*Artigo por Mário Sant’Ana
As frases espalhadas na confeitaria Amor & Canela revelam com inteligência a conexão irrevogável entre as coisas simples e as verdades profundas. Há dois anos, uma delas me ensinou: “Não tente agradar todo mundo… Você não é pão!!”
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“Que pensamento brilhante!” — exclamei. Brilhantes também ficaram os olhos de uma mulher que me ouviu. Havia neles uma angústia resignada: “Meu marido a deixou aqui.” A dor daquele coração tocou o meu de tal forma que não me acanhei: “O que aconteceu?” “Um acidente na Serra Dona Francisca” — foi a resposta.
Minha mente ricocheteou em direção aos livros de neurologia que notara dispostos em um canto da loja. “A senhora é a viúva do Dr. Norberto Cabral!” —deduzi. Dor e orgulho se intensificaram no olhar de Rosani Maria Marchi, transparecendo uma saudade que não tem cura, mas tampouco quer nem precisa sarar.
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Não conheci pessoalmente o renomado neurologista e pesquisador, mas lera com pesar sobre o acidente que, fazia poucos meses, interrompeu-lhe a vida.
O quilômetro 16, onde Norberto Cabral faleceu, é o endereço de 13 em cada 100 acidentes na SC 418. Cognominado “Curva da Morte”, o local é bem conhecido pelo 2º sargento Indalécio Schlickmann, com quem conversei no Posto 4 da Polícia Militar Rodoviária, em Campo Alegre.
O militar veterano oferece conselhos práticos para mitigar os problemas da estrada: “É preciso corrigir a inclinação de algumas curvas, para reduzir o risco de deslizamentos, tombamentos e capotamentos.” Para ele, a imprudência não é meramente uma coadjuvante nas histórias de dor escritas na estrada. “Tem gente que dirige como se fora dos trechos de serra não houvesse perigo. Não é verdade. Nos trechos planos, muitos motoristas se perdem nas curvas fechadas no fim das retas. Não respeitam a sinalização, não reduzem a velocidade e passam direto.”
Com a sabedoria formada em parte pelas desgraças que vê na lida diária, resume: “A estrada é perigosa, mas o risco é administrável.”
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Sua leitura está correta. As ameaças impostas pela geografia e pela instabilidade climática da região podem e devem ser mitigadas por investimentos bem orientados, manutenção levada a sério, fiscalização ostensiva, aplicação da lei e obediência à sinalização. Em todas essas dimensões, decidir e executar corretamente é um fator determinante, ou seja, os governantes precisam cumprir seu dever.
Integro um grupo de cidadãos que se mobilizou para reduzir o número de acidentes e vítimas na SC 418. Vamos entregar ao Governador Carlos Moisés o Manifesto pela Vida, no qual reivindicamos ações emergenciais para tornar a estrada mais segura.
Em uma semana, obtivemos a adesão de 35 entidades da região, dentre organizações da sociedade civil, empresas, universidades, igrejas e órgãos governamentais. Paralelamente, circula nas redes um abaixo-assinado pedindo providências ao Governo do Estado. Em poucos dias, centenas de indivíduos aderiram à causa. Clique aqui para assinar.
São pessoas que acordaram para a obviedade de que votar a cada dois anos não soluciona os problemas da sociedade. É preciso contribuir com ideias, dar respostas positivas às boas políticas públicas, rejeitar as más e deixar claro para os governantes quais são as prioridades dos governados.
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A construção de um quartel da Polícia Militar Rodoviária (PMR) no KM 9 da SC 418, por exemplo, é uma dessas prioridades. Felizmente, a questão é ponto pacífico para o Governo do Estado, para a Prefeitura de Joinville, para os policiais envolvidos na fiscalização da rodovia, para as empresas da região, para os interessados em preservar os mananciais e para quem entende que a vida é importante.
Os ganhos são muitos. A nova instalação permitirá que os militares contribuam com mais efetividade para a segurança e conservação da estrada, reduzindo os custos do transporte, ampliando a proteção do ambiente, incentivando o turismo na região e, principalmente, evitando mortes e sofrimentos.
A Associação dos Municípios do Nordeste de Santa Catarina (AMUNESC) já entregou o projeto executivo e o Município de Joinville se ofereceu para construir o quartel até o fim de 2022, em uma área de sua propriedade e, então, doar o ativo para o Estado de Santa Catarina.
É o caminho mais rápido. Se o Governo do Estado escolher executar o projeto, estará sujeito às barreiras legais do período eleitoral e a obra atrasará, pelo menos, um ano. Essa é uma opção ruim.
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As propostas no Manifesto pela Vida e o quartel da PMR no Km 9 são prioridades desta região. São urgências às quais o Governo do Estado de Santa Catarina precisa dar a devida prioridade.

*Mário Sant’Ana é tradudor e intérprete, cofundador do Projeto Resgate, organização com ações para reduzir contrastes sociais, e co-idealizador do programa Think Tanks Projeto Resgate, para o desenvolvimento de habilidades de inovação intersetorial, soft skills e liderança não hierárquica. Escreve artigos para o A Notícia às terças-feiras. Contato: mario@projetoresgate.org.br