O governo de Santa Catarina vai lançar um projeto a fim de abrigar pessoas que ficaram desalojadas no Rio Grande do Sul e têm buscado refúgio no estado catarinense. Uma das famílias já acolhidas é a de Rogério da Rocha Nunes, de 49 anos, que precisou sair às pressas de casa e deixar tudo para trás. Eles viviam em Canoas e, na noite do dia 5 de maio, viram a água tomando conta de tudo, e o desespero bateu.
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O homem conta que, por sorte, um vizinho ouviu os gritos de “socorro” da mãe, Marli da Rocha Nunes, 69, e os tirou do imóvel de barco. Não houve tempo para salvar carro, móveis ou sequer pegar documentos.
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— Quando a água subiu, a mãe não acreditou. Eu estava na cama, com o pé quebrado, e comecei a ouvir uns barulhos embaixo da porta e no banheiro. Foi aí que a mãe se ligou, eu estava apavorado também, tinha que sair de casa o mais rápido possível. Aí a água começou a subir, subir, subir, e eu disse: “mãe, nós vamos ter que sair daqui”. Nós estávamos ilhados, e a sensação foi horrível. Pensamos que iríamos morrer nós três — relata Rogério.
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Primeiramente, Rogério, o pai, José Coelho Nunes, 75, e a mãe, após o resgate, foram levados para um abrigo no bairro Estância Velha, ainda em Canoas. Mas como a situação só piorou com o passar dos dias, contou com a solidariedade de familiares catarinenses que, além de enviarem roupas, calçados e comida, também deram abrigo.
Agora, ele está com os pais na casa de uma tia em São João do Sul, no Sul catarinense. No momento, não sabe como está a casa, o carro e a propriedade, adquiridos com muito suor pela família. O que sabe do estado gaúcho é o que acompanha pelos noticiários. E o que tem visto, corta o coração.
Com tudo embaixo d’água, a família pensa em começar uma nova vida em Santa Catarina. Para isso, contam com familiares e o auxílio da prefeitura.
— Se não tivesse o apoio da família a situação seria ainda pior. Mas graças a Deus estamos vivos, em segurança, e sobrevivendo ao dia a dia — diz.
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SC deve lançar projeto na próxima semana
Na próxima semana, o governo de Santa Catarina pretende lançar um projeto de acolhimento às pessoas que estão saindo do Rio Grande do Sul e buscando abrigo no estado catarinense. Conforme dados da Assistência Social, a princípio, cerca de 400 famílias já chegaram ao estado.
Maria Helena Zimmermann, secretária de Estado da Assistência Social, diz que a pasta está em contato com as prefeituras de SC a fim de fazer um balanço mais preciso da quantidade de desalojados. Por isso, a orientação para quem chega à casa de parentes amigos é de que procure o Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) do município.
Será a partir deste levantamento que a SAS iniciará o encaminhamento dessas pessoas para vagas no mercado de trabalho e prestará auxílios básicos, como de saúde, educação e também de retirada de nova documentação, já que muitos têm deixado o RS apenas com a roupa do corpo.
— Quem está aqui precisa de comida, precisa de cama. E isso a gente já está fazendo, já estamos ajudando os municípios com isso. Mas daí o programa em definitivo queremos começar já na semana que vem, pra dar agilidade nisso. Eles precisam também dessa agilidade, não dá para esperar — destaca a secretária.
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A partir do lançamento do projeto, o governo estadual também pretende auxiliar essas pessoas com moradia, com oferta de aluguel social. Para auxiliar na busca por emprego, a secretaria fará uma parceria com a Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (Fiesc) e Sistema Nacional de Emprego (Sine) em que serão apresentadas vagas em todo estado, possibilitando as famílias de escolherem a cidade que pretendem recomeçar a vida. O poder público deve bancar este deslocamento.
Maria Helena explica que, a princípio, cada município está tendo autonomia para decidir como melhor abrigar as famílias vindas do estado vizinho. Em Criciúma, por exemplo, houve um caso em que os parentes não se adaptaram juntos, e o município cogita abrir um abrigo.
Dois sistemas
A secretária ainda reforça que estão sendo desenvolvidos dois sistemas: para as famílias que vêm para ficar há um tipo de programa, já para as que vêm somente para acolhimento e pretendem voltar ao RS, a política pública é outra.
Como o programa ainda está sendo estruturado, não se tem detalhes sobre valores a serem repassados aos municípios. Mas, para o repasse, serão consideradas questões desde os serviços de perícia e Detran, além de infraestrutura básica e até material escolar.
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— As famílias que vêm pra cá têm um prazo de seis meses, podendo ser prorrogado, para começar a ser gerenciar com emprego, salário, moradia e tudo mais. A gente tem que fazer um acolhimento como Estado, mas para dar todas as políticas públicas para ajudar elas no seu autodesenvolvimento. A gente sabe que o Rio Grande do Sul está está passando por uma dificuldade muito grande e é o momento de acolher, mas acolhendo, respeitando o que essas famílias querem. Caso elas queiram ficar em Santa Catarina, daí nós vamos ter o aporte para atender — expõe a secretária.
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