Você sabia que é possível visitar a cultura de diferentes países sem sair de Santa Catarina? Em mês de Copa, que começa já na próxima quinta-feira, na Rússia, a gente fez isso para conhecer um pouquinho mais desses lugares, saber como estão as expectativas para o torneio e perguntar por quem cada um vai torcer. Há quem queira o hexa da Seleção Brasileira, mas descendentes de alemães, argentinos, japoneses, portugueses e russos também alimentam as esperanças de verem seus times brilhando. Eu, o cinegrafista Marcio Dantas e a assistente de externa Ana Paula dos Santos percorremos mais de 3 mil quilômetros pelo Estado para contar um pouco dessa história, que é possível conferir por aqui e neste sábado, na NSC TV, em programa especial a partir das 14h.
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JAPÃO
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Frei Rogério – A paz dos orientais no Contestado
Ganha um doce quem responder a pergunta: o que Nova Iorque, Hiroshima e Frei Rogério, na região do Contestado, têm em comum? Poucos acertariam com facilidade uma pergunta tão aleatória como essa.
O município com pouco mais de 4 mil habitantes, assim como as outras duas cidades citadas, tem o Sino da Paz, um monumento em homenagem aos mortos com a explosão da bomba atômica de Hiroshima e Nagasaki em 1945. É que alguns sobreviventes, como Kazumi Ogawa, hoje com 83 anos, vivem desde a década de 1970 em solo catarinense. Um lugar que, apesar das dificuldades de um mundo completamente globalizado, faz de tudo para manter viva a raiz da cultura japonesa. Para isso, importou diretamente do Japão uma professora para ensinar o idioma às crianças da cidade, para que cresçam conhecendo o peso de viver em um local que respira tanta cultura e história: do Japão e do Brasil, por que não? Há 110 anos os japoneses vieram para cá. E há bem menos tempo os brasileiros foram para lá e fizeram história. O Neto de Kazumi Ogawa, por exemplo, se chama Artur Ogawa. Uma homenagem para Zico, que é considerado um Deus do futebol pelos nipônicos.

PORTUGAL
Florianópolis – Cultura lusa que sobrevive aos anos
Não é preciso passar muito tempo na Capital de Santa Catarina para perceber a influência da cultura açoriana na cidade que foi colonizada por portugueses. Em Florianópolis, há costumes e tradições que até hoje são repassados de geração em geração, sendo referências até mesmo para os… portugueses.
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– Há uns dois anos vieram umas pessoas do governo português aqui em Florianópolis. Eles vieram especialmente nos convidar para ensiná-los a renda de bilro e a ratoeira, porque isso já não existe mais por lá – conta, com a maior naturalidade do mundo, Glória Soares, a Glorinha do Sambaqui, para os íntimos.
As duas tradições portuguesas seguem fortes na Capital por causa da paixão que gente como ela tem pela cultura dos colonizadores. E tem mais. Na gastronomia, há quem diga que o bacalhau de cá é até melhor que o feito por lá. Será?
– Nós usamos ingredientes portugueses, mas com o tempero brasileiro. Isso faz toda a diferença e até os portugueses se rendem – revela Dário Gonçalves, dono de um famoso restaurante de culinária açoriana.
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Além disso, você nunca parou para pensar que o jeito de falar e até algumas gírias dos manezinhos remetem muito à terra de Cristiano Ronaldo? Comida, cultura e sotaque… Com essa trinca de ataque, regada a um bom azeite português, fica difícil torcer contra eles…

ARGENTINA
Dionísio Cerqueira – União entre Brasil e Argentina
Conhecer Dionísio Cerqueira me fez realizar um sonho de infância que era estar em mais de um lugar ao mesmo tempo, assim como no filme Um amor para Recordar, febre entre nova em cada 10 adolescentes na metade dos anos 2000. Aliás, você pode estar não só em dois, mas em três lugares diferentes no mesmo instante: Dionísio Cerqueira, em Santa Catarina, Barracão, no Paraná, e Bernardo Irigoyen, na província de Missiones, na Argentina. Ao mesmo tempo em que uma mesma rua separa esses três lugares completamente distintos, há uma distância enorme entre culturas e costumes diários de brasileiros e argentinos. Essa “proximidade distante” é para lá de curioso. Do lado argentino, a “Escuela Provincial, la más oriental del país” está completamente decorada com as cores da bandeira Argentina, preparadíssima para viver a Copa que começa na semana que vem. O mesmo acontece do lado brasileiro, evidentemente com cores diferentes.
Mas com tanta proximidade entre as cidades, o amor muitas vezes flutua entre os dois países. Portanto, é comum ver crianças filhas de pais brasileiros e argentinos. Neste caso, a saída é ficar em cima do muro. É o caso da Fabiola Ayessa, com pai argentino e mãe brasileira. Para manter a harmonia e bem estar na casa, ela resolveu de um jeito bem diplomático. Camisa na parte da frente amarela, com o número 9 de Ronaldo e o símbolo da CBF. Atrás, o azul e branco argentino, com as cinco letras de um gênio chamado Messi. Ao ser perguntada para quem ela torceria num possível encontro entre Brasil e Argentina, respondeu de primeira como Ronaldo e com a habilidade do 10 argentino: “Para quem ganhar”. E gargalhou.
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ALEMANHA
Pomerode – Um pedacinho da Alemanha
Pomerode é o caminho mais curto para conhecer um pouco da cultura dos atuais campeões mundiais. A “pequena Alemanha” fica ali pertinho de Blumenau, não precisa de euros e muito menos de passaporte para entrar. No entanto, é preciso arranhar algumas palavrinhas em alemão se quiser se comunicar direitinho por lá. O alemão que é ensinado nas escolas públicas de Pomerode também é falado naturalmente nas ruas de uma cidade com a arquitetura peculiar. Uma postagem nas redes sociais com Pomerode de fundo facilmente se passaria por algum cenário bucólico de Suíça, Alemanha, Escócia ou algum outro país europeu.
O povo quase alemão tem no coração muito do afeto brasileiro. O almoço de domingo em uma casa tipicamente alemã, onde almoçamos, tem música e culinária germânicas. A comida típica era um marreco recheado com chucrute. Mas a conversa foi sobre o Flamengo, time do coração da família e sobre a expectativa para ver o Caramuru na semifinal do campeonato amador de Pomerode. Talvez essa seja a situação mais peculiar e inusitada de toda a jornada pelo Estado. Era inimaginável pensar que a cidadezinha com 25 mil habitantes teria um campeonato local com 20 times e estádios lotados. Sem o padrão Fifa, claro. No caso, era mais um padrão várzea. Tem até a Força Bugre, torcida organizada do Caramuru, que se orgulha de ser, segundo eles mesmos, a primeira torcida bilíngue do Brasil. O grito de apoio e até mesmo os xingamentos são parte em alemão, parte em português. Com tanta paixão pela Alemanha e também pelo futebol, ficou a dúvida: será que eles sofreram com o 7 a 1? Apesar de muito simpáticos, a resposta foi tanto quanto desanimadora para todos os brasileiros: “Comemoramos demais!”

RÚSSIA
Joinville e São Carlos – Semelhança do futebol com a dança
São crianças e adolescentes com brilho nos olhos e o sonho de ir para a Rússia. Embora em tempos de Copa do Mundo até possa parecer que estamos falando de futebol, o assunto é balé. O Bolshoi em Joinville é a única filial da famosa escola russa no mundo. Crianças entre sete e 17 anos, vindas de todos os lugares do Brasil e da América do Sul, vão para o Norte de SC atrás de um sonho. Muitas desde cedo moram sozinhas, longe dos pais e enfrentam diariamente o aperto no coração causado por uma palavra chata, que só existe em português: saudade. Abdicar disso tudo tão cedo é uma semelhança com o sonho de jovens que querem ser jogadores de futebol.
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Desde 1998, a disciplina de cerca de 10 professores e bailarinos russos, que vivem hoje em Joinville, ganhou um carisma brasileiro e deu frutos. E semana que vem vai ter torcida por Neymar no Bolshoi brasileiro. Até porque, com um olhar um pouquinho mais poético, os dribles no campo também se parecem com os passos de dança.
Só que não é só no Norte do Estado que é possível perceber a presença russa em SC. Encontrar as irmãs Helena, de 84 anos, e Franziska, de 88, é uma experiência que acalma a alma e conforta o coração. Elas enfrentaram guerra na Sibéria, fugiram para a China e, assim como tantos outros, descobriram em São Carlos, no Oeste catarinense, um lugar para ficar o resto da vida. Se formos enumerar quantas dificuldades elas enfrentaram ao chegar no Brasil, escreveríamos um jornal inteiro. Mas para dizer como Helena e Franziska superaram isso e costruíram uma vida em Santa Catarina, precisa de pouco.
– Eu aprendi com meu pai que a gente precisa ser feliz. Cantar e ser feliz. Não importa a dificuldade que a gente tinha, eles sempre estavam felizes – conta Helena.
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