Está oficialmente aberta a partir desta quarta-feira (1º) a temporada da tainha em Santa Catarina. Na praia do Campeche, no Sul de Florianópolis, pescadores e comunidade se reuniram no Rancho de Pesca Socio Cultural Getúlio Manoel Inácio em uma série de atividades que marcam a nova safra. O primeiro cerco foi feito na Prainha da Barra da Lagoa, também na capital catarinense.

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Conforme seu Ivanir Faustino, que comanda os trabalhos no rancho, a expectativa é capturar ainda mais peixes do que no ano passado.

— Esse ano nós estamos muito confiantes que dê tudo certo com a pesca, que as tainhas encostem no nosso Litoral. Nossa expectativa é muito grande — afirma.

A pesca da tainha faz parte da história de Ivanir. A tradição vem desde o bisavô e foi repassada de geração em geração até chegar a ele.

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— Minha ligação está no sangue. Meu pai trabalhava com isso, meu vô também trabalhava com isso. O meu vô era o atravessador, ele comprava o peixe e ia levar pro mercado público — relembra.

Calor pode afastar tainhas

O calor que tem se estendido pelos primeiros meses do ano, contudo, preocupa os pescadores. Ivanir afirma que as temperaturas influenciam na safra assim como a ausência do vento sul.

— Maio está ficando muito quente, então a tainha não encosta. Não tem os ventos sul para trazer esse peixe. Como o peixe vem do Rio Grande do Sul, precisa de vento para ele poder “caminhar”. Quando ele chega aqui tem que estar frio, tem que ter vento, aí o mar já não é tão bom para poder fazer o cerco, aí os pescadores têm que sair com segurança […]. É todo um conjunto — explica.

Ele destaca a combinação entre as condições do tempo e o trabalho dos pescadores, que sofre com os impactos do aquecimento global. Com essas mudanças, o período de pesca acaba se tornando reduzido.

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— Mas quando encosta o peixe a gente tem que estar preparado — afirma seu Ivanir.

Para Diego Getúlio Inácio, a expectativa para a safra é alta mesmo com o “veranico de maio”. Ele explica que os vigias ficam de olho em “arrepios”, mudanças na cor da água e nos pulos para identificar onde tem peixe.

— Ano passado já deu peixe aqui pra nós e parece que já tem um peixe aí na nossa área já. E se tiver rolando a missa e aparecer peixe, vamos parar a missa e vamos tocar para pescar esse peixe — brinca o pescador.

Legado carregado no nome

Diego é filho de seu Inácio, que dá nome ao rancho de pesca do Campeche. O legado do pai se transformou em tradição e em projetos desenvolvidos no local.

— O legado que ele passou pra mim, para nós aqui, é uma responsabilidade muito grande. Além disso, o ensinamento que ele passou também é importante, porque a gente já vem com isso desde pequeno, então torna-se mais fácil cuidar daquilo que ele tanto gostava — relata Diego.

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Ele conta que a pesca faz parte da rotina dele desde pequeno, não somente durante a pesca da tainha. Com isso, a comunidade se reúne em torno da atividade e também de outras ações do rancho, como escola de música, cinema, exibição de documentários e capoeira.

A presidente do Instituto Getúlio Manoel Inácio, Carla Inácio, conta que o espaço surgiu com a missão de dar continuidade ao legado de Getúlio, pai dela, que faleceu em 2018. Por meio da disseminação do conhecimento, o instituto leva os saberes da pesca para mais pessoas.

— A gente tem o próprio evento, que é um legado importantíssimo, em que a gente reúne a cidade, o litoral catarinense, para celebrar o início de uma das atividades mais importantes da nossa cidade, que é a pesca da tainha. A gente fala que a abertura é a espinha dorsal que dá a condição de a gente poder se conectar com outras culturas. Não é à toa que a gente tem uma programação muito vasta que está relacionada com a nossa identidade. É a pesca artesanal com as rendeiras, com a música, com a preservação ambiental, com o boi de mamão — explica.

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Programação em Florianópolis

Além do Campeche, a Praia do Moçambique conta com evento de abertura da pesca da tainha a partir das 14h desta quarta-feira no Rancho de Pesca (Canto do Morro). Já o Pântano do Sul terá programação no sábado (4) a partir das 8h.

A safra teve início nesta quarta-feira para a pesca na modalidade de arrasto de praia. Já no 15 de maio começa a modalidade de emalhe e a partir de 1º de junho fica permitida a pesca industrial.

O primeiro cerco registrado até o momento foi feito na Prainha da Barra da Lagoa, ainda na manhã desta quarta-feira, comandado pelos proprietários das canoas e pontos de pesca, Leandra e Nei. No local foram pescados 683 peixes.

Veja fotos do primeiro cerco de tainha da safra 2024

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Cotas para pesca da tainha 2024

  • Emalhe anilhado – 586 toneladas
  • Cerco/Traineira – 480 toneladas (50 toneladas por embarcação)

Períodos de pesca da tainha 2024

  • Emalhe costeiro superfície até 10 AB – 15 de maio a 15 de outubro
  • Emalhe costeiro superfície acima 10 AB – 15 de maio a 31 de julho
  • Desembarcada ou não motorizada – 1° de maio a 31 de dezembro
  • Emalhe anilhado – 15 de maio a 31 de julho
  • Cerco/traineira – 1° de junho a 31 de julho

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