Santa Catarina perdeu 584 leitos pediátricos ao longo dos últimos seis anos, o que representou queda de 34% nas vagas de internação para crianças e adolescentes de até 18 anos entre 2010 e 2016. Essa foi a segunda pior queda do país onde a redução foi de 19%. O Estado fica atrás apenas de Sergipe (-45%). O levantamento, feito pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) a partir do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES), do Ministério da Saúde, inclui leitos do SUS e de hospitais privados.

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– A redução do número de leitos tem um impacto direto no atendimento, provocando atrasos no diagnóstico e no início do tratamento de uma população que vem aumentando bastante – critica a presidente da SBP, Luciana Rodrigues Silva.

O presidente da Sociedade Catarinense de Pediatria, Edson Carvalho de Souza, diz que a falta de investimentos impacta na diminuição de leitos:

– A falta de leitos está diretamente relacionada às verbas disponíveis para aplicação na área da saúde. Há anos as tabelas do SUS não são reajustadas, impedindo a manutenção adequada dos leitos já existentes e dificultando a abertura de novas vagas.

Essa dificuldade de internação pediátrica em Santa Catarina levou o Sindicato dos Médicos de Santa Catarina (Simesc) a fazer um levantamento da falta de leitos na Grande Florianópolis no ano passado:

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– A gente chegou à triste conclusão que a população aumentou e que os leitos deveriam ter acompanhado esse crescimento demográfico, mas o que houve foi um decréscimo do número de leitos. Isso se explica até por ação do governo de desospitalização da criança, que é uma tendência mundial. Mas essa tendência é em países mais desenvolvidos, onde os pais têm conhecimento básico e poder aquisitivo para tratar, o que não acontece no Brasil – diz o presidente do Simesc, Vânio Cardoso Lisboa.

Florianópolis tem pior queda entre as capitais

Lisboa ainda cita que na prática médicos precisam optar por quem internar ou por superlotar as unidades para poder atender todos. Segundo o levantamento, Santa Catarina soma 1.150 leitos pediátricos. Florianópolis teve a pior queda entre as capitais. A cidade viu o número de leitos despencar de 77 para 36 nos

últimos seis anos, o que leva a uma redução de 53%.

A análise é da SBP, que também identificou que 40% dos municípios brasileiros não têm nenhum leito de internação na especialidade. Luciana destaca que viroses gastrointestinais, alergias, infecções respiratórias e pneumonia são doenças que contribuem para o crescimento da demanda por internações em todo o país.

A Secretaria de Saúde do Estado informou que está confrontando os dados apresentados e não se manifestou sobre o tema.

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Número de UTI neonatais está abaixo do recomendado

Em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) neonatais, estruturas necessárias para atender recém-nascidos em estado grave, a situação também é preocupante. No país, faltam 3,2 mil leitos, conforme parâmetro da Sociedade de Pediatria. Segundo a entidade, são necessários ao menos quatro leitos do tipo por mil nascidos vivos. A taxa atual no Brasil é de 2,9.

Em Santa Catarina o cenário é ainda pior: 2,42. Os 226 leitos de UTI neonatal são insuficientes para atender a demanda. No SUS, a taxa catarinense fica em apenas 1,5 leitos para cada 1 mil nascimentos.

– Os dados disponíveis indicam realmente uma diminuição dos leitos para internação, mas a dificuldade maior se verifica nos leitos altamente especializados – UTI e UTI neonatal – aponta Edson Carvalho de Souza.

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Para a presidente da SBP, Luciana Rodrigues, a necessidade do leito de UTI neonatal varia entre as diferentes regiões em razão do número de nascidos vivos, da qualidade da assistência pré-natal, da frequência de nascimentos prematuros e de baixo peso e também do tempo de permanência sob cuidados intensivos neonatais. Apesar disso, ela acredita que não há equidade na distribuição e no acesso aos leitos disponíveis, sobretudo no setor público.

– Se a gente quer cuidar do futuro da nação temos que cuidar da saúde e educação das crianças. E muitas vezes essas crianças ficam esperando para ter uma vaga para serem tratadas e atendidas de forma adequada – reforça a médica.

Confira o boletim de Felipe Reis: