A 1.465 metros acima do nível do mar e 16 km do Centro de São Joaquim, região serrana de Santa Catarina, fica o pomar de Francisco de Assis Demeciano, 62 anos. Ao clarear o dia ele, a mulher, o filho e a nora começam a colher uma a uma as maçãs que mais tarde viajarão o Brasil inteiro até chegarem às gôndolas dos supermercados como uma das frutas mais valorizadas do mundo. Crocante, suculenta e de uma doçura incomparável, a maçã catarinense reina absoluta. E faz da região de São Joaquim a maior produtora do Brasil.

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Desde 1902 se tem registro do cultivo de maçã no Estado pelos primeiros imigrantes europeus. Demeciano viu a produção da fruta tomar vulto a partir dos anos 1970, quando seu pai, também agricultor, plantava batatas. Nessa época pesquisadores japoneses vieram ao Brasil, entre eles o dr. Kenshi Ushirozawa, e trouxeram as primeiras mudas da variedade fuji, a preferida dos brasileiros.

– Em poucos lugares do mundo se consegue produzir a Fuji com qualidade – afirma Marcelo Cruz de Liz, engenheiro agrônomo da Estação Experimental da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri) em São Joaquim.

>>> Colhidas uma a uma, as maçãs são produzidas em sua maioria em pequenas propriedades

>>> Maçã catarinense é a mais valorizada no mercado nacional

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Os próprios japoneses hoje afirmam que a fuji catarinense é melhor que a produzida no Oriente. Só se consegue produzir a fruta com a coloração, formato e qualidade ideais acima de 1,2 mil metros acima do nível do mar. A região de São Joaquim fica num dos pontos mais altos do país, numa altitude média de 1.360 metros e tem cerca de 800 horas de frio por ano, condição ideal para a fuji. A variedade gala, que representa 40% de toda a produção de maçãs no Estado, produz bem em altitudes de até 800 metros.

Foi também nos anos 1970 que o Estado investiu muito na fruticultura através de pesquisa e extensão rural. Com a instalação da Estação Experimental da Epagri, cientistas chegaram à macieira ideal, capaz de produzir mais frutos e mais resistente a pragas.

– A maçã é um cultivo de detalhe. E exige muita técnica do ponto de vista fisiológico e no manejo das plantas – diz o agrônomo.

Segundo o pesquisador da Epagri Gilberto Nava, há 40 anos praticamente não existia maçã no Brasil, a fruta era importada do Chile ou da Argentina. Graças à pesquisa e agenciamento de cientistas se começou a plantar e produzir por aqui.

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O resultado se vê na importância que o cultivo da fruta tem para a economia primária catarinense: a maçã é a décima em relevância de todos os produtos agropecuários, atrás apenas da carne suína, frango, soja, entre outros, e na lista das frutas é a que mais se destaca, representando 45% do mercado de frutas de Santa Catarina no último estudo sobre fruticultura catarinense da Espagri, de 2012/2013.