Santa Catarina saiu na frente com uma tecnologia promissora para reduzir a poluição em construções. A ideia consiste em diminuir a pegada de carbono ao injetar CO2 no concreto e, com isso, diminuir o uso de cimento, considerado vilão para o meio ambiente. A novidade é canadense, mas chega ao Brasil trazida por uma empresa de Pomerode e a primeira a usá-la é de Ibirama.

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O cimento é o segundo material mais utilizado no mundo, só perde para água, e está diretamente ligado com o desenvolvimento das cidades. Santa Catarina, por exemplo, consumiu o dobro do que produziu de cimento em 2021, segundo dados de Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP). Foram 1,9 milhão de toneladas produzidas contra 4 milhões de toneladas utilizadas.

Mas qual o problema nesse cenário? É que uma estimativa indica que para cada quilo de cimento produzido, é gerado entre 0,7 grama a 1 quilo de CO2. Os números ganham relevância quando colocados em escala. A Pré-Vale usa 1,2 milhão de quilos cimento ao mês. A Camargo Química, que comercializa a CarbonCure no país, diz que é possível reduzir esse consumo em 3% a 5%.

Somando essa diminuição à quantidade de CO2 injetado na fórmula de concreto da empresa, na ordem de 1,2 mil quilos ao mês, os dados são promissores: a empresa deve retirar da atmosfera, em média, 45 mil quilos de CO2, mensalmente. Se isso fosse para o ar, seriam necessários 240 mil metros quadrados de floresta — equivalente a seis vezes a área do Parque Ramiro Ruediger — para fazer a absorção por ano.

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Nessa conta, quem sai ganhando é o meio ambiente. O dono da empresa de Ibirama é um defensor do uso de tecnologias para tornar o processo de fabricação das peças de concreto menos danoso.

— Se nós temos a oportunidade de contribuir para a redução de poluentes na atmosfera, por que não? Temos no nosso DNA essa preocupação com o meio ambiente, com a sustentabilidade, com as pessoas. E também podemos fornecer aos nossos clientes um produto que possa ser visto como transformador de áreas verdes — afirma Gilmar Jaeger.

Infográfico explica como é a tecnologia

O mestre e professor de Engenharia Civil da Furb, Gustavo Gutierrez, está desenvolvendo a tese de doutorado voltada à redução da emissão de CO2 com o uso de tecnologias alternativas. Ele diz que no exterior a tecnologia recém-chegada ao Brasil tem apresentado resultados positivos. Mas frisa a necessidade de acompanhar como será o desempenho aqui, considerando as características climáticas e de qualidade do próprio cimento nacional, que diferem do que se tem fora do país.

— É importante fazer testes, e para isso alguém precisa dar o primeiro passo — afirma.

Diretora Industrial da Pré-Vale, a engenheira Anestine Jaeger concorda com a afirmação e explica como será esse processo dentro da empresa de Ibirama.

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— O primeiro passo é adicionar o CO2 sem fazer a retirada de cimento para calibrar, ver o quanto tem de ganho de resistência, para depois reduzir o consumo de cimento seguindo na adição de CO2.

Dados do Inventário Nacional de Gases do Efeito Estuda apontam que 7% do CO2 do mundo vem da produção de cimento. A participação do Brasil nesse percentual é pequena. Apesar de ser o oitavo maior produtor no mundo, o índice de poluição é de praticamente um terço da média global, na casa de (2,3%). O bom desempenho ambiental está atrelado ao uso de aditivos mineiras abundantes no país.

Ainda assim, o Brasil precisa encontrar formas de reduzir mais esse indicador, por causa do acordo de neutralidade do carbono até 2050. Um dos pilares para alcançar a meta é investir na pesquisa e desenvolvimento de tecnologias disruptivas, como a captura de CO2, com potência para ajudar a diminuir a pegada de carbono em 9%.

Para fazer a diferença na prática, porém, é preciso de adesão para ampliar a escala de redução.

Crédito de carbono

A Pré-Vale vai desembolsar 5 mil dólares para comprar a tecnologia e depois deve pagar 3,6 mil dólares ao mês. O investimento deve se pagar com o valor economizado com a redução no uso de cimento e com a venda de crédito de carbono. Isso porque a cada 14 mil quilos de CO2 que deixa de poluir o meio ambiente, gera R$ 1,4 mil, dos quais 40% retornam para a empresa.

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A Camargo Química diz que a tecnologia é altamente acessível e mira principalmente as concreteiras, um mercado em expansão no Litoral Norte de Santa Catarina. A título de exemplo, são três mil metros cúbicos de concreto para colocar de pé um prédio acima de 20 andares. Para isso, porém, ficaria o custo ao meio ambiente pelo total gerado de CO2.

— Existe toda uma conscientização sobre os selos verdes nas construções hoje no Brasil, principalmente na nossa região. E isso começa com as cadeias produtoras fornecendo materiais tem redução de CO2 — garante Fábio.

Gilmar Jaeger e Fábio Camargo na empresa pioneira no uso da tecnologia (Foto: Patrick Rodrigues, Santa)

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