Entre os anos de 2018 e 2022, o número de brasileiros que deixaram o país para viver na Irlanda aumentou em mais de 430%: um salto de 15 mil imigrantes para cerca de 80 mil, segundo dados do Ministério das Relações Exteriores. Entre a parcela de brasileiros que vivem na ilha europeia, há catarinenses que relataram ao NSC Total dificuldades, aventuras e como é a rotina de vida na nação conhecida pela facilidade de conseguir visto para estudar, encontrar emprego e se regularizar.
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De acordo com os catarinenses que residem na Irlanda e conversaram com a reportagem, diversos fatores foram decisivos no momento de abandonar o Brasil em busca de melhores condições de vida e escolher o país de pouco mais de cinco milhões de habitantes e 70 mil quilômetros quadrados como novo lar:
- oportunidades de intercâmbio, migração e vistos para trabalho relativamente facilitados em comparação a outros países desenvolvidos do exterior;
- segurança pública e qualidade de ensino;
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- modalidade de visto de estudos que permite trabalhar 20 horas por semana, o que geralmente não é permitido em outros países;
- maiores salários e maior oferta de empregos em relação ao Brasil, já que a Irlanda não é considerada atrativa para os próprios europeus, o que deixa abertas oportunidades no mercado de trabalho;
- o fato de ser um país europeu e a possibilidade de conhecer outras localidades do continente.
Apesar disso, eles relatam as dificuldades que encontraram no país. Confira abaixo um panorama de como é a criminalidade e a segurança pública, a questão trabalhista e estudantil, a adaptação cultural, a receptividade aos brasileiros, o custo de vida e o lazer.
Criminalidade e segurança pública na Irlanda
Um dos fatores que mais atrai turistas para a Ilha Esmeralda, como é conhecida a Irlanda, é a segurança pública. No entanto, nas últimas semanas, dois casos envolvendo brasileiros acenderam o alerta para a questão da criminalidade e do constante preconceito e violência contra imigrantes no país: a do entregador paulista João Henrique Thomaz Ferreira, que teve a perna amputada após ser atropelado por um carro da polícia irlandesa, e do carioca Caio Benício, que reagiu a um ataque em uma escola e impediu uma criança de cinco anos de ser esfaqueada, no dia 23 de novembro deste ano.
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Natural de Itajaí, a catarinense Ariane Feller, de 34 anos, mora na Irlanda desde fevereiro de 2018 e relatou em entrevista ao g1 que o marido Ailton enfrenta desafios semelhantes como entregador de comida, categoria bastante exercida por estrangeiros e que frequentemente é alvo de agressões, roubos e perseguições por parte de gangues locais.
— Meu marido sofre muito com isso. São gangues de jovens irlandeses que roubam e furtam motos e bicicletas de entregadores. Eles não vendem, apenas destroem, colocam fogo, derrubam para arranhar. A gente vê aumentar alguns casos desses por aqui, embora a criminalidade nem se compare à do Brasil.
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De acordo com relatos das fontes que conversaram com o NSC Total, a polícia da Irlanda, conhecida como Garda, não anda com armas (exceto em operações ou unidades especiais). Eles costumam usar cacetetes como forma de intimidação e manutenção da segurança pública, mas não são muito “preocupados” quando se trata de casos relacionados a imigrantes.
— Não acho que seja um país perigoso, mas a polícia é realmente bem despreparada — relata Ana Carolina Olescovicz Rodrigues, de 18 anos, natural de Canoinhas, no Planalto Norte de Santa Catarina, que se mudou para o país europeu em fevereiro deste ano para intercâmbio de estudos.
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Oportunidades de trabalho na Irlanda
Apesar dos problemas com os entregadores, a cultura do trabalho de forma geral é muito bem avaliada pelos brasileiros que moram na Irlanda. Além da facilidade em encontrar uma oportunidade e um bom salário, muito raramente se é demitido no emprego, a não ser por justa causa.
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Dentista pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e natural de Florianópolis, a catarinense Manuela Broering Lebarbenchon Pezzini, de 29 anos, mora em Dublin, capital da Irlanda, há pouco mais de três anos. Ela se mudou para o país em meio à pandemia de Covid-19, junto de seu então namorado e atual marido, por conta da facilidade de conseguir um visto de trabalho.
Após breve passagem por Portugal, onde não se sentiu muito bem acolhida, Manuela mandou alguns e-mails e desembarcou no país europeu já com contrato assinado em uma clínica odontológica.
— Além de saber falar o inglês, eu tinha a noção de que a Irlanda era um dos poucos países da União Europeia que, dependendo da profissão, te concede um visto de trabalho — destaca a profissional, que ainda possui relações com Santa Catarina e faz curso de pós-graduação à distância na área da ortodontia, na Universidade do Vale do Itajaí (Univali).
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Após algumas experiências trabalhistas em Dublin, Manuela decidiu, há cerca de quatro meses, abrir a própria clínica, a Unique Dental, na região de Dublin 8 (a cidade é dividida em 21 distritos).

No geral, a grande maioria dos brasileiros se emprega nas áreas de hotelaria e serviços, que exigem menos conhecimento e experiência, além de prosperarem com o mercado aquecido economicamente e com o aumento no consumo gerado pelas grandes empresas instaladas na capital.
— Aqui, qualquer trabalho que te oferecem você aceita. Já trabalhei como caixa de bar, em eventos, festivais, com limpeza, até como segurança em um show do Harry Styles — relata Ana Olescovicz.
Custo de vida e preço dos aluguéis na Irlanda
Como boa parte das principais potências econômicas da Europa, afetadas pela pandemia e pela guerra que se alastra entre Rússia e Ucrânia desde fevereiro de 2022, a Irlanda também tem lidado com a histórica escalada no custo de vida. O resultado é uma inflação que atingiu o maior nível em quase quatro décadas e forçou o Banco Central Europeu a conduzir um agressivo aumento nos juros.
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De acordo com a catarinense natural de Balneário Camboriú, Maria Lígia Bernardinho, de 46 anos, os aluguéis foram um dos setores que tiveram maior alta no preço nos últimos anos.
— Os preços para moradia variam muito, depende de cada cidade, bairro, mas são altos, é onde se gasta mais. Um apartamento estúdio em Dublin, de dois ou três quartos, por exemplo, fica em torno de € 1.800 (cerca de R$ 9.700 em valores atuais) — relata Lígia, que se mudou para um intercâmbio na cidade de Cork em 2018.
— Geralmente, quem se muda para a Irlanda divide casa até se estabilizar e poder morar sozinho.
Foi o caso de Ana Olescovicz. Inicialmente hospedada em uma residência oferecida pela própria agência de intercâmbio, a catarinense chegou a morar em uma casa com 20 pessoas e ainda pagar um preço relativamente alto por isso.
— Quando cheguei aqui, eu pagava na faixa de € 600 a € 650 (em torno de R$3.500) para dividir quarto com duas ou mais pessoas — relata a jovem.
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Atualmente, outro gasto que está elevando o custo de vida na Irlanda é a energia. Apesar de ser cobrada a cada dois meses, as contas subiram consideravelmente após o início da guerra na Rússia, país que fornece gás natural para todo o continente europeu. Os preços também variam conforme o tipo de aquecimento da água, recurso presente na maioria das residências, devido ao clima gelado.
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Apesar dos altos valores para energia e moradia, as contas na Irlanda costumam ter um preço considerado razoável. A água é gratuita no país, inclusive com filtragem na própria torneira. Alimentação, transporte e lazer também costumam ficar dentro do orçamento para a maioria dos cidadãos. A Irlanda possui o quinto maior salário mínimo da Europa, com € 11,30 por hora (aproximadamente R$ 60,72).
De acordo com a catarinense Ariane Feller, um entregador recebe cerca de € 800 com moto e cerca de € 600 de bicicleta, trabalhando oito horas por dia e folgando sábado e domingo. Como algumas pessoas optam por trabalhar mais de oito horas por dia e também aos finais de semana, o salário pode chegar a € 1,3 mil por semana, o que dá quase R$ 7 mil na conversão atual.
Adaptação cultural de catarinenses na Irlanda
Acostumados com temperaturas tropicais e uma cultura completamente diferente da Irlanda, os catarinenses que se mudam para o país europeu precisam passar por uma espécie de adaptação até se sentirem confortáveis e poderem chamar a Ilha Esmeralda de lar.
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Em relação à alimentação, a grande maioria das fontes ouvidas pela reportagem comentaram que, apesar do país produzir pouca variedade de alimentos e importar muita coisa, é bem fácil encontrar comidas brasileiras em terras irlandesas, país considerado multicultural.
— Tem muitos mercados, cafés e restaurantes brasileiros. Você encontra pão de queijo, temperos, até chimarrão, apesar de coisas específicas, como algumas frutas, serem mais difíceis — relata Manuela.
Para Lígia Bernardinho, que mudou a dieta e se tornou vegana na Irlanda (e compartilha algumas receitas no perfil do Instagram @calmariagreen), uma das coisas que os catarinenses mais comentam sentir falta é do tradicional pinhão.
— Eu participo de um grupo chamado “Cozinheiros na Irlanda”, que troca informações sobre onde encontrar ingredientes brasileiros no país. E nessa comunidade, sempre aparece alguém falando que tá com muita saudade de comer pinhão. Se a gente pudesse importar a semente, acho que ficaríamos ricos.
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Outra questão que costuma exigir um período de adaptação por parte de alguns brasileiros é o clima. O grande volume de chuvas, fortes ventanias, frio intenso e anoitecer mais cedo são alguns dos fatores.
— Como sou de Florianópolis, que também é uma ilha e tem muitas variações de temperatura, o clima nunca foi um problema para mim. Única coisa estranha aqui é que, no inverno, os dias são mais curtos. Ou seja, por volta das 16h, já está escuro, mas é algo que você acaba se acostumando — afirma Manuela.
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De acordo com a dentista, ela conhece alguns catarinenses que foram para a Irlanda, não se adaptaram ao clima e se mudaram para outros países, como Espanha, Portugal e Malta.
A receptividade aos brasileiros na Irlanda
Apesar dos recentes ataques à imigrantes em Dublin, a Irlanda é considerada um país bastante aberto e receptivo a estrangeiros. De acordo com a revista Condé Nast Traveller, três cidades do país foram eleitas como as mais simpáticas do mundo: Galway, Cork e Dublin (capital e a com maior concentração de brasileiros).
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— A Irlanda tem uma diversidade muito grande, e os imigrantes fazem amizade entre si, mesmo sendo de países diferentes. Tenho amigos brasileiros, chineses, tailandeses, poloneses, portugueses e espanhóis — relata Lígia Bernardinho, destacando que na cidade de Gort se fala mais português do que inglês, de tantos brasileiros que residem na região.

A catarinense Ariane Feller confirma e completa afirmando que os brasileiros são muito bem-vistos pelos irlandeses no meio profissional.
— Os brasileiros vêm para trabalhar e ganhar dinheiro, então, trabalham muito bem e se dedicam. Isso é valorizado pelos nativos, que gostam de nos contratar.
Opções de lazer e passeios na Irlanda
Mesmo sendo menor que o estado de Santa Catarina, com uma área de 70.273 quilômetros quadrados contra 95.346 quilômetros quadrados, a Irlanda possui muitas opções de lazer e de turismo para quem mora ou para quem a visita.
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Conhecida como Ilha Esmeralda justamente pela grande presença de vegetação verde em seu território, há passeios em praias, parques, montanhas, lagos, cachoeiras, jardins e falésias na Irlanda que são de tirar o fôlego.
— Fazer uma viagem de carro é uma excelente opção para conhecer o país. Por ser ilha, a beleza natural encanta. Devido à chuva, quando abre qualquer raio de sol, a paisagem se transforma com arco-íris — afirma Lígia Bernardinho.
Por ser uma nação muito antiga, a Irlanda também possui muitos castelos e é berço de produção de diversos filmes e séries, como Harry Potter, Star Wars e Vikings.

(Foto: Arquivo pessoal, Manuela Lebarbenchon)
Outra opção para quem já está na Irlanda é explorar o continente europeu, com destinos a poucas horas de distância, como Malta, Inglaterra e Bélgica, e preços acessíveis para percorrer longos trajetos.
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— Costumo fazer viagens para outros países nos fins de semana, porque é tudo muito perto e muito fácil. As passagens são bem em conta também, às vezes por € 20 (cerca de R$108) ida e volta — destaca Manuela.
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Comunidade brasileira no Exterior
De acordo com dados levantados pelo Ministério das Relações Exteriores em 2022, a comunidade brasileira no exterior ultrapassou os 4,59 milhões de cidadãos, o que equivaleria ao 13º mais populoso estado do país, a Paraíba, com 3.974.495 habitantes, de acordo com o censo demográfico de 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
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Mesmo sendo estimado, já que o registro consular de nacionais no exterior não é obrigatório, esse é o maior número desde 2009, quando cerca de 3,18 milhões de brasileiros residiam em outras localidades. Ou seja, o número de brasileiros morando pelo mundo cresceu 44%.
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As mais expressivas concentrações estão nos Estados Unidos (maior comunidade brasileira, com 1,9 milhão de pessoas), Portugal (segundo lugar, com 360 mil brasileiros), Paraguai, Reino Unido e Japão.
Ainda de acordo com o Itamaraty, há somente um brasileiro morando na Coréia do Norte, um dos países mais fechados e isolados do mundo.
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