Atento aos detalhes, o publicitário Aroldo Azevedo levou o filho, Lui Gabriel Azevedo, de 10 anos, para tomar a vacina da dengue, em Florianópolis. O menino faz parte da faixa etária que pode se imunizar contra a doença que registrou mais de 100 óbitos em Santa Catarina desde o começo de 2024 — um número inédito.
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Na sala de vacinação, conferiu a data para retornar com o filho para a segunda dose, e questionou a disponibilidade da vacina da gripe, em campanha até o final de maio, ainda para os grupos prioritários, que inclui crianças até os 5 anos de idade. Já o menino, tranquilo, diz estar acostumado com a vacinação, e reforçar ele mesmo com a família a necessidade de tomar as doses.
— Vacina é vida. Sempre estou sempre me atualizando, sempre atento às datas. Logo nos primeiros dias a gente já faz a cobertura vacinal. Tanto dele quanto minha, todo mundo em casa. Ele mesmo toma a iniciativa de, quando vê a data, de vir no postinho — afirma o pai.
Já no caso da estudante Vitória Souza Wiggers, de 21 anos, é a preocupação com a saúde dos pais que a faz procurar estar sempre em dia com a caderneta de vacinação e participar das campanhas.
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— A gente fica mais imune, né? Não chega tão perto das doenças, de fazer tão mal assim. Então pra mim isso é muito importante, principalmente porque meus pais já tiveram câncer — relembra Vitória.
Ela foi até o Espaço Imuniza, referência de vacinação na capital, para tomar o imunizante contra a gripe. A campanha contra a Influenza segue até o final de maio, e ainda está longe de atingir a meta. De acordo com dados do Ministério da Saúde, a cobertura vacinal em Santa Catarina estava em 28,38% na atualização de quarta-feira (24). Os dados de cobertura vacinal consideram apenas a vacinação de crianças, trabalhadores na saúde, gestantes, puérperas, idosos e professores.
Casos graves pressionam sistema de saúde
O Estado possui pouco mais de 3 milhões de pessoas que fazem parte destes grupos prioritários, contudo, até a última quarta-feira haviam sido aplicadas 726.168 doses, entre doses únicas, primeiras e segundas doses. Apesar de longe da meta de imunizar 90% do público-alvo, a taxa de cobertura vacinal catarinense fica acima do índice brasileiro, que está em 23,51%, com 15,5 milhões de doses aplicadas até o momento.
A baixa procura pelas vacinas resulta em um aumento no número de casos no Estado e na gravidade dessas doenças. Com isso, o sistema de saúde fica sobrecarregado, como afirma o médico infectologista Marcos Paulo Guchert.
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— Com a baixa cobertura vacinal, há aumento da circulação dos vírus na comunidade, com consequente aumento de casos das doenças e maior número de indivíduos evoluindo para quadros graves. Os casos leves sobrecarregam a atenção primária (Unidades Básicas de Saúde e Unidades de Pronto Atendimento), já casos graves pressionam o sistema de saúde na questão dos leitos hospitalares, tanto de enfermaria comum, como nos leitos de terapia intensiva — comenta o médico.
No caso da gripe, a campanha de vacinação é programada pelo Ministério da Saúde em uma janela de tempo específica que considera o período em que os vírus Influenza circulam mais. Por conta disso, se vacinar o quanto antes é importante. É o que destaca a médica infectologista Carolina Ponzi.
— A gente sabe que qualquer vacina demora de três a quatro semanas para fazer efeito. Mas se a gente pensar, se as pessoas se vacinarem agora, elas estarão imunizadas no final de maio, que é quando os vírus respiratórios começam a circular de uma maneira mais intensa. Quanto mais as pessoas postergarem a imunização, mais tempo vai levar para elas estarem imunes. Então, durante mais tempo a população fica vulnerável — alega Carolina.
O mesmo alerta é feito por Marcos, que reforça a urgência da vacinação, já que com a chegada do frio, a circulação do vírus aumenta.
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— A Influenza (ou gripe), em especial, costuma atingir seu ápice de circulação nos meses de frio, que estão se aproximando. É imperiosa e urgente a melhoria da adesão às vacinas neste momento que antecede a sazonalidade de pico da doença — destaca o infectologista.
Por ser uma doença debilitante, com sintomas como febre alta e dor no corpo, a gripe faz com que muitas pessoas busquem os serviços de saúde, o que provoca essa sobrecarga no sistema, afirma a médica Carolina.
Entre as principais doenças que têm aparecido nas unidades de saúde estão a dengue, casos de Influenza e Covid-19, que somados a outras doenças respiratórias e as enfermidades que já acometem a população regularmente tornam a situação preocupante. A grande procura pelo sistema de saúde pública reflete na falta de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Sistema Único de Saúde (SUS). A taxa de ocupação têm se mantido elevada: a atualização da terça-feira (23) apontava 93,16% de ocupação do total de 1.316 leitos ativos no Estado, com 90 leitos disponíveis.
A região mais crítica era a da Foz do Rio Itajaí, com 98,9% de ocupação e somente um leito disponível. A situação do Planalto Norte e Nordeste também preocupa, com 97,49% dos leitos ocupados. A Grande Florianópolis está com 96,30% dos leitos ocupados, e o Vale do Itajaí com 95,24%. O Meio Oeste e Serra Catarinense aparecem com 93,19% de ocupação, e o Grande Oeste com 92,05%.
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Aplicação descentralizada e campanhas para vacinar mais
De acordo com a Secretaria de Estado da Saúde, cerca de 60% dos atendimentos nas emergências hospitalares atualmente são em decorrência de doenças respiratórias. No Hospital Infantil Joana de Gusmão, em Florianópolis, 70% dos internados na UTI são pacientes com doenças respiratórias. Já no Hospital Jeser Amarante Faria, em Joinville, esse percentual chega a 40%.
— As doenças respiratórias chegaram, em comparação com o ano passado, em um período anterior. E este movimento tem sido sentido em todas as regiões, principalmente no atendimento a pacientes idosos e pediátricos — reforça a secretária de Estado da Saúde de Santa Catarina, Carmen Zanotto.
Questionada sobre as ações realizadas para elevar os índices de vacinação em Santa Catarina, a Secretaria de Estado da Saúde afirmou que tem divulgado a campanha de vacinação e descentralizado a aplicação de doses, com a imunização acontecendo em locais como escolas, praças, shoppings e vans itinerantes.
— Também foi solicitado nesta semana ao Ministério da Saúde a ampliação da faixa etária de vacinação contra a gripe no público infantil, de 6 para 12 anos, e está aguardando a liberação — afirmou a secretária.
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O governo do Estado também destacou a abertura de novos leitos de UTI, com 163 novos leitos desde o ano passado, sendo 53 neonatais, 46 pediátricos e 64 adultos. Além disso, houve a abertura de leitos de enfermaria, como em Joinville, com mais de 60 leitos voltados a pacientes com dengue e doenças respiratórias.
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