A conta de energia elétrica de Oto Henrique Pinto despencou da faixa de R$ 350 mensais para R$ 50 desde agosto. A proeza do profissional autônomo de 28 anos, que mora com a esposa e os dois filhos em uma casa com dois quartos e dois banheiros no Campeche, em Florianópolis, não é por acaso. A família aderiu à tendência já presente em outras 369 unidades consumidoras catarinenses: contar com uma fonte de energia alternativa.
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Moradores como ele projetam Santa Catarina como o líder per capita no país na chamada mini e microgeração de energia elétrica distribuída, sistema em funcionamento desde 2012, quando a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) publicou a resolução 482, permitindo trocar créditos com a rede distribuidora caso o sistema instalado produza mais eletricidade do que for consumido. Em todo o país, são mais de 5 mil conexões. A Aneel prevê que até 2024 cerca de 1,2 milhão de unidades consumidoras passem a produzir a própria energia.
SC é um dos únicos cinco Estados sem incentivo para quem instala energia solar
A família de Oto optou por desembolsar aproximadamente R$ 20 mil para instalar a captação de energia solar. Com capacidade instantânea de 2 quilowatts, as placas fotovoltaicas implantadas no telhado captam os raios e os conduzem a um equipamento inversor da corrente. O fluxo é medido por um relógio especial – bidirecional – que registra a geração local e a eletricidade fornecida pela Celesc. Se o dia estiver ensolarado, a residência vai consumir nas atividades domésticas praticamente apenas o que gerar.
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À noite e em dias nublados ou chuvosos, os moradores recorrem à energia da distribuidora. No final do mês, o leiturista da companhia calcula a diferença entre o produzido, o excedente que foi disponibilizado na rede e o que precisou ser consumido dela. Se o saldo for positivo, Oto pagará somente a taxa mínima e terá créditos para descontar por até cinco anos nas tarifas futuras:– A gente fez um sistema para suprir toda a necessidade da casa em um ano inteiro. É um investimento de longo prazo. Como a casa é nossa, decidimos investir porque o sistema dura bastante tempo.
Créditos podem ser compartilhados
O uso da energia solar como experiência não é novo no Estado. A Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) há mais de 15 anos realiza estudos com o sistema e a Marinha mantém estruturas para iluminar faróis e construções nas ilhas que monitora.
Como os equipamentos são importados, a falta de incentivos para o cidadão comum apostar no sistema o tornava elitista e isolado. De acordo com o presidente do Instituto para o Desenvolvimento de Energias Alternativas na América Latina (Ideal), Mauro Passos, o barateamento dos equipamentos e a resolução 482 ajudaram a derrubar o custo, já que dispensa o uso de baterias, permitindo a troca do excedente com a rede e a recorrer a ela quando o tempo não colabora.
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Segundo o diretor-geral da Aneel, Romeu Rufino, entre as vantagens desse sistema estão redução de perdas de energia e custo evitado de ampliação do sistema, além do ganho ambiental, pois são projetos totalmente sustentáveis.
Outro fator que contribuiu para o aumento da procura neste ano foi a atualização da norma, que permitiu o compartilhamento desses créditos em mais de uma unidade consumidora do mesmo titular. Por exemplo, o painel solar pode estar instalado na casa de praia ou no sítio, mas o desconto na tarifa vai beneficiar a residência onde a família mora o ano inteiro.
Conforme Passos, a regra também permite a troca de créditos entre estabelecimentos comerciais do mesmo proprietário, além de um grupo de pessoas que podem adquirir o sistema, instalar na casa de uma delas e dividir proporcionalmente o bônus pelos créditos gerados. Pelo menos 43 unidades consumidoras no Estado estão nessas condições.
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O comerciante aposentado Édio Serafim Réus, 67 anos, instalou a captação da energia solar há três meses sobre um dos prédios que possui, em Sombrio, no Sul do Estado. Mas só neste mês a Celesc ativou o sistema, que é compartilhado com outro edifício de Réus e com a casa na praia de Balneário Gaivota.
Aumento de tendência de instalação de energia alternativa em SC é desafiador para Celesc
O aposentado agora está na expectativa pela primeira fatura com descontos nos três endereços.No bairro Estação, em Ascurra, no Vale do Itajaí, o bancário Odair Domingos Moser, 53, instalou sistema similar há dois anos para abater a tarifa também na casa de praia em Penha. Além disso, implantou o aquecimento da água com energia solar para economizar ainda mais. Desde então, cerca de R$ 4,5 mil já foram poupados nas tarifas – 15% do que investiu na instalação da estrutura.
– Optei por dois motivos: o custo da energia, que estava subindo na época, e para colaborar com a natureza. Muitas vezes se gasta R$ 100 mil para comprar um carro, mas se investisse em energia solar faria duas economias: no carro e na conta de energia – avalia Moser.
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