Mervat Bukhari, uma batalhadora com niqab, teve que enfrentar zombarias e insultos para se tornar a primeira mulher saudita empregada em um posto de gasolina, algo inimaginável há pouco tempo.
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Esta mulher simboliza a evolução do status das mulheres sauditas, que em poucos meses obtiveram mais direitos do que em várias décadas: o de dirigir a partir de junho, assistir a jogos de futebol e ser empregadas em serviços até agora reservados aos homens.
Esses direitos são considerados básicos em outras partes do mundo, mas neste reino ultraconservador governado por uma versão rigorista do Islã é algo significativo.
No entanto, ainda há muito a fazer para reformar o sistema de tutela que sujeita uma mulher à vontade de um homem para várias tarefas.
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Esta evolução é em grande parte o resultado da vontade do jovem príncipe herdeiro Mohamed Bin Salman, que parece determinado a tirar a sociedade saudita do seu profundo conservadorismo.
Quando Mervat Bukhari, de 43 anos e mãe de quatro filhos, foi promovida a supervisora do posto de gasolina de Jobar (leste), os insultos proliferaram nas redes sociais.
“As sauditas não trabalham em postos de gasolina”. Este rótulo revelou a resistência social à evolução do status das mulheres.
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“Eu supervisiono e não coloco gasolina”, defende-se Mervat Bukhari, antes de enfatizar que “as mulheres de hoje têm o direito de fazer qualquer trabalho”.
A mídia local, entretanto, não para de celebrar a abertura do mercado de trabalho às mulheres: a primeira chef saudita de um restaurante, a primeira veterinária ou a primeira guia turística.
Mas esses avanços não revelam a floresta do milhão de mulheres que procuram emprego no reino, de acordo com dados oficiais.
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O objetivo da “Visão 2030”, o grande programa de reformas lançado em 2016 pelo príncipe Mohamed, é elevar a cerca de um terço (em comparação com 22% atualmente) a porcentagem de mulheres na força de trabalho.
– Subempregadas e mal pagas –
“As sauditas estão mais instruídas, mas têm menos mobilidade, estão subempregadas e são amplamente mal pagas”, indicou à AFP Karen Young, pesquisadora do Instituto dos Estados do Golfo em Washington, explicando a situação das mulheres no mercado de trabalho saudita.
O salário mensal médio dos homens no setor privado é de cerca de 8.000 riyals (1.730 euros, 2.130 dólares), contra 5.000 riyals para as mulheres, de acordo com o centro de estudo Jadwa.
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E a Arábia Saudita ocupa a 138ª posição de um total de 144 no relatório 2017 do Fórum Econômico Mundial sobre a paridade de gênero.
Mas o reino procura mudar o rumo e a carteira de motorista pode adicionar milhões de mulheres ao mercado de trabalho.
Nos últimos meses, mulheres foram vistas pela primeira vez em shows e restaurantes mistos. A polícia religiosa, uma vez responsável por garantir a segregação entre os sexos, tem desaparecido progressivamente do espaço público.
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A expressão bem conhecida “Você é uma mulher, cubra o seu rosto”, parece ter desaparecido das conversas, escreve Abdel Rahman al-Lahim, advogado especializado em direitos humanos, no jornal pró-governo Okaz.
A nível regional, a Arábia Saudita – talvez sob a influência de seu aliado americano – parece imersa em uma competição com o Irã, seu grande rival no Oriente Médio, para trabalhar melhor em termos de direitos das mulheres.
– Acabar com a tutela –
Mas os militantes locais acreditam que o rígido sistema de tutela deixa muitAs sauditas vulneráveis aos caprichos de um pai conservador, um marido autoritário ou um filho irritado.
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Os abusos são numerosos: presas bloqueadas nas cadeias depois de cumprir suas sentenças porque seus guardiões não as reivindicam, uma saudita que não pode renovar seu passaporte porque o pai está em coma, etc.
“Se eu pudesse escolher entre o direito de dirigir e o direito de acabar com a tutela, eu escolheria a última opção”, disse um militante que pediu anonimato à AFP. “Não quero ficar atrás do volante e ser considerada uma pessoa inferior”.
Mas parece que o governo está desmantelando o sistema pouco a pouco. Acaba de permitiu que as sauditas criem suas próprias empresas sem a autorização de um tutor.
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Isso foi confirmado pela princesa Reema bin Bandar bin Sultan, responsável pelo esporte feminino na Arábia Saudita, que declarou na semana passada em Washington que seu país procura avançar “em todos os direitos das mulheres”.
Ela considerou que a questão da “violência de gênero é crucial. Eu prometo que estamos trabalhando seriamente nisso”.
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* AFP