O enfrentamento ao racismo em todos os seus níveis é uma tarefa de todos. O recente episódio do tratamento dado pelo Brusque FC a uma denúncia de um jogador que teria sofrido ataques racistas durante um jogo da Série B do Campeonato Brasileiro, em que o clube chegou a culpar o atleta e depois voltou atrás com um pedido de desculpas, evidenciou o debate mais uma vez e a relembrou a importância de reconhecer atos, comportamentos e comentários ofensivos. Para o presidente do Conselho Estadual das Populações Afrodescendentes (CEPA), Márcio de Souza, o racismo só vai começar sumir de vez, quando a sociedade enfrentá-lo na sua essência, na sua natureza. Ele conversou com a CBN Joinville nesta terça-feira (31).
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— A sociedade, nas suas instituições, sejam elas sociais, sejam elas públicas, não compreendem e não atacam a natureza do racismo — destacou.
Além disso, o presidente do CEPA também chamou a atenção para o destaque negativo que Santa Catarina tem em comparação ao restante do Brasil. Segundo Márcio de Souza, somente em 2020 foram três mil notificações de crimes raciais no estado. Ele argumentou que se todas essas notificações de crime levassem os culpados para atrás das grades, o sistema penitenciário do estado seria sobrecarregado e faltariam muitas vagas. O presidente destacou ainda que – historicamente – o estado se apresenta com comportamentos culturais e comportamentais que são discriminatórios.
— Santa Catarina tem um projeto social de exclusão dos negros, indígenas e também no comentimento de crime contra as mulheres — apontou.
Vale destacar que racismo é crime, bem como injúria racial. Para o presidente do CEPA, muitos crimes que são claros exemplos de atitudes racistas, acabam sendo tipificados como injúria e os acusados acabam pegando penas leves ou, em várias situações, nem sendo punidos. Basicamente, racismo ocorre quando o agressor atinge um grupo ou uma coletividade inteira, discriminando uma etnia de forma geral. Já a injúria é o ataque a honra de um indivíduo específico, criticando sua raça, cor, etnia, religião ou origem. Márcio de Souza comentou que muitas pessoas encaram o racismo como uma situação não tão grave como ela realmente é.
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— Ele [racismo] parece ser, para aquelas pessoas que não sofrem, uma situação de administração, de conversa, de mediações e não de criminalização — comentou.
Márcio de Souza falou ainda sobre como ele acredita que a sociedade pode superar o racismo, que atitudes são necessárias e frisou a importância de as vítimas terem a coragem de dar o passo em direção à denúncia de agressões raciais.
Abaixo você pode conferir, na íntegra, o bate papo que foi ao ar no programa CBN Mais, com Jota Deschamps e Fernando Gonçalves.