Ao me debruçar sobre o papel para colocar algumas ideias para a saúde pública de nossa cidade, para a Joinville que cada cidadão deseja para o presente e para o futuro próximo _ e também o mais distante _, sou tomado pelo sentimento coletivo da classe médica. Como presidente da sociedade médica mais antiga do Estado, a Sociedade Joinvilense de Medicina (SJM), e, por consequência, também uma das mais representativas do Sul do País, observo que “saúde pública” é um termo que define exatamente o que nós, médicos, queremos: exterminar com a doença. Neste conceito, a leitura vai mais adiante. Queremos que as pessoas que aqui nasceram, que aqui vivem, que aqui determinaram construir suas vidas e trabalhar tenham “qualidade de vida”, em toda a plenitude desta expressão. Vou explicar melhor esta macroideia nas próximas linhas.

Continua depois da publicidade

Nós, médicos, quando pensamos na população com o olhar do sistema público de saúde, pensamos em como não permitir que a população adoeça. Pois simplesmente pensar em como tratar os doentes no contexto público está fora de moda. É muito caro, não tem resolutividade e não tem finalidade, já que se torna um ciclo autofágico sem fim.

Há mais de um século, o sanitarista e médico Oswaldo Cruz já entendia que saúde pública está baseada em pilares como saneamento básico, educação e prevenção. E desde então, nada mais moderno, atual e desafiante foi escrito neste sentido. Então, para um leitor mais apressado ou desavisado, a situação parece muito simples de ser resolvida. Basta que os governos federal, estadual e municipal invistam com seriedade nestes setores que tudo estará resolvido. A história está aí para nos mostrar que, infelizmente, não é assim que acontece. Sim, claro que tivemos avanços ao longo das décadas, mas problemas crônicos persistem e são temas de longos discursos a cada campanha eleitoral.

Senão, vejamos: saúde pública se inicia no saneamento básico. Se inexiste água potável e se o manejo dos dejetos se dá de forma inadequada, certamente doenças de forma epidêmica se instalam e o caos primário na saúde pública se manifesta. Fazer um bom saneamento básico custa, e custa muito em uma cidade construída sobre manguezais. Basta ver o efeito que as chuvas ocasionaram nos últimos dias na nossa cidade. Dejetos refluíram de esgotos, cidadãos desalojados, água potável está ausente em muitos lares e o tão eleitoreiro asfalto destruído. Sim, asfalto aparece, saneamento básico não. Fica enterrado. Hoje se vê algo bizarro. Os governos fazem pactos! Pactos para evitar enchentes. Por favor, pactuar algo e sentar e conversar e ver se vai ou não dar certo. Não necessitamos de pactos. Necessitamos de atitude e resolutividade. O que fazer, os engenheiros já explicaram há muito. Agora, é necessário agir, investir e resolver.

Dizer que necessito de mais leitos para tratar doenças, que são originadas pelas más condições de higiene, é um contrassenso. Leitos ocupados por hepatite, leptospirose e tantas outras doenças transmissíveis que podem ser minimizadas ou evitadas por simples hábitos de higiene parecem pertencer a um passado distante, mas são tão contemporâneas que chegam a causar espanto.

Continua depois da publicidade

THOMAS A. HUBER: Dr. Thomas Andreas Huber, 49 anos, graduou-se em medicina pela Unicamp em 1988. É membro titular da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT) e da Sociedade Brasileira de Cirurgia do Ombro e Cotovelo (SBOC). Também atua como perito judicial médico pela Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT). É o atual presidente da Sociedade Joinvilense de Medicina (SJM).

:: Confira página especial do projeto ::