Um levantamento do consultor Felipe Mattos, especialista em startups, a partir de dados da Associação Brasileira de Startups, mostrou que Santa Catarina tem a maior proporção de empresas desse tipo no país, o equivalente a 0,25 por grupo de 10 mil habitantes – uma para cada 40 mil. Em termos absolutos, ocupa o segundo lugar ao concentrar cerca de 20% das startups brasileiras, atrás apenas de São Paulo, que tem 28,5%. Para a pesquisa, foram entrevistadas 862 companhias.
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Entre as 10 cidades com maior concentração de startups, SC foi o único Estado a emplacar três: Florianópolis, Joinville e Blumenau. Na avaliação do presidente da Associação Catarinense de Empresas de Tecnologia (Acate), Daniel Leipnitz, os números são o resultado de décadas de história que envolvem diversos atores, e, mais recentemente, de um trabalho de interiorização do setor.
– Tem diversas iniciativas estruturantes do que chamamos de ecossistema. Tem o movimento do Startup SC, a Acate, os polos regionais que fazem trabalhos interessantes, o fomento do BRDE, iniciativas da Fundação de Amparo à Pesquisa, incubadores por todo o Estado. Além disso, Santa Catarina tem uma quantidade impressionante de universidades espalhadas pelo Estado que formam o capital humano necessário – explica.
Setor de tecnologia fatura R$ 11,4 bi por ano no estado
Segundo da Acate, hoje o setor de tecnologia catarinense conta 2,9 mil empresas, nem todas startups. O perfil é variado, mas boa parte delas se dedica a soluções B2B (comércio estabelecido entre empresas). Juntas, faturam R$ 11,4 bilhões ao ano e respondem por 5% do PIB do Estado.
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O rendimento médio anual por companhia é de R$ 5,4 milhões. Em Florianópolis, já é a atividade líder em arrecadação e gera quatro vezes mais receita que o turismo.
A expectativa, diz Leipnitz, é que em cerca de 20 ou 30 anos o setor tecnológico seja a principal fonte de receita no Estado, cenário que, segundo ele, vai demandar uma quantidade de recursos humanos que SC não dará conta de suprir.
– Se partir do pressuposto de que é uma economia que não existia há 30 anos, a gente tem certeza disso, porque toda a indústria tradicional vai ter que se transformar numa de tecnologia – afirma.
Ambiente atrai negócios de outras regiões do país
O ecossistema que se desenvolveu no Estado não só incentiva a criação de empresas daqui, mas traz outras de fora. É o caso da EPHealth, startup criada em São Paulo que veio para Florianópolis há um ano e meio.
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– Aqui está acontecendo muita coisa e a gente precisava estar neste meio de inovação. Foi uma aposta e os relacionamentos e contatos acabaram fluindo muito mais aqui do que se a gente estivesse em São Paulo — comemora o sócio-fundador do negócio, Pedro Marton Pereira.
Para ele, os diferenciais na Capital estão no ecossistema integrado e muito sinérgico, além do forte associativismo, com espírito de colaboração muito forte. Atualmente a EPHealth, que desenvolve plataforma de saúde preventiva, é umas das incubadas do MIDI Tecnológico.
Para o analista do Sebrae em SC Alexandre Souza, essas incubadoras são um dos fatores que explicam o bom resultado de Florianópolis, assim como de outras cidades do Estado. Para ele, o trabalho para chegar a esse cenário favorável ao empreendedorismo começou na década de 1990.
– Não é apenas uma ação, mas vários fatores. Tem muito empreendedor que aprende a cultura de startups e depois monta outra, por exemplo – diz.
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Mas o analista enumera alguns desafios para que o setor cresça ainda mais. O principal deles seria a falta de investimentos: é necessário difundir investidores-anjo pelo Estado, reforçar a cultura empreendedora ainda na universidade, assim como criar políticas públicas para facilitar a abertura de empresas, com mais incentivos e menos impostos.
– Densidade também é outro desafio. Precisamos levar para outras cidades essa cultura empreendedora e não ficar só em três polos – defende.