Há quem sente e silenciosamente se emocione. Outros colocam as mãos sobre o túmulo e, solitários, jogam conversa fora. Alguns em família apontam o dedo para o local onde seu ente querido está enterrado e prestam homenagens em uma data destinada justamente à memória daqueles que já partiram.
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– É ali que o vovô está descansando – diz uma senhora de seus 60 e poucos anos ao lado da neta, enquanto passa com sua família entre os mármores do cemitério da Rua Bahia, em Blumenau.
Seja parado em pé, com óculos escuros, cabeça levemente inclinada para frente e mãos entrelaçadas, ou então em qualquer outra posição, sussurrando algo com o mais discreto do mexer dos lábios, cada pessoa tem o seu ritual no dia 2 de novembro. Não há certo ou errado e o que importa, na prática, é o sentimento que ela sente. Conforto, lembrança ou até mesmo dor. Pouco importa em um local que é público e ao mesmo tempo tão íntimo.
Subindo a rua quase vertical que dá acesso ao cemitério, fica quase impossível não olhar para o lado direito. No vaivém, entre centenas de pessoas que sobem e descem a pequena rua, uma família com dois violões faz uma cantoria em meio ao silêncio quase absoluto. Essa é a forma singular com que Gertrudes, Amanda, Samantha e Renê prestam homenagens a Flávio Salm, que se foi em 2009. Esposa, filhas e pai, respectivamente, eles dedilham musicas em tributo ao caminhoneiro que partiu aos 46 anos.
Nem as meninas, muito menos o seu avô têm muita intimidade com a viola nos braços, e eles mesmos admitem isso, já que começaram a fazer aulas há pouco mais de oito meses. Mas pouco importa. O que vale é entoar aquelas músicas que Flávio gostava de ouvir durante suas viagens e que marcaram a convivência. Ao som de Chalana, música de Mário Zen e que ficou conhecida na voz de Almir Sater na década de 1990, a família sempre sorridente canta e bate palmas, enquanto estrofes da música fazem delicadas ligações com a vida real. Um amor que nem pôde se despedir. A dor. Os corações magoados.
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– O Flávio adorava sertanejo e a gente quer manter essa tradição. Quando ele viajava, sempre dizia que quem inventou a distância não sabia a dor da saudade, e por isso a gente quer ficar aqui, próximo a ele – conta a esposa Gertrudes Hillesheim Salm.
– Levei 88 anos da minha vida para pegar em um violão. É meu jeito de homenagear meu filho – completa o simpático Renê Fernandes Rios, que aproveitou o embalo das aulas que as netas têm para aprender a tocar o instrumento musical.
Estimativa é de que 20 mil
pessoas visitaram os cemitérios
A Secretaria de Manutenção Urbana estima que 20 mil pessoas tenham passado nesta quinta-feira pelos três cemitérios públicos da cidade – nas ruas Bahia, João Pessoa e Progresso. Durante o dia, apenas a visitação era permitida, já que a limpeza dos jazigos poderia ocorrer apenas até quarta-feira. O movimento mais intenso foi registrado entre 8h e 11h da manhã, o que forçou a Guarda de Trânsito (GMT) a enviar agentes para auxiliar o fluxo de veículos nos locais.