Santa Catarina chegou a triste marca de 50 feminicídios neste ano após o registro de dois crimes entre quarta (23) e quinta-feira (24). Um deles foi o assassinato a tiros da professora Alessandra Abdala, de 45 anos, perto da escola em que lecionava em Florianópolis.
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Os números proporcionais do crime são maiores do que em 2021, quando o ano contabilizava 48 mulheres assassinadas até 23 de novembro e terminou com 55 mortes. Segundo a delegada Patrícia Zimmermann, coordenadora das Delegacias de Proteção a Criança, Adolescente, Mulher e Idoso (DPCAMI) do Estado, as estatísticas de feminicídios são muito dinâmicas.
— Todos os trabalhos são feitos para reduzir esses números. Em 2019 foi muito ruim, com 58 casos. Já em 2020 tivemos uma pequena queda, registrando 57 mortes. Em 2021 foi mais uma pequena queda e este ano está semelhante ao ano passado — avaliou a delegada.
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Zimmermann explica que o feminicídio é diferente de crimes como furto, roubo ou tráfico, que podem ter índices reduzidos com forças policiais na rua. O combate à violência contra a mulher depende muito mais da denúncia nos primeiros atos de agressão física ou psicológica e ameaça.
— Acho que a grande dificuldade é que é um crime que ocorre dentro de casa. Prevenir crimes no núcleo familiar é muito difícil e sempre tem aquela cultura de se resolver dentro da família, de se corrigir dentro do ciclo. Mas, a gente tem visto que o agravamento é muito real e situações de violência acabam no feminicídio — explica.
Perpetuação da violência contra as mulheres
A perpetuação da violência contra a mulher está ligada à herança histórica da construção da sociedade patriarcal. Em uma realidade que inferioriza a figura feminina, a mulher está sujeita a ter menos direitos, menor representatividade e poucas formas de se defender ou defender a própria vontade.
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— A gente sempre teve um núcleo em que a mulher estava em plano inferior e o homem era a autoridade. Por isso, houve essa tolerância da violência contra a mulher por muito anos — reforça a delegada.
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A realidade passou a melhorar com o endurecimento da legislação brasileira, com leis de respaldo à vida das mulheres, mas ainda precisa de atenção, diz Zimmermann. A partir de denúncias, prisões preventivas e medidas protetivas podem ser essenciais para garantir a segurança de mulheres em situação de perigo. No entanto, nem sempre as vítimas e as pessoas ao redor reconhecem que é o momento de pedir ajuda.
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A mudança de consciência sobre as problemáticas envolvendo a violência doméstica também é importante para diminuir a incidência do crime. Segundo Zimmermann, alterar a mentalidade é fundamental para identificar situações de violência que são normalizadas e reconhecer a necessidade de denunciar agressores. A delegada avalia que o processo para isso é difícil e acontece de geração para geração.
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A professora Alessandra Abdala, de 45 anos, desceu do ônibus por volta das 7h30min desta quinta-feira (24) para ir até a creche onde trabalhava, no bairro Tapera em Florianópolis. No caminho, ela foi abordada pelo ex-companheiro, um policial militar que disparou com uma arma de fogo contra ela. O homem tinha sido denunciado por Alessandra após um episódio de ameaça.
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A professora atuava como servidora da prefeitura desde fevereiro de 2014. Em nota, o município disse que a comunidade está em “choque”. O Sindicato dos Trabalhadores no Serviço Público Municipal de Florianópolis (Sintrasem) também lamentou a morte da servidora. Nas redes sociais, disse que “trata-se de um crime cruel e estúpido que causa dor em todos nós”.
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No dia anterior e cerca de 68 quilômetros ao Norte na Grande Florianópolis, o corpo de Miriam Pessoa, de 33 anos, foi encontrado queimado em cima da cama no município de Tijucas. O crime aconteceu na quarta-feira (23), por volta das 16h. O suspeito é o companheiro da vítima, que confessou o crime e estava sendo procurado pela polícia.
De acordo com o major da Polícia Militar de Tijucas, Eduardo João Steil, o irmão do marido de Miriam, que estava no local e liberou a entrada dos policiais na residência, ligou para o suspeito na presença dos policiais. Nesse momento, o companheiro da vítima teria confessado o crime. Ele relatou que teria dado um golpe mata leão na vítima e, logo após, colocou o corpo em cima da cama e ateou fogo no colchão.
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