Santa Catarina saiu na frente ao fazer a primeira cirurgia de redesignação sexual com o auxílio da técnica de robótica. O procedimento ocorreu no Hospital Santa Isabel no começo deste mês, sob o comando da equipe da Transgender Center Brazil, de Blumenau. A paciente foi uma mulher trans de 31 anos, que mora em Belo Horizonte (MG), e veio ao Estado especialmente para passar pela operação.
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Na cirurgia de redesignação sexual de uma mulher trans, geralmente é usada a pele do pênis e saco escrotal para forrar a vagina criada pelos médicos. Mas, em alguns casos, não há tecido suficiente para dar profundidade ao novo órgão — e aí uma opção é usar uma membrana que reveste a parede abdominal. Com o uso do robô, é possível fazer a remoção desse tecido de forma minimamente invasiva.
— É considerada uma técnica mais segura e com menor índice de complicações quando comparada às técnicas intestinais — explica o médico José Carlos Martins Junior, referência para pacientes trans.
O cirurgião abdominal Rinaldo Danesi, especialista em procedimentos com o uso do robô, foi o responsável por operar o equipamento. Ele retirou a membrana e passou pela pelve, para que Martins pudesse acessá-la e forrasse a cavidade genital da paciente. Sem registros de procedimento igual no Brasil, os dois fizeram uma visita de treinamento em Baltimore, nos Estados Unidos.
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Eles explicaram, em vídeo, como funciona a técnica (assista abaixo).
A clínica de Blumenau se tornou uma referência no Brasil para cirurgias em pacientes trans. A alta procura, inclusive de celebridades, colocou Santa Catarina em evidência mundial. A história das irmãs gêmeas que fizeram redesignação sexual na unidade, por exemplo, virou série na HBO: “Gêmeas Trans: Uma Nova Vida”. Esse ano, Martins fez a primeira cirurgia de redesignação sexual paga pelo SUS em SC.
No fim do ano passado, a Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu, de forma inédita e por unanimidade, que as operadoras de planos de saúde têm a obrigação de custear as cirurgias de transgenitalização e de plástica mamária com implantação de próteses para mulheres trans. Na decisão, a relatora Nancy Andrighi refutou o argumento de uma empresa de plano de saúde de que não iria pagar por ser um procedimento experimental. A decisão fez disparar a procura pela clínica de Blumenau.
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