem ser altamente resistentes, com período desenvolvimento chegando a 20 dias. Entretanto, Fuck destacou que em local seco eles podem durar por mais de dois anos esperando condições favoráveis para eclodir.

— O inverno impacta o ciclo de reprodução dele, mas não acaba com o problema, apenas adormece. É nessa estação o momento de agir contra o vetor, assim na próxima não teremos o risco de surto em nível de epidemia. — recomenda João

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Contribua para eliminar o mosquito da dengue

Agente de saúde realizando ação de busca de focos
(Foto: Sirli Freitas / Especial)

A Diretoria ressalta algumas orientações para evitar a proliferação de focos, são elas:

Evite usar pratos nos vasos de plantas. Se usá-los, coloque areia até a borda;

Guarde garrafas com o gargalo virado para baixo;

Mantenha lixeiras tampadas;

Deixe os depósitos d’água sempre vedados, sem qualquer abertura, principalmente as caixas d’água;

Plantas como bromélias devem ser evitadas, pois acumulam água;

Trate a água da piscina com cloro e limpe-a uma vez por semana;

Mantenha ralos fechados e desentupidos;

Lave com escova os potes de comida e de água dos animais no mínimo uma vez por semana;

Retire a água acumulada em lajes;

Dê descarga, no mínimo uma vez por semana, em banheiros pouco usados;

Mantenha fechada a tampa do vaso sanitário;

Evite acumular entulho, pois ele pode se tornar local de foco do mosquito da dengue;

Denuncie a existência de possíveis focos de Aedes aegypti para a Secretaria Municipal de Saúde.