A escalada de uma montanha é metáfora comum quando se fala em desenvolvimento pessoal e profissional. Realizar a meta é como alcançar o ponto mais alto de uma subida íngreme, onde a amplitude do horizonte e a paz de espírito fazem valer a pena todo o sacrifício. Para Acari Amorim, Robson Abdalla, Nelson Essemburg e Francisco Brito, o cume da metáfora e da realidade tem sabor de vinho fino.

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>> Segunda edição da Confraria Itapema acontece em outubro

Em 1999, os empresários compraram uma área de 87 hectares, no distrito de Lomba Seca, no município de São Joaquim. Ali, na antiga Fazenda Bentinho, distante 30 quilômetros do Centro da cidade, sob a altitude de 1.200 metros do nível do mar, os quatro tornaram-se sócios no cultivo de mudas vitis viníferas da Itália e de Portugal que deram início à vinícola Quinta da Neve — atualmente pertencente à Decanter.

As experiências com solo pedregoso da altitude, favorecidas pelo clima temperado, de estações bem definidas, deram frutos em forma de garrafas de Chardonnay, Cabernet Sauvignon, Syrah e Tempranillo, servidas em 30 de outubro de 2003. Naquela noite, enquanto a turística Florianópolis sofria com um apagão histórico, as luzes sobre os pioneiros parreirais indicavam uma nova rota de desenvolvimento para o Estado.

O sucesso da iniciativa atraiu centenas de produtores de todo país e do exterior, transformando a economia local em uma rota gastronômica que mescla o rústico e campeiro elementos da alta cozinha.

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Efeitos dionisíacos

Até meados do século passado, São Joaquim só era visitada por tropeiros em viagem, caçadores de animais silvestres e aventureiros. A vasta paisagem de campos e taipas, com matas de araucárias cobertas de geada, era, então, um cenário de penúria para a comunidade da vila, que sofria com meses sob frio e escassez de produção.

A popularização da TV, a partir da década de 1970, fez com que a inusitada neve na região ganhasse status de show recorrente nos telejornais nacionais. Logo, a população local passou a se orgulhar de viver na cidade mais fria do Brasil.

A cada inverno, a economia era aquecida pela chegada de turistas, hospedados em hotéis e pousadas que ofereciam fogo de chão, carreteiro, churrasco de frescal, pinhão, queijo serrano e, com sorte, um céu nevado.

Quando as primeiras garrafas foram abertas pela Quinta da Neve, em 2003, a região era mantida há cinco décadas pelo turismo de inverno, o ecoturismo no Parque Nacional de São Joaquim e a agropecuária, com destaque para a maçã.

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Em 20 anos, a cadeia produtiva do vinho se desenvolveu como um complemento fundamental aos mercados estabelecidos, influenciando na sofisticação de processos e dando visibilidade a produtos, serviços e gastronomia local, até então menosprezada por outros centros urbanos.

Ao lado de rótulos premiados nacional e internacionalmente, a tradicional paçoca de pinhão ganhou releitura gourmet e a nativa goiaba serrana (feijoa), antes lançada aos porcos, resultou em vários produtos da indústria alimentícia.

Mais do que incrementar a mesa e gerar renda e empregos, a bebida do deus grego Dionísio diversificou o turismo local, atraindo público em outras estações do ano com roteiros guiados pelas vinícolas e degustações perante cenários deslumbrantes.

Vinhos de conceito

Símbolo de uma transformação ainda em curso, a Quinta da Neve mantém o mesmo rigor no processo de fabricação dos vinhos. Antes mesmo do plantio da primeira muda na antiga Fazenda Bentinho, no distrito de Lomba Seca, os quatro sócios investiram tempo e pesquisa no projeto, envolvendo profissionais da Epagri e Embrapa.

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Regina Essemburg, sommelier, gestora da Decanter Florianópolis e esposa de um dos fundadores, lembra que na época havia muitos indícios de que a região era propícia ao cultivo.

— Essa região tinha muitas características de terrenos com longa tradição no vinho, como Salta, na Argentina, e da Alsácia, na França. Havia amplitude térmica perfeita, com noites frias e dias quentes, o que possibilita uma maturação das uvas de forma uniforme, com grande concentração de fruta e boa coloração — conta.

Das primeiras mudas trazidas desde Portugal e Itália, as que melhor se adaptaram à região pedregosa e de solo argiloso foram a Sauvignon Blanc e Pinot Noir. Ambas ainda são produzidas pela Quinta da Neve, em uma área restrita de 25 hectares, onde são cultivadas outros tipos, como Cabernet Suvignon, Merlot, Sangiovese, Montepulciano, Touriga Nacional e Chardonnay.

— A Quinta da Neve tem por princípio preservar o conceito conquistado desde os primeiros anos, produzindo em menor quantidade, mas com grande exigência no padrão de qualidade — reforça.

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Confraria Itapema
(Foto: José Somensi)

Dentre as seleções da casa, o Pinot Noir (2014) foi escolhido pela especialista para harmonizar com o prato do cozinheiro André Vasconcelos no próximo evento do Confraria Itapema, dia 15 de outubro, a partir das 20h. Um exemplar do rótulo será enviado ao público que adquirir o box com a receita de Pappardelle ao Molho de Cogumelos de Paris com Tuiles.

Com coloração rubi, aroma remetendo as frutas vermelhas frescas e tons de especiarias doces da barrica, o frescor deste tinto tem o sabor de uma história viva e promissora.

​​Acesse o canal Confraria Itapema e acompanhe a programação​

Esse projeto é uma realização da Itapema e conta com o oferecimento dos parceiros Bellacatarina, Grupo Geração, Formacco Cezarium, Unicred, Decanter, Casas da Água e Midea.