A Penitenciária de Florianópolis, onde ocorreu um incêndio que matou três detentos nesta quarta-feira (15), está superlotada e tem péssimas condições. A avaliação é da Justiça catarinense, que, através dos juízes de execução penal, faz uma inspeção mensal das cadeias de Santa Catarina, conduta que é replicada pelos tribunais de outros estados e é acompanhada pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

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Em relatório recebido pelo CNJ na quarta-feira da semana anterior (8), ao qual o Diário Catarinense teve acesso, a penitenciária incendiada na capital de Santa Catarina aparecia com déficit de 307 vagas, uma vez que contava com lotação de 1.694 presos, apesar de possuir capacidade projetada para 1.387.

A realidade do local se estende a outros oito dos 54 estabelecimentos penais do Estado, também em condições péssimas e com superlotação, segundo indicam os relatórios mais recentes levados ao CNJ por meio do Cadastro Nacional de Inspeções nos Estabelecimentos Penais (CNIEP).

A superlotação é ainda mais comum: ao todo, 41 dos estabelecimentos prisionais catarinenses têm mais detentos do que comportam, ou seja, cerca de três em cada quatro (76%). O déficit total é de 5.207 vagas. Há ainda outras três unidades de Santa Catarina que operam dentro de sua capacidade, mas, ainda assim, com péssimas condições.

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Quem são os três mortos em incêndio que atingiu Penitenciária de Florianópolis

No caso da Penitenciária de Florianópolis, ao menos a ala de adaptação, onde ocorreu o incêndio recente, operava com lotação adequada na ocasião do incidente, segundo afirmou, à reportagem, o advogado Wiliam Shinzato, que preside a Comissão de Assuntos Prisionais da seccional catarinense da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-SC) e esteve no local para acompanhar os desdobramentos do caso.

Ele afirma que a cela 22, onde o incêndio teve início, também tinha ocupação adequada, de no máximo três detentos, justamente as vítimas fatais do caso. A ala em que ocorreu o incidente tinha 46 presos ao todo, incluindo os que morreram, a capacidade máxima projetada para ela, segundo Shinzato.

As autoridades já identificaram que o fogo teve início em um colchão da cela. Não há confirmação, no entanto, se ele foi incendiado ou não de maneira intencional por um dos detentos, o que supostamente se daria em protesto a algo. Por uma avaliação preliminar, Shinzato diz já entender que esse não é o tipo de ato comum entre apenados para se reivindicar melhorias estruturais, se fosse esse o caso.

— Não há indicação de que esse fato esteja ligado a algum problema estrutural. Temos esse problema da superlotação no Estado. Alguns presos alegam não estarem recebendo o que a lei lhes concede em termos de direito, então, eventualmente, pode ocorrer algum ato por insatisfação. Alguns fazem greve de fome, greve no recebimento das visitas. Essa costuma ser a forma de chamar a atenção das autoridades. É também comum os familiares se reunirem em frente às unidades penais em protesto. São poucos os casos que se tem notícia de incediarem um colchão para isso — diz o porta-voz da OAB, que também faz vistorias rotineiras nos presídios para averiguar eventuais reclamações.

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A Secretaria da Administração Prisional (SAP), sob gestão estadual, também refutou que a queima do colchão tenha partido de algum ato de insatisfação da comunidade carcerária da unidade.

Não houve qualquer movimento de motim ou rebelião. Todas as forças de segurança pública deram todo o suporte necessário. Ainda não sabemos o motivo do incêndio. Vamos esperar agora o laudo oficial da perícia — disse o secretário adjunto da SAP, Neuri Mantelli, conforme divulgou o governo.

A perícia do incêndio é feita agora pelo Corpo de Bombeiros Militar de Santa Catarina (CBMSC), que terá 30 dias para concluí-la. Já há a confirmação de que o incidente deixou, além dos mortos, outros 43 detentos feridos. Quatro policiais penais que atuaram na evacuação da ala atingida também precisaram passar por atendimento médico, por terem inalado a fumaça.

Veja vídeo sobre o incêndio na Penintenciária de Florianópolis

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