Leva praticamente todo o ano letivo para produzir um livro didático em braile. A cada mês, um capítulo é entregue aos alunos. Esse trabalho lento, porém essencial, começou a ser desenvolvido em 2017 pela Secretaria de Educação de São José, que está produzindo material pedagógico próprio para alunos cegos e com baixa visão.
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— Atualmente a rede de ensino da cidade tem apenas nove alunos nesta condição. Pode parecer pouco, mas ficará um legado para os próximos anos. É um trabalho difícil, mas muito gratificante — destaca a transcritora Tatiana Passig, de 39 anos.
Cada folha em tinta ocupa três em braile. Neste processo, é feita a impressão e edição de materiais didáticos e pedagógicos como livros, textos ampliados e áudios. A equipe também trabalha na adaptação de materiais complementares, como mapas, gráficos, tabelas, entre outros. O maior problema é o preço das impressoras: uma moderna chega aos R$ 80 mil.
Além da Tatiana, a equipe que faz essa transcrição é formada pelos revisores Atila Lisboa, Laureci Leite e Josué Leandro da Rosa Coelho, que é cego. O trabalho é desenvolvido no Centro de Apoio Pedagógico para Atendimento a Alunos com Deficiência Visual, no Kobrasol. Josué deseja que São José vire referência nas produções didáticas em braile.
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Jornalista, ele perdeu a visão aos 16 anos por causa de um glaucoma. Josué traduz os livros para o braile através de uma espécie de máquina de escrever de sete teclas: são seis para formar os caracteres mais uma para o espaço. O revisor explica que esse alfabeto é fundamental para o aprendizado dos alunos com deficiência visual.
— O computador e o smartphone estão fazendo um processo que eu chamo de “desbrailização”. É muito fácil para o cego hoje em dia acessar o celular com programas de vozes. Só que, para o aluno, não tem como aprender ciências exatas, por exemplo, sem os livros em braille. Então é importante que a escola tenha esse recurso.
São justamente esses livros que estão faltando. Na escola Antônio Francisco Machado, o Forquilhão, a aluna do 9º ano Gabriela Reis Ortiz, tem dificuldades para receber todo o material.
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— Eu tenho os de História, Matemática e Português. Estão faltando alguns capítulos e também falta Ciências e Geografia. E aí, quando não tem, eles (os professores) mandam os colegas lerem, mas às vezes é muito baixa a voz e eu não consigo ouvir.
Como a estudante não poder ler o que está no quadro, precisa de um professor auxiliar. Ela leva um notebook para a sala e em casa usa uma ferramenta chamada reglete, que serve para escrever em braile no papel.
Acessibilidade e preconceito
Outro problema que a menina encontra é a acessibilidades do Forquilhão, que é um colégio muito grande.
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— Eu acho difícil subir e descer a rampa, porque não tem piso guia, e as pessoas passam voando, então eu tento ir sempre antes.
A mãe da Gabriela é a operadora de telemarketing Ariane da Silva Reis, de 43 anos. Ela conta que a cegueira da filha às vezes vira motivo de preconceito na escola.
— Eu sinto que falta boa vontade de interagir com ela. É uma deficiência, não uma doença, e às vezes existe o preconceito por parte do próprio professor. Ela procura muitas coisas da aula na internet.
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Apesar das dificuldades, Ariane conta que Gabriela está indo para uma nova etapa da vida, o Ensino Médio, com ótimas notas. E acredita que até lá a produção dos materiais didáticos em braile pela prefeitura de São José já estará mais avançada.