Aos 26 anos, Carlos Sanchez arriscou tudo o que tinha para manter viva a empresa criada pelo pai. Vendeu os imóveis da família para quitar dívidas e garantir que a companhia fundada por Emiliano Sanchez na década de 1950 continuasse funcionando. A aposta deu certo. Aos 55, o empresário paulista chegou ao topo do mercado no país. A EMS, empresa de medicamentos que leva as iniciais do patriarca, é líder no setor há 11 anos consecutivos. O negócio de fármacos responde por 80% das vendas do Grupo NC, que em 2016 bateu
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R$ 4,2 bilhões em faturamento.
Sem medo de ousar, Sanchez também decidiu diversificar. É no mercado de mídia que o economista formado e pós-graduado pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP (FEA/USP) dá os próximos passos. A aquisição das operações da RBS em Santa Catarina faz parte da estratégia de desconcentrar os investimentos. E revela o interesse do empreendedor em conhecer por dentro o mercado de mídia. A NSC Comunicação, que a partir de hoje imprime uma nova marca no portfólio do Grupo NC, já nasce representando 10% do faturamento da companhia.
Atento à importância das novas tecnologias para se manter à frente dos concorrentes, o paulista de Santo André percorre o mundo em busca de tendências na ciência e projetos de inovação. Não à toa, 10% do faturamento do setor de fármacos vão para pesquisa e desenvolvimento de novos produtos.
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Essa caçada faz com que Sanchez passe pelo menos cinco meses do ano em viagem ao exterior. Diz que já pensou em morar fora do país, mas é apaixonado pelo Brasil. Vive em Campinas, a 20 quilômetros de Hortolândia, município onde fica a sede do Grupo NC. Quando está na cidade, o expediente no escritório começa sempre depois do almoço. Gosta de trabalhar à tarde e à noite – a jornada costuma se estender até 22h. Entre idas e vindas pelo mundo, promete ampliar o número de visitas a Santa Catarina.
Para 2018, diz que pretende organizar a agenda para isso. Além da paixão pelo mar, que ele assume, o Estado atrai o empresário pelo perfil econômico:
– É um Estado pujante, que vai crescer. Quando o Brasil voltar a crescer, Santa Catarina vai crescer mais que o Brasil.
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Editorial: O nosso compromisso com Santa Catarina
O setor de mídia atravessa uma fase de transformação, um período de grandes desafios. Por que investir nesse segmento?
Em 2008, quando o Brasil estava na crista da onda, decidimos não abrir o capital da EMS e continuar à frente da empresa. Naquele momento, a gente definiu como estratégia diversificar o grupo. Começamos a procurar áreas em que pudéssemos investir. Olhamos para os nossos negócios para entender o que havia em comum com outros mercados, onde poderíamos crescer. A partir disso, definimos alguns tópicos. Sempre atuamos em um mercado regulado, já que a indústria farmacêutica é muito regulada no Brasil. Então, olhamos para os setores de mídia e energia. A construção civil também não deixa de ser um negócio regulado. A outra coisa que a gente decidiu é que em áreas em que não tínhamos grande conhecimento precisávamos ter parceiros fortes. Eu não vou entrar em um negócio que eu não conheça sem ter um parceiro do setor que me ajude a administrar. Mídia sempre foi um negócio que nos interessou. Como indústria farmacêutica, sempre olhamos para o segmento de over the counter (OTC), que são aqueles medicamentos que não precisam de prescrição médica. É um setor que vende muito com mídia, e a gente nunca soube trabalhar. Ao invés de ir pelo lado mais fácil, que era arrumar um cara de marketing que soubesse fazer isso, decidimos entrar na mídia para ver como funciona por dentro. Então, apareceu uma oportunidade. Eu comentei com um amigo meu, o Lírio (Parisotto), que por sua vez é amigo do Nelson (Sirotsky) e ele nos colocou em contato. A gente teve empatia. Viu que era um setor no lugar certo, em um Estado pujante, que vai crescer. Quando o Brasil voltar a crescer, Santa Catarina vai crescer mais que o Brasil. Os parceiros eram bons, tanto a Globo quanto a RBS, que nos apoia até hoje, e havia um bom quadro de gestores, que era outra exigência nossa. Como a gente não era do ramo, tinha que comprar uma empresa funcionando. A partir daí, colocaríamos um pouco do nosso DNA.
Todo o setor de comunicação está sob o impacto das novas tecnologias, mas o jornal impresso parece enfrentar o maior desafio. Qual é a sua visão para o meio impresso e quais os planos para os veículos em Santa Catarina?
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Desde o começo, ficou claro que o maior desafio estava em jornal, porque é a mídia que mais está sofrendo. Eu não acredito que o jornal vá desaparecer, só vai mudar o jeito que é. Ninguém sabe como vai ficar, nem eu sei, mas de algum jeito vai continuar existindo. O que eu acho é que se você está no jogo, conforme vão aparecendo as soluções, você vai implementando. Quando se está fora do setor, vem a revolução tecnológica e passa por cima. Porém, quando se está jogando, você está atento ao que está acontecendo. Nós não compramos um negócio para fechar e nem para descomprar. A gente entende que é um momento difícil. E que por isso é preciso achar a equação financeira certa para o jornal se manter até que apareça um modelo ideal de atuação. Por isso, pretendemos ficar com os jornais. Já começamos a discutir com o Mário Neves e outras pessoas do setor quais são os caminhos, mas ele passa por continuar com a mídia jornal.
O senhor pensa em outras aquisições no segmento de mídia ou ainda é muito cedo?
Como somos afiliados da Globo, para fazer outras aquisições, a gente precisa da autorização. Primeiro, queremos concluir essa transição, que vai demorar pelo menos mais um ano. Então, podemos buscar novos desafios.
Na região Sul, além do segmento de comunicação, há outros investimentos em vista?
Além do setor de mídia, entramos no segmento de energia limpa. Por acaso, no Rio Grande do Sul. Nossas duas expansões foram em direção à região Sul. A gente comprou o Complexo Eólico Corredor do Senandes, que tem 108 megawatts em Rio Grande. Estamos trabalhando com uma licença ambiental para dobrar o tamanho do parque eólico. São investimentos por volta de R$ 400 milhões. Esperamos a aprovação da Secretaria Estadual do Meio Ambiente para fazer a ampliação e, então, disputar um novo leilão.
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Como fica a gestão da NSC Comunicação a partir de agora? O senhor pretende estar mais presente em Santa Catarina?
Tenho ido menos a Santa Catarina do que gostaria. No ano que vem, quero organizar a minha agenda para estar mais presente. Mas a ideia é que os profissionais controlem o negócio e eu atue como chairman do grupo, não como gestor. Para isso, eu não preciso estar lá, mas gostaria de ir mais. O presidente é o Mário Neves, nos damos muito bem com ele. Mandamos só uma pessoa para Florianópolis, que é o Guilherme Netto, diretor administrativo-financeiro da NSC Comunicação, para implementar o nosso sistema de gestão de custos e controle. O modelo é esse. A gente tem um conselho que controla, mas os executivos têm independência para atuar. Simplesmente definimos os caminhos estratégicos, o que a gente espera em termos de crescimento, lucratividade e linhas gerais do negócio. A execução é com o gestor.
Algo muda na linha editorial do grupo?
A princípio, não. A linha editorial vai se manter independente e com compromisso ético. Vai haver uma transição, mas o objetivo é fortalecer o jornalismo. A partir de janeiro de 2018, o comitê editorial vai estar totalmente sob o comando da NSC Comunicação. Pensamos em trazer uma pessoa de fora, que reforce o trabalho nesse sentido. Possivelmente, alguém com o perfil de consultor, com experiência na área.
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O investimento em inovação, pesquisa e desenvolvimento é importante para o Grupo NC. Como são os investimentos nesse sentido?
Hoje, somos a empresa de medicamentos que mais investe no Brasil em pesquisa e desenvolvimento. Aplicamos cerca de 10% do faturamento. É um volume importante. Hoje, temos mais de 400 pessoas trabalhando em inovação no Brasil. Nos Estados Unidos, há quase 100 pessoas, envolvendo as áreas administrativa, técnica e as empresas parceiras. Lá, temos a Brace Pharma, empresa fundada em 2013, que tem recebido US$ 300 milhões em investimentos. Hoje, o nosso faturamento é todo com produtos desenvolvidos por nós. Se eu não estivesse pesquisando, não teria produto. Em 2017, vamos faturar quase R$ 400 milhões em novos produtos. Já lançamos R$ 280 milhões, faltam ainda R$ 120 milhões para encerrar o ano.
Entre as viagens e reuniões, o que o senhor vê como futuro para a área de tecnologia?
Na semana passada, estive em São Francisco (EUA) em missão tecnológica. Levamos um grupo de 12 executivos e pesquisadores da empresa para discutir o futuro das tecnologias em geral e no setor de fármacos. Foi uma missão muito boa. Na semana anterior, eu estava em Nova York na Brace, na nossa reunião do conselho científico, que tem o prêmio Nobel de medicina Eric Kandel como membro. No Vale do Silício, vimos o avanço da inteligência artificial. Em cinco anos, muita coisa vai mudar, e a inteligência artificial será realidade. Penso na revolução com o carro autônomo e a internet das coisas.
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Como a família atua nos negócios do grupo?
Os acionistas do grupo somos eu e meus dois sobrinhos, Marcus e Leonardo. Éramos eu e minha irmã. Ela morreu e ficaram os dois como acionistas. O Marcus, além de fazer parte do conselho, tem função executiva na EMS. O Leonardo cuida de novos negócios. Tenho dois filhos, de 19 e 21 anos. Eles estão na faculdade. O Gabriel se forma em Economia no Insper. O Emiliano faz Farmácia na USP. Ele se chama Emiliano porque nasceu no mesmo dia do meu pai. Toda a família foi criada para trabalhar aqui dentro. A gente sempre trabalhou em conjunto. Como temos mais empresas que filhos, acho que dá para todo mundo. Quero ser um conselheiro atuante, mas estou cada vez saindo mais da linha executiva.
Qual é a receita do sucesso do Grupo NC?
É ousadia. A gente é ousado. A gente acredita. O empresário tem que agir independentemente das notícias e dos fatos negativos da política. O mercado existe e sempre vai existir, seja maior ou menor. Você tem os concorrentes e é preciso ser melhor do que eles. Por isso, precisamos ser ousados em primeiro lugar e excelentes. Se você for ousado e excelente, vai fazer um trabalho melhor que os outros. Isso leva ao sucesso.
Como o senhor vê o futuro da empresa?
Em dez anos, a gente acredita que será uma empresa internacionalizada, presente na Europa e nos Estados Unidos. Vamos continuar sendo líderes de fármacos no Brasil. Vamos ter um investimento em energia limpa importante no país. A gente decidiu, além dos negócios em que a gente atua, se concentrar na área de saúde. Em relação à mídia, veremos qual vai ser o futuro para avaliar se há espaço para crescer. Se tiver, vamos investir.
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Qual é a sua avaliação da economia do país? O Brasil volta a crescer em 2018?
A gente está voltando a crescer, mas em um ritmo de tartaruga. Quando voltaremos a crescer para valer? Acho que vai demorar. Agora, crescer 2%, 3%, depois da eleição, devemos voltar a ter esses índices. Só que o problema é que o Brasil, estruturalmente, está todo errado. Se não houver essas mudanças, ele vai continuar a ter esses voos de galinha. Quando cresce demais, começa a faltar energia elétrica, ou tem déficit na balança comercial ou a inflação avança e a crise volta. Se não tiver investimento em infraestrutura, nas rodovias, portos, aeroportos, a coisa não cresce. O problema é estrutural. Além disso, precisamos promover uma reforma na educação. Por que a Coreia do Sul deixou de ser um dos países mais pobres do mundo para se tornar uma das principais economias globais? Porque investiu em educação. Mudou a escola para valer. É isso que faz a economia crescer.