Um sapateiro de 68 anos, que passou parte da infância pedindo esmolas nas ruas de Florianópolis, está prestes a realizar um sonho de criança: se formar em Direito. Em conversa com o g1 SC, Paulo Cesar dos Santos conta que desde pequeno já via injustiça e racismo nas ruas da cidade, momento que a profissão começou a fazer sentido e virou propósito de vida.
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— Na minha mente, com 10 a 12 anos, eu queria saber o que era o Direito. Que faculdade era essa? Fui crescendo, mas não pude fazer. Família pobre, não tinha nada — relata o catarinense, filho de mãe solo.
O sonho de praticar advocacia só começou a se realizar em 2018, quando se matriculou em uma faculdade de Direito da Capital. Agora, na sétima fase do curso, almeja o registro na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).
— Tenho certeza que eu vou passar. Pela minha insistência, eu vou passar — afirmou.
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Árdua trajetória
O acadêmico revela que, aos sete anos de idade, junto com os dois irmãos, percorria diariamente os bairros Estreito e Centro para pedir doações e comida para a família.
— Passar fome dói. Só quem passou sabe o que é. Se tiver mais alguma classe abaixo de pobre, éramos nós. A miséria reinava lá em casa — afirma.
Em uma das saídas, Paulo conheceu um morador que indicou aos jovens um abrigo de menores, para onde foi com autorização da mãe. Lá aprendeu técnicas para atuar como sapateiro, praticou esportes e participou de aulas de reforço escolar. No entanto, foi no local que vivenciou o racismo mais de perto.
— Lá dentro a gente via o diferencial dos negros com os brancos. Era bem perceptível o que a gente vivenciava, o racismo — relata.
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Para o abrigo, iam diversos meninos de comunidades vulneráveis da Grande Florianópolis, que tiveram acesso à alimentação diária, estudo e inserção no mercado de trabalho.
Paulo Cesar saiu do espaço aos 18 anos, quando serviu a Força Aérea Brasileira. Depois, passou a trabalhar como sapateiro, profissão que segue exercendo aos 68 anos.
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