Quase 48 horas depois de se levantar sobre São Francisco do Sul, a coluna de fumaça provocada por uma reação química no depósito de fertilizantes da Global Logística baixou nesta quinta à noite sobre o Centro Histórico, provocando a terceira e mais intensa operação de evacuação da cidade. Pelo menos 13 bairros foram atingidos na cidade.

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No fim da tarde, hóspedes de hotéis e moradores foram transferidos para a Praia da Enseada. Homens da Marinha e do Exército passavam de casa em casa pedindo para que os moradores encontrassem abrigo longe da fumaça.

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O Centro Histórico, que já vivia ares de uma cidade-fantasma, ficou sitiado pela fumaça. Durante o dia, enquanto os bombeiros travavam uma verdadeira batalha contra a reação química que arde na imensa montanha de dez mil toneladas de nitrato de amônio, os moradores se protegiam como era possível – boa parte deles abandonando temporariamente o trabalho, as aulas, as casas, a cidade.

À noite, a Prefeitura de São Francisco, com apoio do Exército e da Marinha, deslocou os moradores dos bairros Rocio Grande, Acarí e do Centro. A evacuação acontece conforme mudam as direções dos ventos e as localidades são atingidas. As demais áreas de São Francisco estavam bem arejadas até as 22 horas. As praias do Capri e do Forte foram cobertas pela nuvem tóxica no primeiro dia, porém são áreas que não foram mais afetadas. A praia de Enseada também estava limpa durante a noite.

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Ruas vazias

Nesta quinta, no segundo dia de operações para debelar a fumaça, o comércio permaneceu com as portas fechadas, as aulas foram suspensas, os ônibus circularam vazios ou nem circularam e as ruas permaneceram desertas. Até o agitado Mercado Público, um dos pontos de encontro da turística cidade de 46,8 mil habitantes, ficou vazio.

A estimativa feita improvisadamente à tarde pelo prefeito Luiz Zera – de que só 20% da população havia deixado a cidade – foi superada à noite. Não é mais possível dizer onde está a população de São Francisco.

– Nossa orientação é para que não voltem por enquanto. Continuem fora até uma nova ordem do grupo que está trabalhando. Estamos garantindo a segurança das casas – disse o prefeito, ainda no fim da tarde de quinta.

Em vez de fiéis e funcionários públicos em busca de uma sombra, a praça central, entre a Prefeitura e a Igreja Matriz Nossa Senhora da Graça, serviu de heliponto durante todo o dia de quinta.

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A sensação de que o tempo parou só é quebrada pelo barulho do helicóptero e das viaturas da Polícia Militar e do Exército. Em frente à Prefeitura, onde estava a base da operação até o fim da tarde, era comum encontrar policiais usando máscaras em uma operação que não tem previsão para acabar.

Confira, na íntegra, o boletim oficial divulgado na noite desta quinta:

As fracas rajadas de vento dificultaram a saída da névoa na noite desta quinta-feira (26) em São Francisco do Sul. Com isso a nuvem de fumaça – resultado do incidente ocasionado pela reação de oxidação com liberação de gases e fumaça no armazém da empresa Global Logística na terça-feira (24) – acabou encobrindo outras regiões da cidade. Pelo menos 13 bairros foram atingidos na cidade.

Como forma de preservar a população, a força tarefa montada pela prefeitura em parceria com a Polícia Militar, Corpo de Bombeiros, Defesa Civil, Marinha e Exército, e outras autoridades, decidiram transferir as cerca de 200 pessoas que estavam no alojamento da Escola Estadual Claurenice Vieira Caldeira para o Instituto Federal Catarinense, localizado na cidade de Araquari, a cerca de 30 quilômetros do município.

Segundo órgãos da força tarefa, a medida é apenas uma forma de precaução, uma vez que não é possível prever ou controlar a natureza. De acordo com a Epagri Ciram, a falta de vento fez com que a fumaça se direcionasse para dentro da cidade. Na noite desta quinta-feira (26), por exemplo, o vento soprou de Sudeste para Leste, com rajadas entre 10k e 15km/h. A previsão para amanhã, sexta-feira (27), é que durante o dia continue da mesma forma e na parte da noite deve haver a entrada de vento na direção Nordeste, com velocidades que variam entre 20 e 25km/h, isso segundo a Epagri Ciram. De acordo com as autoridades essa velocidade do vento é baixa para dissipar a fumaça para fora do município.

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A orientação em relação a esta situação continua sendo a mesma. Pessoas que optaram em deixar a cidade devem permanecer fora até que possam retornar com segurança. A recomendação é que outros moradores que seguem na região, devem evitar contato com a fumaça e se manter em local arejado. Em caso de irritação nos olhos, na garganta ou qualquer outro mal estar, procure atendimento médico na UPA – Região dos Balneários.